8 de agosto de 2013

Eu (nao) quero uma casa no campo...

Esta semana bombou no Facebook uma mensagem que se resume em:
1. eu trabalhava demais
2. minha vida era horrível, eu não tinha tempo para nada, principalmente para meus fihos
3. eu descobri a vida no campo, meus filhos tem quintal e não ficam na internet o dia todo
4. hoje eu sou feliz e não volto nunca mais
5. quem não faz isto é porque ainda não achou o caminho da felicidade

Não sou contra este processo, alias, se isto é o que vai te fazer feliz, que bom! Boa sorte, e bora plantar pitanga!

O que eu tenho dificuldade de entender é a relação entre estas coisas. Sim, trabalhar como um condenado e não ter tempo para nada é horrível mesmo. Mas a culpa disto é do fato de que você trabalha demais, e não do fato de que você mora na cidade.



Já é fato comprovado que viver em cidades grandes promove novas idéias, oferece maiores opotunidades de cultura, diversao, crescimento pessoal. Sim, tem o transito insuportavel, e a poluicao. Mas e o acesso às boas escolas, aos grandes restaurantes, aos cinemas, teatros, livrarias?

A esta altura ja ficou claro que eu nao sou fa da vida do campo. Sou engenheira eletricista e professora. Amo meu trabalho, e sei que, morando em uma fazenda, minhas opcoes seriam limitadas e provavelmente insatisfatorias. Abandonar meu emprego, do qual eu gosto e me orgulho, para plantar batatas (literalmente) seria com certeza um motivo de tristeza profunda para mim, nao de alivio.

Entendo o chamado da fazenda idilica entao como um sonho de paz, tempo e felicidade. Uma lembranca dos passeios da infancia que nossa geracao teve, em fazendas bem cuidadas, onde a gente só brincava. Ser dono de um sitio hoje, como qualquer pessoa que tem um sabe, significa controle de pestes, água e culturas. Muito trabalho, acordando cedo. Falta de coisas básicas, como bons sistemas sanitários, assistência médica emergencial e itens abundantes de alimentaçao e higiene.

No livro ¨59 segundos¨, diversos estudos cientificos sao citados para ajudar a melhorar sua vida consideravelmente, com dicas que podem ser colocadas em pratica em 59 segundos. Neste livro eu aprendi que o simples fato de observar uma planta de plastico ja melhora o humor das pessoas de um escritorio. Reparem bem: de plastico!

Estar ao ar livre faz bem para nos, seres humanos desenvolvidos na savana, onde verde significava abundancia, agua, provavelmente comida, sombra e agua fresca. Ate hoje associamos a cor verde com coisas boas e felizes, e o vermelho (do sangue e do fogo) com coisas perigosas e ruins.

Por isto, nao estou dizendo que os ares do campo nao trazem felicidade. Trazem sim! Eu e minha familia adoramos passar feriados em hoteis fazenda, e ir ao Minas Country nos finais de semana. Mas, para ser feliz, eu nao preciso mudar para lá, e abrir mao da tecnologia, do conforto, da energia pulsante das grandes cidades.

Para acabar com o stress com o transito, o trabalho, a falta de tempo e o barulho dos carros a noite, eu preciso escolher minhas prioridades, no aqui e no agora. Mudar para o campo só iria me fazer estressar com as formigas, o mofo, a falta de banho quente e o barulho das cigarras a noite inteira.

PS: me pergunto o que os filhos, que ficaram sem internet, amigos, escola de qualidade, ingles e natacao acharam desta escolha.

6 comentários:

  1. Ficou ótimo seu texto de hoje.
    Creio que esta nostalgia pelo campo (moda de viola raiz, meu boi, etc) tem um componente reacionário que implica em "antigamente era melhor", uma resistência ao novo, ao repensar, ao mudar de idéia e, em última análise, ao pensamento científico. O que são tubos de ensaio contra a milenar sabedoria chinesa?

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    1. Concordo também. Hoje ouço meus colegas (professores) reclamando que os alunos nunca viram um livro de papel na vida. Acho que eles esquecem do trabalhão que dava procurar QUALQUER informação. Quer saber a capital do Butão (Thimphu, 50.000 habitantes)? Vai na biblioteca, acha um Atlas, reza para ele estar atualizado, copia os dados na mão (ou entra na fila enorme do Xerox)... muuuittoooo bom mesmo. :)

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  2. hahãmmm....chegou aonde eu quis. Taí. Eu amo a vidinha do campo e gostaria muito de estar vivendo em alguma comunidade, cheia de verde, com montanhas e pessoas do bem e de bem.

    Mas serei melhor do que vc, por preferir viver assim? Claro que não. Faça esta diálise entre o parto vaginal e o cesareano. Somos todos iguais, apenas pensamos e desejamos diferente. Sou blogueira e amo escrever.

    Abraços

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    1. Oi, Jussiara.

      tô morando na cidade grande, cheia de pessoas do bem e de bem também... :) Tenho vários amigos, e não acho que o capim torna ninguém melhor (latifúndios, extermínio de indígenas, ...)

      Não acho que o campo é melhor ou pior que a cidade grande. E minha crítica é às mensagens que dizem o contrário: que a cidade é horrível e que a vida no campo sim é que é boa.

      Concordo com você que são estilos diferentes de vida, cada um com suas vantagens e desvantagens. Cada pessoa vai se adaptar a elas melhor ou pior.

      Mas discordo que é igual à cesárea. Meu médico não me diz que minha vida e do meu bebê corre risco se eu não me mudar para o campo às 3 da tarde na quarta-feira. Que eu vou apanhar de vara até ficar de cama ao me mudar para o campo. A indústria da saúde não ganha uma grana danada por eu me mudar para o campo.

      Enfim, respeitar que alguém pensa diferente de mim não significa não contestar esta escolha diferente. Significa não julgar mal a pessoa por isto, e tratar a opção dela com dignidade. Mas não significa aceitar que "todo mundo está certo".

      Abraços,
      Ana

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    2. ana, apenas eu quis dizer que, enquanto muitos amam, se sentem mais felizes, mais pessoas, mais do bem, morando no campo, vc prefere ficar na sua, morando na cidade e sendo tudo isso acima.

      Eu vivo em um grande metrópole, gosto até pois estou com minha família mas tenho uma casinha de praia, bem bucólica e gosto de passar longasss temporadas. Já tive a vontade imensa de largar tudo e ir morar no mato mas depois, analisando, eu vi que eu posso viver aqui e lá, com qualidade de vida. Então, ambas as opções estão me fazendo bem. Pode ser igual a via de parto. No meu caso, eu não tive e nm tenho e nunca terei grilos, pelas minhas cesas e acredite, eu faço a apologia ao parto vaginal, no vilarejo aonde tenho casa mas a turma só quer cesárea. Aí me preocuupa. Sabe pq? Pq falta a informação necessária e essa busca desvairada pela cesárea, é devido aos maus partos. Mas no meu caso, não. Eu quero deixar bem claro o seguinte; uma mulher bem informada, pode e deve decidir pela via de seu parto.

      Abraços

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  3. Ana, concordo que os dois (Campo e Cidade) tem vantagens e desvantagens...
    mas a sua idéia de Campo esta um pouco radical. Não sei qual o seu "Campo" de referência...mas os que eu conheço tem banho quente, internet e muitos amigos! ;)

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