8 de maio de 2023

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT. Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano. Muitas vezes, melhor do que um ser humano. Ao invés de discutirmos a qualidade do código por trás deste feito tecnológico, estamos nos perguntando: O que é inteligência? Quais empregos serão eliminados? O que é vida?

Então, esta semana, Hinton, um dos mais conceituados experts na área de Inteligência Artificial, considerado o pai da tecnologia por trás do ChatGPT, saiu do Google porque está com medo do que AI fará com o mundo, como criar robôs assassinos, estilo Matrix ou Exterminador do Futuro. Se AI for usada de forma errada, diz ele, vai matar todo mundo.

Comecei então a perguntar para diversas pessoas o que elas acham que seria o maior o problema de usar Inteligência Artificial, e notei um certo padrão. Professores tem medo de que seus alunos escrevam teses inteiras, sem ter que pensar. Analistas de mercado tem medo de que os robôs movam dinheiro mais rápido do que eles conseguem manipular. Escritores tem medo de que histórias comuns e sem graça tomem o espaço da criatividade e experiência pessoal. E homens brancos e poderosos como Hinton tem medo de que as máquinas se tornem mais poderosas do que eles e matem todo mundo. Inteligência Artificial se tornou a grande tela em branco onde projetamos nossos maiores medos.

Eu sou mulher, latina, imigrante, tenho 46 anos de idade. Os robôs não podem me tirar nada. Pelo contrário. Diariamente, o ChatGPT tem me ajudado a me expressar melhor em uma língua que eu sei falar mas não entendo os nuances perfeitamente. Uma Inteligência Artificial criou a sequência de aparelhos ortodônticos que vão tornar mais lindo ainda o sorriso da minha filha. AI me ajuda a navegar nesta cidade nova, sem o risco de me perder, encontrando borboletários e restaurantes. Ferramentas de busca me mostram como viviam os Algonquin, e a história deste povo indígena permanece viva, para sempre, na internet e na memória da minha filha. No final de um longo dia de trabalho, o YouTube me ajuda a conhecer o comediante irlandês e eu dou risada sozinha. Semana que vem, caminharei em um parque com mulheres como eu porque usamos nossos emails para encontrar e conversar em um grupo de MeetUp. Todos os dias eu vejo minha família e meus amigos do outro lado do mundo, de graça. Publiquei meus livros no mundo inteiro, instantaneamente. A tecnologia é minha amiga.

Voltando aos super soldados... Eu sei que novas tecnologias, qualquer uma, da pólvora ao gás mostarda, da bomba nuclear à pedra lascada, será usada pelos militares. Qual exército, podendo, não iria desenvolver e usar a arma perfeita? Um robô que não sente dor, tem mira perfeita, e é imortal?

Mas também sei que ao longo dos anos, milhões de humanos usam tecnologia todos os dias para melhorar, ajudar, consertar, colaborar, criar, inovar, humanizar. Minha esperança é que, quando mais de um país tiver o robô exterminador, nós possamos fazer a última guerra. A guerra para acabar com as outras guerras, desta vez de verdade.

A Guerra dos Robôs será uma nova versão da guerra fria. Ao invés de mutilar, destruir e arrasar cidades e populações, nações poderão simplesmente colocar seus robôs para brigar, de preferência em simulações, em uma versão super tecnológica do xadrez. Ganhar esta simulação significa que você ganharia a guerra, então sentam todos em um mesa, e conversam sobre próximos passos. Finalmente teremos criado a arma perfeita, e ela será usada para acabar com todas as outras. Não é ideal, eu sei. Ainda teremos nações poderosas, que poderão dominar outras. Mas isso será feito sem matar crianças e homens jovens, arrasar cidades inteiras, destruir famílias e gerar mais ódio. Eu chamo isso de progresso.

E então poderemos usar nosso tempo, dinheiro e recursos, para que essa mesma nova ferramenta nos ajude a encontrar soluções para os problemas do meio ambiente, do futuro das novas gerações, da conquista do conhecimento, da melhoria da vida. De todos.


Meu pai me perguntou porque chamamos o ChatGPT de "o" ChatGPT, e não de "a" ChatGPT. Respondi que eu ficava dividida. Acredito que devíamos parar de dar nomes femininos aos assistentes virtuais, porque isto reforça a ideia de mulheres em posição de servidão e ajuda. Ao mesmo tempo, pela primeira vez na nossa história, temos um programa de computador que pode se tornar a maior ferramenta de decisão do mundo. Quando mulheres tem poder, a desigualdade diminui, a economia melhora, organizações se tornam mais eficientes. Quando mulheres participam de processos de negociação de acordos de paz, isso aumenta a chance deles serem bem sucedidos. Mulheres são a força motriz por trás de movimentos pacifistas,  organizações de apoio à infância e muito mais. 

Se o futuro da inteligência artificial for feminino, temos esperança.


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Imagens geradas pelo Dall-E, sistema de Inteligência Artificial.

3 comentários:

  1. Muito interessante o teu ponto de vista, não tinha pensado nesse aspecto de que eles já nos ajudam muito! Sobre o gênero, em inglês não tem, né? é "it" ou "they" e pronto. rs.

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    1. tá saindo anônimo, não sei pq. Mas fui eu: Mina rs

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    2. Ola Mina! Obrigada pelo seu comentário! Em inglês é mais fácil mesmo. Embora eu escute pessoas chamando o ChatGPT de "he"... acho que a gente associa inteligência e criação de texto com seres humanos, então fica difícil de manter como coisa.

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A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...