26 de julho de 2012

Hitler também tinha mãe

Ser uma boa mãe é muito difícil atualmente.

Não quero dizer que antigamente era mais fácil (basta lembrar que não existiam fraldas descartáveis), mas atualmente é muito tenso, dada a quantidade de regras, riscos, teorias. Acaba se tornando impossível para qualquer mortal seguir todas as recomendações.

Participei de um encontro de mães, onde a palestrante disse com todas as letras: "Nossa responsabilidade é muito grande; se vocês pensarem bem, Hitler também teve mãe." Fiquei chocada, imaginando se ela achava que a mãe do Hitler, coitada, era a única culpada pelas atrocidades do filho. Desprezando o momento histórico, a personalidade do próprio, os fatores culturais.

Tem horas que a gente se sente bem assim: ou fazemos tudo absolutamente certo, ou as consequências serão terríveis. O bebê tem que dormir de barriga para cima, ou irá morrer de síndrome da morte súbita do infante. A cadeirinha do carro tem que ser a aprovada pelo Inmetro, com protetor lateral para a cabeça, mais a almofadinha de pescoço, mais o espelhinho para não tirarmos o olho do bebê. A mamadeira com sistema anti-refluxo deve ser dada inclinada, para não dar cólicas no bebê, nem ele vomitar, pois pode aspirar e ter pneumonia. As roupinhas não podem ter laço maior do que 10cm, nem botões nas costas, nem elástico de nenhum tipo, devem ser de algodão para não atacar a dermatite atópica. Os brinquedos não devem ter peças pequenas, ou partes soltas, nem o antigo apito existe mais, por causa do risco da criança sufocar.

Tintas, parquinhos, brinquedos, tudo deve ser atóxico, lavado com sabonete anti-bactéria e desinfetado com álcool gel. E a gente não relaxa. A qualquer momento, o erro fatal pode transformar aquele bebezinho fofo em... bom, vocês sabem quem.

Vocês sabem quem...

Eu não estou dizendo que a gente não devia prestar atenção à segurança de nossas crianças. Cadeirinhas de carro salvam milhares de vidas no mundo inteiro. Vacinas e redes nas janelas são fundamentais para evitar catástrofes com nossas crianças.

Mas ser uma boa mãe não devia ser julgado pelo fato de que sua casa está coberta de protetores de quina de mesa, e que seu filho usa joelheiras para engatinhar. Pequenos e médios acidentes vão acontecer, e as histórias deles farão parte de quem seu filho será.

Aprender a pular do sofá para o chão vai ser fundamental para criar nele a auto-estima para um dia subir o Pico da Bandeira. Brincar na areia da pracinha (mesmo com os cocôs de cachorro e xixi de gato de rua) vai ajudar o sistema imunológico dele a desenvolver defesas. Deixar seu filho na casa de outra pessoa sem a lista de coisas que ele come pode fazer com que ele experimente novidades. Aliás, deixar seu filho na casa de outra pessoa; coisa cada vez mais difícil de acontecer, por causa de todas as restrições que achamos que nossos filhos precisam para estarem seguros.

Viver, como diria Guimarães Rosa, é muito perigoso. Mas é o único jeito de viver de verdade. Vamos ser mais mãe e menos polícia, dar mais carinho e ouvir menos conselhos, ler menos revistas sobre Pais & Filhos, e mais histórias em quadrinhos.

Não existe regra para ser feliz.

24 de julho de 2012

Terminando o namoro... com a empregada


Uma onda de troca-troca de domésticas está em curso em Belo Horizonte (é onde eu moro, se você também está vendo este fenômeno na sua cidade, nos conte nos comentários!).

Não identifiquei a causa ainda, mas tenho alguns suspeitos: a novela onde as Empreguetes pedem demissão em busca de vida melhor; a melhora de vida das classes C e D; o aumento do número de empregos devido ao crescimento econômico.

Não me entenda mal, acho isto tudo ótimo (tá, a novela nem tanto). Sempre acreditei que todos merecem uma vida digna, e me incomoda profundamente a herança escravocata que a doméstica carrega no nosso país.

E assim, a minha doméstica pediu demissão em troca de um emprego onde ia ganhar mais e trabalhar menos. Até aí, disse a ela, boa sorte, seja feliz, e tratei de arrumar outra dentro do aviso prévio dela. Tudo trivial, exceto... O que eu senti. E, conversando com amigas, vi que não era a única.

Passei pelas 5 fases do Luto: raiva, recusa, negociação, depressão e aceitação.

Na época que ela pediu demissão, minha bebê estava com coqueluche, minha mais velha com amigdalite, eu tinha um evento da empresa para 200 pessoas na semana seguinte, e eu também estava doente. Me senti com muita raiva, traída, abandonada.

Meus pensamentos eram: "Mas o que foi que eu fiz para merecer isto?  Ela nem me deu chance de conversarmos para tentar resolver... Eu achei que estava tudo bem, eu gostava tanto dela!"

Sim, parece familiar, porque a verdade é que eu tinha tomado um fora da minha empregada. Depois de um ótimo relacionamento de 11 meses, ela me trocava por outra. No sábado em que ela foi fazer um teste no novo emprego, passei o dia ouvindo e cantando "She's not me" da Madonna, torcendo para não dar certo.

She's not me,  (ela não sou eu)
She doesn't have my name, (ela não tem meu nome)
She doesn't have what I have, (ela não tem o que eu tenho)
It won't be the same. (não vai ser a mesma coisa)
-- She' not me , Madonna, disco Hard Candy

A fase seguinte, todos sabemos, é a da recusa. Comecei a achar que não tinha outro emprego, que ela só queria aumento. Entrei de sola na negociação: "E se a gente reduzisse seus horários? E se ela cozinhasse dia sim, dia não?" 

Mas ela estava irredutível. Não era eu, era com ela. Ela precisava de espaço para saber o que queria fazer da vida. E ela se foi.

Passei para a depressão. Mesmo depois que a outra já estava aqui em casa, à noite eu reclamava, "quero ela de volta"... Tudo que a nova fazia, eu comparava com a antiga. Nada estava bom, não era "do jeito dela".

Mas o tempo é o melhor remédio. Mais algumas semanas e já estava me acostumando com a idéia de que viveria sem ela, bem. Comecei a reparar como a nova era atenciosa, cuidadosa. Como ficou do meu lado no momento que eu precisei. Mas não ia deixar acontecer de novo, me protegi, fiquei distante.

E então, recebi uma mensagem no celular. A ex, perguntando como eu estava, que gostava muito de nós, que sentia saudades. O que aquilo queria dizer?? Ela queria voltar? A nova patroa sabia que ela me mandava esta mensagem? Eu poderia confiar nela de novo?

Fiquei um final de semana cogitando opções, inclusive a louca possibilidade de ficar com as duas. Mas não tinha jeito, elas não iam se dar bem nunca! Eram muito difentes. E, entre as duas, para minha surpresa, eu preferia a nova. Sem querer, aos poucos, eu já gostava dela. Não tinha a experiência da antiga, mas era confiável, gostava de mim, e eu estava feliz com ela.

Na segunda, ela me ligou, dizendo que não tinha dado certo no novo emprego. Se eu sabia de alguém que precisava dela. Falei que, se soubesse, avisaria. Desejei de novo que fosse feliz, desta vez, sinceramente. 

Tinha terminado, finalmente, nosso relacionamento.

A heroína

OBS: apesar de falar de vários filmes neste post, PROMETO que não vou contar detalhes deles, para não estragar a surpresa.

Vi "Valente" este final de semana com minha filha Alice (6 anos).


A reação dela ao filme foi de incompreensão. Ao sairmos do filme, ela me perguntava: "Por quê aconteceu isto?", "Por quê ela disse aquilo?", "Por quê, por quê, por quê?" E mesmo que eu explicasse, ela continuava sem entender.

O filme tem um roteiro confuso, sim, mas acho que a principal causa para a confusão de Alice foi a personalidade da personagem principal (cujo o nome ninguém conseguiu decorar, algo tipo Merlinda, Merida, Mervida).

Descobri há algum tempo, vendo dois filmes ma-ra-vi-lho-sos, "Ponyo - Uma amizade que Veio do Mar" e "A Viagem de Chihiro" (ambos do mesmo diretor), que a reação de Alice aos filmes tem muito mais a ver com o humor da personagem principal do que com o roteiro.

Chihiro - Tenso e Assustado
Ponyo - Delicado e Alegre


Em ambos, a heroína da história é uma menina, que vive em um mundo fantástico. Momentos tensos e perigosos acontecem, mas o que a heroína sente é completamente diferente. Enquanto Chiriro está tensa, assustada, Ponyo se diverte o tempo todo, mesmo quando está sob ameaça. Chihiro vive um pesadelo, Ponyo uma aventura.

E Alice se sente da mesma forma. ADORA Ponyo, já viu várias vezes. E não suporta assistir a Chihiro. Fica com medo, triste. Viu uma vez até a metade e desistiu.

Este, eu acho, é o problema com "Valente". Merida (olhei no Google) é uma adolescente em crise, confusa, nervosa, meio chata. O que ela passa durante o filme é uma grande punição, de um crime que ela acha que não cometeu. O dilema inicial (ela tem que se casar com quem os pais escolhem) diz muito pouco para a nova geração. Se ela estivesse se divertindo (como a Rapunzel no excelente "Enrolados"), o filme ainda passaria. Do jeito que está, saímos todos muito decepcionados.

Esperava encontrar uma versão infantil para o excelente "Branca de Neve e o Caçador" pelos motivos  que eu comento aqui, mas acabei apenas sentindo falta de Steve Jobs. A grande mente por trás da Pixar provavelmente não deixaria um filme destes sair assim.

E você, viu o filme? O que achou?

PS: para uma análise muito bacana do papel fundamental dos Contos de Fadas na formação de nossas crianças, recomendo o excelente livro "Psicanálise dos Contos de Fada" de Bruno Bettelheim. Uma das coisas bacanas neste livro é mostrar como a figura da mãe deve ser dividida em duas (bruxa má e fada boa) para que a criança possa elaborar a raiva e o amor que sente pela própria mãe. Outro ponto em que "Valente" escorrega, fazendo que a minha filha tenha ficado com muito medo da figura materna do filme.


21 de julho de 2012

A Irresistível Beleza do Ser

Em homenagem à todos aqueles que acreditam que 
para todo pé torto existe um chinelo velho.

Dois motivos constantes de atrito entre homens e mulheres, para mim, tem uma raiz comum: a beleza irresistível. São eles: a obsessão que mulheres tem com sapatos, e a mania que homens têm de olhar para outras mulheres.

Tudo fica mais claro, se pensarmos que, para nós, mulheres, ver um par de sapatos é exatamente como ver um par de seios, para os homens. Eu posso explicar.

Estes dois tem mais em comum do que você imagina...

O primeiro ponto em comum é que, mesmo tendo um par absolutamente satisfatório em casa, você não resiste a olhar para um par na rua se ele for bonito.

Seios e sapatos existem de todas as formas, tipos, cores. Mesmo que você já tenha visto dezenas, sempre vai ser interessante conferir aquele novo, único exemplar. O bico um pouco mais pontudo, o formato mais arredondado.

Se você pudesse, levaria a maior quantidade possível deles para casa; mas sabe que isto irá consumir grande parte do seu tempo, do seu espaço e do seu dinheiro. E você imagina (mas jamais saberá), que se tiver tantos em casa deve acabar enjoando.

É absolutamente irresistível olhar uma vitrine cheia deles. O que explica o ódio dos homens em shoppings centers. Imaginem vocês se a cada duas lojas, tivesse uma vitrine cheia de seios? Quantos homens iam reclamar de ir no shopping? Quantas horas eles passariam simplesmente "vendo vitrine"?

A beleza irresistível faz você perder o assunto no meio da fala. Virar a cabeça para continuar olhando, mesmo quando o objeto belo já está ficando para trás. Pensar por dias, e se? E sempre tem "aquele", o perfeito. Alguns sofrem porque ele escapou de última hora, e passam a vida comparando os outros a ele, na esperança de encontrá-lo novamente. Alguns, poucos, sortudos, levaram para casa o grande prêmio.

E anos depois, mais velhos, ainda são os preferidos. Podem não ter o brilho e a novidade de um par novo, mas são confortáveis, e ainda belos. Sempre serão, pois não é possível se acostumar à beleza irresistível.

20 de julho de 2012

Cupcake da Amizade

Depois de dois meses trancada em casa com A Sindrome da Mãe Trancada Em Casa, me matriculei em uma aula de Cupcakes.

Era mais uma desculpa para sair de casa, ver outras pessoas, e, ainda por cima, comer bolo! Não tinha como não dar certo!

Eu que fiz!!! O Cupcake ficou ótimo, a foto ficou um desastre...
E deu certo mesmo! Conheci duas pessoas super legais, e uma delas, na maior coincidência do mundo, mora no prédio em frente ao meu.

Dica para todo mundo: se você quiser conhecer pessoas interessantes, matricule-se em um curso sobre algo legal perto de você. Na pior das hipóteses, você aprende alguma coisa. Na melhor, faz amigos também. E dica 2: deixe o smartphone em casa. Não ter a desculpa de checar e-mail ou jogar Angry Birds te obriga a conversar com quem está do seu lado.

Hoje o post vai ser minúsculo, porque cheguei super tarde do curso. Mas adorei!!

PS: para quem vem acompanhando minha saga, Rosa ficou em casa com meu marido quatro horas e ele conseguiu fazer ela mamar 120ml de mamadeira! Alegria total que minha filha não vai passar fome na escolinha! Mais um ponto para o curso!

NOVIDADE: Devido aos numerosos (dois) pedidos, segue a receita do cupcake da foto! Receitas da profa. Marina Custódia Pereira do IGA.

Massa de Chocolate
Ingredientes: 1 ovo, 200ml de leite, 1 xic açucar, 60g de chocolate em pó, 100ml de óleo de canola, 180g de farinha de trigo (peneirada), 6g de fermento em pó, 1 pitada de bicarbonato de sódio.


Modo de fazer: 
Isto é um fuet. Você sabia? Eu não...
1) Em uma tigela, misture o chocolate, a farinha, o fermento, o bicarbonato e reserve.
2) No liquidificador, misture o leite, o ovo e o óleo. Misture o açúcar e bata de novo até ficar homogêneo.
3) Verta esta mistura na tigela dos ingredientes secos e misture bem até obter uma textura uniforme com o fuet.
4) Coloque em forminhas para cupcake (ponha a forminha de papel dentro da forminha de metal ou silicone, e ponha a mistura dentro), até atingir 2/3 da forminha. Leve para assar em forno médio (180oC) pré-aquecido (te peguei, né? era para te contar isto no começo da receita, para você já ligar o forno), por 15 a 20 minutos.

Detalhe legal: para saber se o cupcake está pronto, nada de enfiar palito nele! Aperte o da frente e o de trás com o dedo indicador. Se ele afundar e voltar, igual borracha, está pronto. Se afundar e ficar, mais forno! Legal, né?

Agora o Recheio Trufado:
Ingredientes: 200g de chocolate ao leite Nestlé, 200g de chocolate meio amargo Nestlé, 100g de creme de leite (1 latinha com soro), 2 colheres de sopa de rum (pode ser uísque, ou conhaque, ou café).

Modo de fazer:
1) Pique os chocolates e derreta-os em banho maria (dica importante: a água do banho maria não deve ferver, apenas começar a aparecer bolhinhas. Desligue o fogo neste ponto e tenha paciência). Misture bem.
2) Acrescente o creme de leite e o rum até obter uma mistura homogênea.
3) Utilize com o auxílio de um saco de confeitar.

Por fim, como fazer tudo ficar junto e bonitinho:
(Precisa de chantilly, saia para cupcake e mini-confeitos)
1) Corte a tampa do cupcake se ele tiver ficado muito torto.
2) Se for rechear, faça um buraco no meio com uma faca (tamanho de tampinha de refrigerante).
3) Coma este pedaço que cortou (ok, este passo sou só eu que faço).
4) Encha o buraco com o recheio, e continue passando por cima do cupcake, usando a faca ou um saco de confeitar para ajeitar.
5) Jogue os mini-confeitos por cima.
6) Use o saco de confeitar para fazer uma gota com chantilly.
7) Coloque a saia para cupcake.
8) Coma com a boca mais boa do mundo!!!

Qualquer dúvida, me escrevam que eu esclareço detalhes!

18 de julho de 2012

Paraíso, Peitos, e outras histórias

Em Agosto eu volto a trabalhar.  Em Agosto, minha filha Alice (6 anos) volta para a pré-escola depois das férias. Em Agosto, minha filha Rosa (5 meses) começa a ir para o berçário. Até lá, tenho dois desafios: Não enlouquecer com a Alice em casa o dia inteiro, e fazer a Rosa tomar uma mamadeira.


Faço parte de um grupo de mães, excelente, chamado "Padecentes no Paraíso". Sao mães da minha cidade (Belo Horizonte, MG) que trocam idéias, conselhos,  histórias. Adoro o grupo e suas participantes. Só  queria que uma coisa fosse diferente: o nome. Para mim, o Paraíso é o lugar onde você é infinitamente feliz, por definição. Padecer no Paraíso só tem uma explicação: é o paraíso dos outros, não o seu.

E em nenhum momento o Paraíso é mais dos outros do que nas férias. Depois que me tornei mãe, nunca mais, nunca mais mesmo, tive férias onde o objetivo principal era eu ficar feliz. Eu paro de trabalhar dando aulas, é verdade, mas continuo de plantão, trocando fralda, dando jantar, fazendo e desafazendo mala, acordando de madrugada para dar de mamar e de manhã cedo para levar na "Oficina de Massinha" ou no Zoológico.

Alice no Paraíso, ups, Zoológico


Porque eu quero que as férias da minha filha sejam legais. Eu tenho consciência de que trancar a menina em casa por 30 dias, jogando videogame e vendo TV, não deve ser saudável (não que ela fosse achar ruim). Então saio de casa, arrastando a nenê de 5 meses e 125kg de tralha: carrinho, canguru, milhões de fraldas, roupinha de frio, de calor, outra se sujar a primeira, chocalho, paninho e duas mamadeiras.

Este último ítem é absolutamente inútil. Rosa se recusa, com ferocidade, a mamar na mamadeira. Já tentamos diversos bicos (MAM, Nuk, Avent e Tommy Tipee), conteúdos (leite de peito, NAN, Aptamil), diversas temperaturas (morno, frio, quente), e nada. Ao encostarmos a mamadeira nos lábios dela ela entra no modo exorcista, e não há o que faça ela sequer experimentar. Aí, meu peito vai parar na Medina: já amamentei no clube, na praça da Assembléia, em todos os Shoppings, hoje foi no Sesc Palladium e no Museu da PUC. Meu peito já está mais conhecido que o Tiririca.

E várias pessoas vêm me dar parabéns pela amamentação: "É um momento mágico! Não é ótimo?" Vou ser polêmica agora, mas eu, no momento, realmente gostaria que Rosa tomasse mamadeira. Acho que ela vai sofrer demais ao chegar na escola e não ter nem este conforto... Queria de verdade que ela estivesse feliz e bem com a mamadeira. Fico com o coração partido de pensar nela chorando de fome, no colo de uma pessoa estranha.

Em 15 dias, Alice volta para a escola e Rosa irá chorar até aprender a mamar na mamadeira. Eu volto a trabalhar, dando aula. Mas, daqui a cinco meses, inacreditavelmente, vou esquecer todos estes problemas, e vou lembrar só da carinha da Alice pulando no Zoológico. Vou estar aguardando ansiosamente as próximas férias, para continuar padecendo.

E você, como lidou com estes desafios? O que fez com seus meninos nas férias? Tem algum truque para ajudar a desmamar?


17 de julho de 2012

Síndrome da Mãe Trancada em Casa

Muito pouco divulgada, mas conhecida de toda mãe, a "Síndrome da Mãe Trancada em Casa" (SMTC) caracteriza-se pela vontade irresistível de contar sua vida inteira para o primeiro adulto que você encontra.

Síndrome da Mãe Trancada em Casa (SMTC)


Ficar trancada em casa com um bebê, na rotina fralda-mamadeira-arrumação-banho-repete enlouquece qualquer criatura, por mais sã que ela fosse inicialmente. A oportunidade de ter uma conversa "de verdade" é rara, então, quando aparece, a vítima da SMTC dispara.

Já encontrei muitas mães (já fui e sou uma delas) com SMTC. Quando minha filha Rosa teve Coqueluche, tive um caso gravíssimo de SMTC, pois ela não podia sair de casa, e só mamava no peito. Minhas crises incluíram contar todos os detalhes da doença dela para a moça do caixa de supermercado; quantas horas ela dormiu sem tossir para a atendente na farmácia; discutir em detalhes o ganho de peso dela com o síndico no elevador. Qualquer adulto que passasse a menos de 5 metros de mim tinha que receber um relatório completo de quantas vezes ela mamou, fez cocô ou quantas horas dormiu.

Mas nunca tinha visto um homem com SMTC (SPTC?); até recentemente. Estava indo na Baby (loja de roupa de?...) à pé, levando minha filha Rosa (3 meses) no canguru, quando um completo estranho me abordou, dizendo: "Tenho um canguru igual à este para o minha filho." Eu sorri, e disse: "É mesmo?". Foi a abertura que ele precisava para deslanchar.

Ele também estava indo para a loja, e fomos caminhando juntos. Em dois, repito, DOIS quarteirões, fiquei sabendo que: ele é restaurador de obras de arte, a mulher dele é professora; o filhinho deles tem 2 meses; ele estava indo comprar lençóis para o berço porque o menino fazia muito xixi à noite; o mercado de restauração é muito melhor em São Paulo do que aqui, porque, embora em Minas existam muitas obras, o dinheiro para investir é bem menor; ele que fica com o bebê em casa porque trabalha por empreitada, enquanto a mulher tem horários mais rígidos. E mais uns duzentos detalhes da vida dele e do bebê.

Durante o tempo em que ele falava, sem parar, eu me solidarizava com o que ele sentia. É muito difícil dedicar-se a uma criatura sem dividir. É muito difícil, para quem se acostumou a ter conversas com retorno, passar o dia inteiro praticamente calado, ou falando: "Cadê o bebê? Olha o dedinho... Vamos trocar a fralda?". O cérebro parece que entra em abstinência, você fica seco por uma conversa madura, ou, que, pelo menos, não seja dita em vozinha fina.

Então, em nome de todos os afligidos, peço desculpas aos civis (principalmente os sem filhos), e peço sua simpatia e ajuda. Quando encontrar alguma pessoa com SMTC, sorria, escute o que ela diz (pode demorar um pouco), fale da última fofoca, e lhe dê um abraço. Esta pessoa está muito, muito solitária, e você pode fazer a diferença.

E você, já teve seu momento SMTC? Conte para nós nos comentários!

PS: Se você quiser saber quando eu posto um novo texto, inscreva-se no site, colocando seu e-mail na caixinha ao lado e clicando em "Submit". :)

13 de julho de 2012

Comédia Romântica, Branca de Neve e o feminismo

Assisti a três filmes nos últimos tempos no Netflix, com histórias bem diferentes, mas morais bem parecidas: "Presente de Grego" ("Baby Boom", 1987), "E se Fosse Verdade" ("Just Like Heaven", 2005) com a Reese Witherspoon, e "Voando Alto" ("View from the Top, 2003), com Gwyneth Paltrow. Todos são categorizados como "Comédia Romântica", ou seja, filme para mulher arrastar o marido/namorado/ficante para ver.

Carreira ou familia???



Histórias de fundo à parte, todos os filmes se baseiam em mulheres que se dedicam profundamente à carreira (elas são uma executiva, uma médica e uma enfermeira). E tem que escolher entre a vida pessoal/amorosa e esta carreira. Embora todas sejam extremamente bem sucedidas em seus ramos,  desistem de tudo pelo amor.

Desculpe-me se isto estraga os filmes para você, mas isso era meio óbvio, não? E este é o problema, o fato de que é ÓBVIO que uma mulher deve desistir de sua carreira e de suas aspirações para ser feliz, e completa. Que o que uma mulher precisa mesmo, não é ganhar dinheiro e ser bem sucedida, é criar filhos e ter marido. E eu comprei esta idéia. Basta ver meu post Carta Para Mim Mesma aos 36 Anos, onde eu conto como decidi ser feliz criando minhas filhas e trabalhando meio horário apenas.

O problema não é a idéia, é a total prevalência dela. Não existe (que eu saiba) um único filme onde a escolha da carreira para a mulher é vista com bons olhos. Existe uma associação chamada Miss Representation , que batalha para diminuir o sexismo na representação da mulher. Um dos lemas deles diz que "Você não pode ser o que você não vê". O modelo que vemos na mídia é este, e somente este. Mulheres poderosas são pouco representadas, e quando são, geralmente isto é uma coisa ruim (vide "O Diabo Veste Prada", e os "101 Dálmatas", citando dois com a Glenn Close*).

Neste sentido uma rara exceção é o recente "Branca de Neve e o Caçador". Não vou estragar o filme (porque este é recente), mas adianto que o papel da Branca de Neve não segue este padrão. Concordo com um excelente comentário no IMDB (em inglês no original, tradução a seguir) que diz:
An Artful Analysis of Femininity, Not a Bed Time Story2 June 2012
Author: portunhol_26 from United States
...

The Evil Queen (played perfectly by Charlize Theron) is very appropriately symbolized by a raven: a carrion bird that feeds off of death for its own benefit. Her beauty is objectified...
She is particularly threatened by and benefits the most from the beauty of other women. She also obsesses about youth...
Snow White is the flip side of the same coin. She is beautiful without being objectified. She has no symbol but is almost portrayed as Mother Nature incarnate. She inspires, nurtures and heals. Instead of feeling threatened by the beauty around her she reveals in it. She brings out the best in others. It is clear that she does not need anyone to tell her that she is beautiful in order for her to feel that way...
This Snow White is refreshing because she is not a sex toy defined by her beauty. Though she is aided by men she is certainly not defined by them or helpless without them. She is also aided by other women for that matter. She knows who she is and struggles to realize her potential as best she can...
Her self-realization does not come at the cost of anyone else's, in fact, as she becomes freer so do all those who surround her. She does not need someone else to feel smaller for her to feel better. It's a wonderful message.
...

Uma Análise Artística do Feminismo, não uma História para Dormir
Author: portunhol_26 from United States - Tradução Ana Rodrigues
...
A Rainha Malvada (interpretada perfeitamente por Charlize Theron) é apropriadamente simbolizada por um corvo: uma ave de rapina que se alimenta da morte para seu benefício. Sua beleza é objetificada...
Ela é particularmente ameaçada e se beneficia da beleza de outras mulheres. E é obcecada com a juventude....
Branca de Neve é o outro lado da moeda. Ela é bela sem ser objetificada. Não tem símbolo, mas é representada como a incarnação da Mãe Natureza. Ela inspira, cuida e cura. Ao invés de se sentir ameaçada pela beleza ao seu redor, ela se revela. Ela busca o melhor nos outros. É claro que ela não precisa que ninguém diga a ela que ela é bela para que ela se sinta assim.
Este filme é uma novidade porque Branca de Neve não é um brinquedo sexual definido por sua beleza. Embora ela tenha a ajuda de homens, ela certamente não é definida por eles ou indefesa sem eles. Ela também recebe ajuda de outras mulheres, também. Ela sabe quem é e luta para realizar seu potencial da melhor forma possível...
Sua auto-realização não vem às custas de outrem, pelo contrário, ao se libertar, ela liberta os outros ao seu redor. Ela não precisa diminuir os outros à sua volta para se sentir melhor. É uma mensagem maravilhosa...

Eu vi o filme, e concordo! Precisamos de mais filmes onde as mulheres possam discutir seus papéis, e se tornar livres, poderosas e felizes. Se eu tivesse mais tempo, analisaria melhor esta questão tão profunda, mas agora tenho que ir alimentar minha filha...

E você, conhece algum filme que diga para as mulheres que é ok trabalhar? Deixe sua opinião nos comentários!

* Minha irmã depois me chamou a atenção que um deles é a Glenn Close, o outro a Meryl Streep. Eu sempre confundo as duas!!

10 de julho de 2012

Direito de Resposta

Após ler minha Carta para mim mesma aos 16 anos, meu pai me respondeu o texto abaixo.

Papi e eu, em 1814...


Carinhoso, e esclarecedor, publico aqui com a permissão dele.

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 Carta para mim mesmo aos 61 anos  


Oi, Eu aos 61 anos.

Você já devia saber o que é ser um homem.

Parece óbvio, mas não é, porque é muito mais complicado do que parecia e a vida corrida nos leva a minimizar as dificuldades e achar que o ideal de homem pode ser alcançado facilmente. Não, não pode.

Sim, você pode ter feito Medicina, mas você não conseguiu trabalhar como imaginava porque a estrutura social em que nos encontramos é injusta e gera uma enorme insatisfação profissional (pelo menos na medicina) em quem foi contaminado pelo humanismo socialista. Você pode ter pedido demissão do hospital, saído da faculdade de medicina, jurado que nunca mais colocaria a mão num paciente, mas fez tudo isso com um enorme complexo de culpa porque sentia que havia jogado fora uma oportunidade de ouro que seus pais lhe ofereceram, ou porque poderia fazer tanto suposto bem aos mais pobres continuando a ser médico, ou podia ter ganhado um pouco mais de dinheiro e evitado as inúmeras brigas domésticas por dificuldades em lidar com o dinheiro como um “verdadeiro” homem deveria fazer.

 E, sim, você pode ter estudado muito, feito seu Doutorado, mas quando foi pedir financiamento para sua pesquisa descobriu que existem espertos produzindo 50 artigos científicos por ano e deles será o reino dos céus e das verbas. Você vai ficar revoltado, denunciar, mas será tratado como um lastimável perdedor que não sabe o seu devido lugar.

Sim, você pode ter trabalhado fora, mas teve que escolher entre deixar suas três filhas com uma babá sem cultura, sem preparo psicológico e com escolhas religiosas diferentes das suas OU aceitar que sua esposa sacrificasse a vida profissional DELA para ficar com elas e dar às crianças toda a atenção que você não podia dar.  E seu emprego nem pagava tão bem assim...

Além disto, tudo, mesmo casado com uma mulher que acreditava na igualdade de oportunidades, não era submissa, assumia as responsabilidades da casa com coragem e alegria e te amava muito, você se sentia responsável por todas as necessidades financeiras domésticas. Você se culpava a cada hora do dia que estava trabalhando em pesquisa ou quadrinhos e não estava ganhando o suficiente para que cada uma de suas filhas tivesse tudo o que querem.

Você não fez grandes coisas e nem foi o melhor do seu campo de trabalho (talvez o melhor fisiologista do exercício do bairro Itapoã ou o melhor cartunista de Jesuânia, até agora, pelo menos) porque há uma grande parte da sua vida que depende do acaso e a gente controla um mínimo das coisas, apesar de ter (ou precisar ter) a sensação de que controla o nosso destino. Há sempre algo imprevisto em seu caminho, algo para resolver, sejam a descarga que não funciona ou uma coronária entupida, a compra do supermercado ou o processo do Carrefour, a vacina da sua filha ou a gripe de sua neta, as contas a pagar no banco ou a herança de seu pai.

E você conseguiu trabalhar fora, sim. Ganhando (quase sempre) um terço do que a maioria dos seus colegas de medicina ganhava, mesmo quando eles trabalhavam o mesmo tanto de horas que você. E sendo menosprezado (ou odiado) pelos seus alunos de Educação Física cada vez que o semestre começava, porque você era médico e não um deles. Você teve que convencê-los a cada semestre que você sabia um pouco do que estava falando (embora você tenha sido um tanto prepotente, é verdade).

Sei que você está pensando que pode recuperar o tempo perdido. Será possível? Seu tempo de vida vai acabar em 13 anos (50% de chance) e seria preciso recomeçar imediatamente!

Então, vou dizer-lhe, rapidamente, o que você, aos 61 anos, deveria ter feito de diferente, se pudesse:
1)    Desde o dia que sua primeira filha nasceu, você deveria ter dedicado a ela mais tempo, mais paciência, mais carinho, mais tolerância e menos cobranças, esperando que com isso, um dia, ela não tivesse uma crise de depressão e quisesse morrer.
2)    Você deveria tentar convencê-la de que ser homem ou mulher não é culpa de ninguém e nem uma escolha, apesar do Laerte discordar disso.
3)    Você deveria ter mostrado a ela que a sociedade que nós construímos é injusta com as mulheres, mas também o é de formas diferentes com todos os demais componentes (inclusive as companheiras de Scrapbook, não é mesmo?). Lembrando a Ana Karenina do Tolstoi, as pessoas são felizes de formas semelhantes, mas são infelizes cada uma à sua maneira.
4)    Você deveria ter insistido com ela que não existem pessoas que são ALGUÉM na vida e outras que são alguém. As pessoas se sentem melhores ou piores do que as outras, mas ninguém é de fato melhor ou pior: somos todos humanos (demasiadamente, diria o Nietzsche), como o Riobaldo naquela carta.
5)    Você deveria ter dito para ela dizer à filha dela, que gostaria de ser astronauta, veterinária, médica e pizzaiolla, que ela pode (e deve) desejar livremente ser tudo, pois o que ela será de fato ninguém sabe ao certo. As probabilidades falam de chances e nunca do que acontecerá na vida real, não é mesmo Gisele Binxem, Dilma Russef, Virgínia Woolf, Margareth Tatcher e Frida Kalo?

Mas talvez, toda esta conversa se resuma em dizer a você que exercer os papéis de homem ou mulher nunca será o suficiente para trazer a alegria de viver. É preciso amar aquilo que se é.

Luiz Oswaldo
Marido da Thalma, Pai da Ana, da Maria Helena e da Luíza e avô da Alice, do Francisco, da Rosa e do Antônio.

Luiz Oswaldo, avô da Rosa

Carta para mim mesma aos 16 anos


Explicação sobre este post: em 2010, rolou no Twitter a seguinte proposta: "Se você pudesse mandar um tweet para você mesmo aos 16 anos, o que você diria em 140 caracteres?"


Diversas respostas me entusiasmaram, e eu tentei escrever algo. Entretanto, o limite de 140 caracteres acabou sendo inaceitável, e acabei escrevendo a carta texto abaixo. Naquela época minha filha Alice tinha quatro anos, eu estava lidando com sentimentos difíceis sobre maternidade e trabalho.


Outro ano se passou, e várias coisas mudaram. Farei 36 anos, e achei que estava na hora de escrever outra carta. Escrevi para eu mesma aos 36 anos, este outro post Carta para mim mesma aos 36 anos que é a continuação deste. Espero que ele possa tocar o coração de outras mães, de todas as idades.


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Oi, Eu aos 16 anos.

Eu, aos 16 anos.
(Sou a 3a na fileira de trás, de cabelo curto, blusa branca e saia preta.)

Quando crescer, você vai descobrir que não é homem. Sim, eu sei, parece óbvio, né? Mas você não sabe disto, minimiza e acha que pode ser tudo o que os homens podem ser. Não, não pode.

Sim, você pode fazer Engenharia Elétrica, mas você não vai trabalhar como Engenheira, porque, quando fizer a seleção na FIAT, vai ficar em 6o lugar (5 vagas) entre 2.000 candidatos.

E, sim, você pode estudar muito, fazer seu Doutorado, mas quando for fazer o concurso (já com Doutorado), vai ficar em segundo lugar (1 vaga) porque o cara que ficou em primeiro estudou sem parar, mesmo com o filho dele na UTI.

Sim, você pode trabalhar fora, mas vai ter que escolher entre: deixar sua filha com uma babá com menos cultura, pouco preparo psicológico e escolhas religiosas diferentes das suas OU ter um emprego que pague bem.

Além disto tudo, mesmo casando com um cara que acredita na igualdade de oportunidades, não é machista e te ama muito, você vai ser responsável por todas as tarefas domésticas.

Você vai se culpar a cada hora do dia que está trabalhando porque não está com sua filha. E cada hora do dia que está com sua filha porque não está trabalhando. Você não vai fazer grandes coisas, e nem ser a melhor do seu campo de trabalho, porque vai ter sempre algo para você resolver, seja a descarga que não funciona, a compra do supermercado, a vacina da sua filha, as contas a pagar no banco.

E você vai estar trabalhando fora, sim. Ganhando (sempre) um terço do que seu marido ganha, mesmo quando trabalham o mesmo tanto de horas. E sendo menosprezada pelos seus alunos de Engenharia cada vez que o semestre começar, porque você é mulher. Você vai ter que convencê-los a cada semestre que você sabe do que está falando, e às vezes eles serão rudes com você, e eles nunca vão te respeitar de cara.

Sei que você está pensando: eu não vou ser assim, eu vou ter uma boa empregada e vou organizar meu tempo. Não vai, não. Seu tempo vai acabar no dia que sua filha nascer, porque cada minuto do seu dia será dedicado a pensar nos outros. Depois de quatro anos sem nem cortar cabelo, você um dia vai ter uma crise de depressão, e vai querer morrer. E vai tentar ser você mesma de novo, fazendo regime, arrumando um hobby, falando com suas amigas.

Não vai ser fácil. Não vai ser simples. E não vai resolver.

Você vai sentar no computador, e escrever este texto, e desejar que o mundo fosse diferente. Porque a revolução feminista (e, ironicamente, a Revista Cláudia também) cobra da gente ser mãe, empresária bem sucedida, cabeça no lugar, gostar de sexo, ter um corpo saudável, e, de quebra, saber cozinhar (tá, isso é só a revista Cláudia).

Mas que horas que eu você vai fazer tudo isso? Façamos contas simples:
-    7:00 Acorda, faz chapa no cabelo e maquiagem
-    8:00 Café + trânsito, chega no trabalho
-    17:00 Sai do trabalho (se quiser ser bem sucedida tem que dedicar)
-    18:00 Trânsito de volta + banho
-    19:00 – 20:00 Fazer comida e brincar com o(a)(s) filho(a)(s)
-    21:00 – 22:00 Paga contas na internet / Faz supermercado / Chama o cara para arrumar a descarga / Compra uniforme para o(a)(s) filho(a)(s) / Corta cabelo / Faz ginástica
-    23:00 Dormir

Neste esquema, você trabalha 8h e dorme 8h, é verdade, mas só vê  o(a)(s) filho(a)(s) por 2h no dia. Péssima mãe. Vamos tentar de novo?
-    7:00 Acorda, faz chapa no cabelo e maquiagem
-    8:00 Café + trânsito, chega no trabalho
- 12:00 Sai do trabalho (meio horário, tranquilo)
- 14:00 Leva o(a) filho(a) no futebol/natação (seu salário de meio expediente não dá para ter empregada e babá, que dirá motorista)
- 15:00 Banho e lanche do(a) filho(a)
- 16:00 – 17:00 Filho(a) vendo TV, você arruma a casa e toma banho
-   18:00 Paga contas na internet / Faz supermercado / Chama o cara para arrumar a descarga / Compra roupa para o(a)(s) filho(a)(s) / Corta cabelo / Faz ginástica
-  19:00 – 20:00 Fazer comida e brincar com o(a)(s) filho(a)(s)
-  22:00 Transar
-  23:00 Dormir

Neste novo esquema, você fica com seu filho 8h, dorme 8h, e consegue até transar(!) mas só trabalha 4h no dia, o que significa que nunca terá uma carreira que preste, pois os homens do seu trabalho vão fazer “o esforço extra”,  e ganhar as promoções. Vamos tentar de novo, só que agora você é homem?
-    8:00 Acorda, Café + trânsito, chega no trabalho
-    17:00 Sai do trabalho
-    18:00 Trânsito de volta + banho
-    19:00 – 20:00 Brincar com o(a)(s) filho(a)(s)
-    21:00 - 22:00 Ler / Ver jornal / fazer ginástica
-    23:00 Transar
-    24:00 Dormir

Neste esquema masculino, você trabalha 8h, dorme 8h, tem duas horas de lazer para você (jornal) e ainda transa! Vê o(a)(s) filho(a)(s) por 2h no dia, mas NÃO SENTE A MENOR culpa, pois está fazendo o seu papel, que é ganhar o pão de cada dia. Não tem que estar “bonito”, pois ninguém vai te julgar por isso.

Sei o que você tá pensando agora: meu marido pode dividir as tarefas comigo. Sim, pode. Mas não, não vai. Porque ele não tem a urgência interna que você tem de arrumar a casa. Para ele, o esquema acima está ok, e se a casa não tiver comida, ele come fora ou pede pizza, se a descarga não funcionar, ele usa o outro banheiro, se o menino não tiver uniforme, vai de pijama para a escola. E você vai ter que viver com isso, se quiser dividir. Se duvida, pergunte a qualquer um que morou em república. Mas você tem que se alimentar saudavelmente, e tem nojo de banheiro sujo, e, se o menino volta da escola com um bilhete, nunca tá escrito: “Querido pai, seu filho veio de pijama hoje, não pode.” Além disso, ele vai ficar com menos tempo para trabalhar também, então ele vai ganhar menos dinheiro. Você já não tem aqueeeeela carreira, então, vale a pena?

Não, não vale. Então, já se acostume com a ideia de que você não vai ser ALGUÉM na vida, você vai ser alguém. Você vai estar nos bastidores, ajudando, fornecendo estrutura, resolvendo o dia a dia.

Você não vai inventar a lâmpada, vai trocar a lâmpada queimada. Você não vai desenvolver a cura da AIDS, vai lembrar de levar o cartão de vacinação. Você não vai trabalhar no escritório, mas vai ajudar a comprar os móveis para ele. Você não vai ter seu nome impresso no cartão comercial, mas vai buscá-lo na papelaria. Você não vai ouvir seu filho agradecendo à você na hora de receber o Oscar, ou o Nobel (isso é para pai), mas vai ouvi-lo chamando seu nome um milhão de vezes por dia pedindo de tudo.

Você nunca vai ser muito boa em nada, mas vai resolver quase tudo. Não vai dar muito orgulho, vai dar muito trabalho.

Só estou te contando isso para, quando você se tornar eu, talvez não fique chorando até as 2 da manhã escrevendo isto. Ou talvez procure encontrar soluções diferentes. Eu não consigo, e eu sinto muito, pois não sei o que dizer para a Alice, nossa filha, quando ela me diz que quer ser “Astronauta, veterinária, médica e pizzaiolla” quando crescer. E eu penso, não será.

Será mulher, e não será suficiente.

Ana de Oliveira Rodrigues
Ph.D. em Engenharia Elétrica
05/Nov/2010

Carta para mim mesma aos 36 anos

(Este post é uma continuação deste Carta para mim mesma aos 16 anos. Talvez não faça sentido ler este sem ler o outro primeiro...)

Cara eu mesma aos 36 anos,

Dia das Mães, 2012


Neste momento, você terá sua segunda filha em seus braços. Você estará cansada, e sem tempo para você ou seu marido. Todo seu tempo e pensamentos serão dedicados às suas garotas, Alice e Rosa.

Mas, esta fase também irá passar. Depois que Alice fez 5 anos, ela se tornou independente, talvez um pouquinho demais. Ela começou a ver você como parte da vida dela, não o centro do universo. E isto te libertou para ser você de novo. Você encontrou um novo emprego, desafiador e interessante, ensinando engenharia no turno da noite e sendo gerente de sua própria empresa nas manhãs, que você ocupa com horários flexíveis e agradáveis. Você consegue passar todas as tardes com sua filha.

Você também conseguiu voltar e manter sua forma, não malhando compulsivamente, mas lidando com suas ansiedades e dificuldades que se traduziam em comer. Encontrar alegria e felicidade no dia-a-dia fez comer chocolate diariamente não ser tão necessário.

Você procurou e encontrou ajuda de confiança para os trabalhos domésticos. Custa caro, mas vale cada centavo. Você também aprendeu a viver em uma casa que não é perfeita. Perfeição era a causa principal da sua tristeza, e você está dolorosa e lentamente aprendendo a não ser tão dura com você mesmo quando falha.

A escola da sua filha se tornou uma fonte de novos amigos, os pais das outras crianças, e te ensinou que você não está sozinha, que todos tem problemas, e que ter amigos ajuda a diminuir o peso da carga.

Você fez uma amiga no balé da sua filha, e ela mostrou para você como que as diferenças em estilos de criar as crianças pode ser saudável. Vocês se respeitam, tomam café de tarde juntas, e este é um dos momentos mais prazeirosos da sua semana.

Quando eu te escrevi aquela outra carta, te falei que você não poderia ser tudo o que quisesse. Você não pode mesmo. Ninguém pode. Todos temos que fazer escolhas, e é difícil aceitar que, em muitas áreas, você vai falhar. Em algumas, vai ser um desastre. Você jamais aprenderá a cozinhar, por exemplo.

Mas tem tanto na vida além de uma carreira de sucesso! O principal é estar feliz com o que faz. Neste momento, você vai ter decidido ter outra filha pelos seguintes motivos:

- Tempo é limitado nesta vida, e ter uma criança por perto faz tudo parecer diferente. Ver o mundo pelos olhos delas é fantástico, e criar uma criança é uma conquista enorme. Amo minha filha mais profundamente do que jamais pude imaginar, e sou tão orgulhosa dela, que só consigo pensar que foi a melhor coisa que eu já fiz.

- Ninguém jamais será feliz se focar em todas as coisas que "poderia ter feito". Meu marido não gosta de trabalhar 8 horas por dia, e só ver nossa filha à noite e nos finais de semana. Ele pode não sentir culpa, mas ele não tem a honra de vê-la nadar, dançar e rir de bobagens como eu. Ele tem que viajar a trabalho, ficar longe, e ele está fazendo GRANDES coisas, mas está perdendo as pequenas, e elas são tão importantes. As GRANDES coisas nos fazem ficar orgulhosos por um momento, mas são as pequenas coisas que nos mantém felizes no dia a dia.

- Elas crescem muito devagar. As pessoas vão te dizer que passa rápido, mas só é rápido se você não estiver prestando atenção. E eu planejo prestar muita atenção, pra sempre. Estar com minhas garotas quando elas precisarem de mim, e assoar o nariz delas, e ensiná-las que ser ALGUÉM na vida significa ser um grande ser humano, e não fazer grandes coisas. Meu nome provavelmente não ficará escrito em placas e livros por centenas de anos, mas se meus netos se lembrarem de mim com amor, eu terei atingido todos os objetivos que preciso.

Então, Alice, minha filha, Rosa, meu bebê, crescam e se tornem grandes seres humanos. Grandes amantes da arte, grandes contadores de histórias para seus amigos, grandes companheiros para quem escolherem para compartilhar suas vidas, grandes mães dos meus netos, e os melhores profissionais possíveis em uma carreira que encha seus corações de orgulho. Eu sei que vocês conseguem, porque estou vivendo a melhor época da minha vida tentando.

Com amor,
Ana
8/Dezembro/2011

9 de julho de 2012

A Foto Perfeita


Hoje tirei uma foto com minha familia; meu marido Juliano, minha filha mais velha Alice e a caçulinha Rosa.

Minha Família


Quando pensamos em foto de familia, pensamos nisto:
A Família Perfeita (não é a minha)

A diferença não é (só) a qualidade da camera e o talento da fotógrafa, porque, quando eu me esforço, eu consigo tiro fotos muito boas das minhas filhotas:
Rosa (4 meses)
Alice (5 anos)
Mas eu não apareço nelas. Fazer a foto perfeita requer tirar muitas fotos, ficar com o olho no obturador por muito tempo, repetir, posar, mudar a luz. E quem está fazendo tudo isto, não está se divertindo, dentro da piscina, jogando a bola ou correndo no parque.


O problema com a foto perfeita, é que é preciso ser a familia perfeita, onde ninguem tem nariz escorrendo (Rosa), ou deixa cair comida na roupa (Alice) ou tem um dente meio torto (meu marido) ou não corta o cabelo há meses (eu). Como diz a música, "todo mundo tem pereba", mas a foto é a prova fixa, inegável, de que não somos a bailarina, e é muito difícil admitir isto.

Pesquisas recentes (que eu li em algum lugar confiavel) mostram que a maioria das dietas começam porque alguem se viu em uma foto e não gostou do que viu. Em um mundo cheio de cameras digitais, Facebook e Photoshop, o que isto está fazendo com a nossa autoestima?

Acho que temos duas possiveis escolhas, ao sermos bombardeados o tempo todo com a mensagem de que não somos perfeitos. Podemos fazer dietas rígidas, plástica, ginástica, lutar contra o tempo, a gravidade e a genética, estressando a cada aniversario, infelizes com nossa imagem. Brigando com nossos filhos porque queremos mais uma foto, para eles olharem para a camera! Vendo o balé, a festa junina e a apresentação da escola através de um qudradinho digital, atras do qual escondemos nossos olhos e nossos sorrisos dos nossos filhos; deixando-os apresentar-se para o filme, não para nós; ensinando a eles que a imagem é mais importante do que curtir o momento.

OU, podemos aceitar que é a imperfeição que nos torna humanos. Que a falha e a difença são parte da nossa história, que o perfeito é feito pelo computador. Que a foto da familia perfeita foi tirada em estudio, o fundo adicionado depois, todo mundo foi photoshopado, e provavelmente aquelas pessoas nem são parentes. Podemos deixar nossos filhos verem  o brilho dos nossos olhos, criando memórias indeléveis na personalidade deles com o olhar dizendo te amo, você é importante.

Em um filme indiano muito bom, chamado "The Namesake", pai e filho andam até a ponta de um Recife. O caminho é difícil, mas a vista no final é incrível. Ao chegar, o pai diz "Que tolo eu sou! Esqueci a máquina no carro!" Eles olham para a vista, o pai ajoelha e diz :" acho que vamos ter que guardar na memória então". O menino pergunta:"Por quanto tempo?" O pai sorri, e completa :"para sempre". Desanimado, o menino termina o diálogo reclamando:" para sempre é muito tempo...".

A foto da minha família é o registro de um momento assim. Estamos juntos e felizes por sermos quem somos, este sim, uma lembrança para guardar para sempre. Se eu tivesse tempo, eu faria um monte delas.

Rosa Coqueluche Rodrigues Viana

Minha filha Rosa completou 4 meses de vida no dia 1o de Julho. Destes, ela passou 2 meses tossindo. Metade da vida dela.

Rosa


Com dois meses e sete dias, ela começou a tossir e expelir um catarro grosso. Em pouco mais de uma semana, estes episódios já faziam com que ela ficasse com um tom azulado (cianose), pela falta de oxigênio durante as crises de tosse. Depois de ser internada por dois dias, voltou para casa, com o diagnóstico de coqueluche. Começou a melhorar devagarzinho, até que, 15 dias depois, teve outra recaida. Pegou uma virose nova, e as crises de tosse e cianose voltaram. A expectativa é que ela fique mais uns 2 a 4 meses deste jeito. Qualquer virose ou infecçao vai fazer o quadro geral dela piorar de novo.

Mas, tudo isto não é nada comparado ao que pode estar acontecendo na cabecinha dela. Imagine passar estes primeiros meses de vida, tão importantes para a sua formação, lutando por ar. Imagine passar dois meses assustada. Começando a aprender a usar suas vias aéreas, e elas te traindo. Dormindo menos de duas horas direto de cada vez, em um período em que toda a energia é necessária para crescer, desenvolver, aprender.

Sei que a coqueluche vai fazer parte da história da minha filha. Quando comento com outras pessoas, algumas pessoas dizem que tiveram coqueluche na infância, inclusive as duas avós dela. E é sempre uma história relembrada com dor. Quem teve mais velho, conta do quanto penou, tossindo por meses, às vezes até desmaiando. Quem teve novinho, como a Rosa, conta as impressões da mãe, que dizia que a criança perdeu peso, ficou triste, ficou meses sem dormir ou comer direito.

O mais assustador é que Rosa não está sozinha, pelo contrário. Anualmente, milhares de pais mal informados sobre vacinas decidem não vacinar seus filhos, ou esquecem. E com isto, a coqueluche está voltando. Nos EUA a situação já está virando caso de saúde pública, com surtos em diversas regiões. No Brasil, já temos surto confirmado em SP. Nos outros estados, a situação deve ser a mesma, apenas é mais difícil a notificação (aqui em BH, mesmo, conseguir notificar o caso da Rosa foi uma novela à parte).

Adultos vacinados, por sinal, não estão imunes à coqueluche. Eles tem uma versão branda da doença, caracterizada por uma tosse persistente, mais intensa à noite. E, neste período, por ser uma doença altamente contagiosa, o adulto se torna a principal fonte de contaminação de crianças não totalmente imunizadas, como a Rosa, e a coqueluche vai se espalhando rapidamente.

Houve uma época que "coqueluche" significava "algo que se espalhava rápido", como em "a coqueluche do momento é usar saia longa", de tão comum que a doença era. Hoje, era para estar erradicada. Medidas como as pessoas lavarem as mãos com frequência, principalmente antes de pegar em bebês, não deixarem crianças doentes irem à escola, vacinarem corretamente seus filhos, e cobrirem a boca com o braço (não com a mão) ao tossir ou espirrar teriam um impacto enorme na saúde pública.

Se eu tivesse mais tempo, passaria boa parte dele tentando convencer as pessoas da importância destas medidas; ajudando outras Rosas, como minha filha querida, doce e risonha quando consegue, a não passar metade da vida delas sentindo um desconforto que é difícil até para adultos.

... Escreveria um blog.

A ideia de escrever este blog nasceu no quando eu estava tomando banho, um dos poucos momentos da minha vida em que estou apenas pensando.

Dentro do chuveiro eu nao consigo pagar contas, brincar com Alice (5 anos), trocar fraldas da Rosa (4 meses), ir no supermercado, responder email, pagar empregada ou preparar provas. Tenho que ficar quieta, focar no que estou pensando ou sentindo.

Os posts deste blog são estas idéias, escritas na madrugada dando de mamar, ou na horinha entre buscar a mais velha na escola, ou quando a bebê está dormindo, ou quando consigo alguém para ajudar a tomar conta delas.

Se eu tivesse tempo, escreveria mais a respeito da idéia... vamos aos posts.

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...