22 de novembro de 2013

A realidade, a adversidade e a calamidade

Estava vendo um filme infantil (Ponyo) com minhas filhas, e pensando em calamidades.

No filme, uma enorme tsunami atinge uma cidade, que fica submersa. As pessoas no filme se comportam com calma, gentileza, coragem. Os protagonistas, crianças de 5 anos de idade, lidam com a situação como se fosse apenas uma aventura. Em momento nenhum se apavoram, ou tem medo da tragédia, o que confere ao filme uma aura de fantasia e lirismo.

Mas, e na realidade? No Brasil somos pouco acostumados à tragédia natural de grandes proporções. As poucas que presenciamos (enxurradas, desabamentos) são restritas geralmente à população de baixa renda, relegada à terrenos perigosos em tempos de chuva normal. Mas a classe média está em geral protegida de inundações, chuvas intensas e ventanias.

Este sentimento de segurança climática vem, na minha geração, associado à um sentimento de segurança política. Não temos guerra civil, ditadura, bombardeios.

A segurança também se estende à nossa saúde. Somos bem tratados por médicos competentes, pagando convênios seguros e tendo acesso à remédios de última geração. Doenças sérias acontecem, mas a expectativa de vida é altíssima, os tratamentos eficientes, a mortalidade muito baixa.

Por tudo isto, as pequenas adversidades da vida se tornam grandes catástrofes, como mostra o site Classe Média Sofre. Cada pequena dificuldade é uma luta tremenda, cada arranhão no joelho uma doença mortal.

Recebi de um aluno um pedido de ajuda por e-mail, onde ele dizia estar encontrando “enormes dificuldades” para fazer um trabalho proposto, e me enviava o que já tinha feito. Ao abrir o arquivo, me surpreendi em notar que ele não tinha feito nada do trabalho. Nem o pedaço que era igual a um exercício que resolvi em sala. A tal “enorme dificuldade” era na verdade a primeira dúvida que ele teve. Desistiu e pediu arrego.

Nem de longe quero sugerir que preferiria que tivéssemos mais catástrofes. Mas deveríamos, de alguma forma, perceber como nossas vidas são protegidas do ruim, para que pudéssemos apreciar o bom. Imaginar que a casa pegou fogo e perdemos todos os nossos bens materiais pode parecer mau agouro ou pessimismo, mas também pode dar uma dimensão do quanto estas coisas são pequenas quando comparadas à trágica notícia desta semana da menina de 2 anos que morreu porque o pai a esqueceu dentro do carro.

Cada dor é diferente, e não dá para comparar, mas temos parâmetros universais gerais, sim. Morte, doença crônica e calamidades naturais deveriam estar muito, muito acima de perder a empregada, trânsito ruim e unha quebrada. As pequenas adversidades do dia a dia, acumuladas, não são uma grande tragédia.

Duvida? Pergunte se eu gostaria de não ter que lidar com a birra diária da minha filha de dois anos. Claro. Mas não se o custo fosse ela não ter sobrevivido à coqueluche que teve aos três meses.

E o efeito positivo desta visão pessimista é que ter esta noção pode nos tornar seres humanos muito, muito melhores. Em épocas de catástrofes, somos solidários, atenciosos, paramos de perseguir o dinheiro como se fosse o que mais importasse, somos o melhor que podemos. É claro que sempre tem uns malas para saquear e tentar se aproveitar, mas, no geral, as pessoas olham suas prioridades com uma urgência que oferece foco e clareza.


O motivo deste efeito eu aprendi vendo uma palestra excelente no TED sobre o paradoxo da escolha. Não ter escolha é não ter liberdade. Ter algumas escolhas é ter mais liberdade. Mas ter escolhas demais não é libertador. É paralisante. Quando a tragédia atinge, suas escolhas se restringem. Não são zero, mas são muito menores. Você pode escolher ajudar aos outros e a sim mesmo, ou desistir. E, em geral, as pessoas se ajudam, reconstroem, se unem.

Temos escolhas demais no mundo ocidental de classe média. Um futuro incerto, cheio de opções com pequenas diferenças, para as quais damos importância demais. Imagine-se daqui a 30 anos. O que você gostaria de estar fazendo? Pare tudo que está fazendo agora, e concentre-se neste objetivo. É o único que importa.







7 de novembro de 2013

Escolhas da vida

Shampoo que combate a caspa causada pelo stress.

Desodorante 24 horas para a correria do dia a dia.

Sabonete íntimo que elimina os odores da lingerie sexy.

Corretivo para disfarçar olheiras.

Base para parecer mais nova.

Refri diet para manter o peso ideal.

Roupa da moda para mostrar que venceu na vida.

Salto alto para dizer o quanto é poderosa.

Base reparadora para unhas fragilizadas por esmalte.

Amônia para alisar os cabelos.


Eu escolhi os produtos certos

...ou a vida errada?

28 de outubro de 2013

Clara Averbuck e a Escola de Princesas

Hoje fui ao lançamento do novo livro de Clara Averbuck "Cidade Grande no Escuro" no Sempre Um Papo.

Sou seguidora fiel dos blogs dela, especialmente o que tem seu nome Clara Averbuck e o Feminismo prá que? que ela divide com a Nádia Lapa do Cem Homens. Figuras expoentes do novo feminismo brasileiro, fui ouvir a Clara pessoalmente, vendo-a falar pela primeira vez.

Eu (de vermelho) tietando a Clara!!!
Por não ver televisão (sim, sou um ET), eu nunca tinha visto a Clara. Fiquei sabendo por ela hoje que ela já esteve em reality show, já apresentou programa, já foi do R7. Sei de nada disso. Sei o que leio dela, que é sempre inteligente, irônico, brilhante. Seu post mulher: dá vontade de fazer uma camiseta e sair na rua.

Minha camiseta com o texto da Clara.
E aí ela falou que está para publicar em breve um post sobre "A Escola de Princesas". E eu pensei: "ai que lindo, eu já publiquei um sobre isto". O que será que ela vai falar, será que vai ter algo em comum com o meu. Fui reler o meu e: susto! Cadê? Não publiquei!!!! Ficou no HD!!

Então aqui está. O post sobre Escola de Princesas, em homenagem à Clara Averbuck, uma das minhas grandes inspirações no feminismo.

Escola de Princesas: O problema é mais embaixo

Recebi de uma amiga dois links que parecem muito diferentes, mas contam dois lados da mesma história: como os papéis sociais limitam e criam sofrimento desnecessário.

O primeiro é sobre a "Escola de Princesas", criada em Uberlândia. Nada contra o que a escola ensina: boas maneiras, arrumar a casa, costura básica, e polidez em redes sociais, entre outros.

Segundo a dona da escola, "é possível conciliar carreira com o cuidado da casa e dos filhos sem prejuízo para nenhum dos dois". Geeeeenteeee, me ensina! Vou me matricular amanhã na escola de princesas!

Mas me espanta o fato de que só meninas (princesas) podem ser matriculadas. Ninguém sequer menciona o fato de que homens também um dia poderiam lavar roupa, cozinhar arroz ou ser educado com os mais velhos, desta forma ajudando no tal equilíbrio trabalho fora de casa x trabalho doméstico. Saber cuidar da casa é um atributo feminino, ou seja "de princesa" (embora eu nunca tenha visto nenhuma princesa de verdade pondo a mesa ou arrumando o próprio quarto).  Os filhos são responsabilidade da princesa, que "só deve ter filhos depois de casar com o príncipe, se tornando rainha". Não, não estou inventando nem exagerando; tá lá na reportagem quando ela exemplifica o que ensinam em educação sexual (prefiro este documentário curtinho que explica a diferença entre sexo de vídeo pornô de sexo na vida real, ou este documentário frances brilhante e divertido sobre o clitóris). Coitada da princesa que for lésbica, ou nunca casar, ou nunca quiser ter filhos, né?

Sejamos (nada) criativos, e criemos então a "Escola de Príncipes". O que teria? Aula de futebol, política, como trocar resistência de chuveiro e discutir com o mecânico do carro? Fácil, né?

Só que não. O problema com esta ideia é que nem todo príncipe gosta de futebol, e nem toda princesa gosta de cozinhar. Que balancear trabalho fora de casa com trabalho doméstico é um desafio hercúleo, lotado de culpa e dúvida para a maioria das mulheres. Que a ideia de princesa é uma afronta aos conceitos de democracia e de feminismo. Ao contrário dos super-heróis, que são "gente" e "super-herói", cheios de conflitos e personalidade, as princesas são definidas por serem lindas, educadas, naturalmente boas e felizes o tempo todo (Preciso aqui abrir uma exceção para Mulan, que honrosamente defende a mulher que tem carreira e compete com homens em pé de igualdade. Quantas meninas são encorajadas a ser a "Mulan"? A Bela, da Bela e a Fera, também se sai um pouco melhor. Rejeitando a idéia do casamento arranjado, e protegendo o pai, e gostando de ler, ela consegue mostrar um pouco mais de personalidade.)

Acha eu eu estou exagerando? Descreva a personalidade da Branca de Neve, da Bela Adormecida ou da Cinderela. Suas melhores qualidades são "esperar pelo príncipe" (dormindo ou provando sapatos), e serem excelentes dona de casa. Agora descreva a personalidade do Batman, do Homem-Aranha ou do Super-Homen. Eles tem história, passado, conflitos, trabalham fora e nunca estão arrumando a casa.

O que me leva ao segundo link. É um depoimento (em inglês) de um pai que tem um filho que gosta de se vestir com roupas "de menina" e brincar com brinquedos "de menina". Desde muito cedo o garoto se percebe como mulher, e o pai o aceita e o ama. Adoro particularmente esta frase:

"I’m a father. I signed on for the job with no strings attached, no caveats, no conditions. I can name every Disney Princess and her movie of origin. I've painted my son's nails and rushed to remove it when he was afraid that he would get teased for wearing it. I didn't want to remove it, I wanted to follow him around and stare down anybody who even thought about teasing him. "

(Eu sou pai. Eu me ofereci para este trabalho sem nenhuma prerrogativa, teste ou condição especial. Eu posso dizer o nome de todas as princesas da Disney e seus filmes. Eu pintei as unhas do meu filho e tirei o esmalte rapidamente quando ele ficou com medo de ser provocado por causa disto. Eu não queria que ele tirasse, eu queria seguir ele por todo lado e fazer cara feia para quem quer que quisesse tirar sarro dele.)

Este menino quer ser uma princesa. A única coisa que o torna "diferente" é o fato de que não esperamos isto dele. E só. Não é ele que é diferente, nossas expectativas é que são absurdamente reducionistas. Eu o entendo profundamente, porque nunca gostei muito de usar vestidos, ou me maquiar. Hoje, ninguém torce o nariz de me ver usando terninho, mas houve uma época (e até hoje existem muitos países) em que eu seria considerada "diferente". Conheço uma menina que se recusa a usar vestido (o que gerou uma confusão terrível na escola dela na época da festa junina), brincar com Barbies ou de casinha. Os pais a apoiam nestas decisões e compram todas as brigas. Mas não deviam ter que comprar.

POR QUE ainda sentimos que temos que controlar o gosto dos outros?

20 de outubro de 2013

Toda nudez será castigada, proibida, escondida. E o amor?

Fui hoje com meu marido e filhas à exposição "Elles: Mulheres Artistas na Coleção do Centro Pompidou" que esteve no Centro Cultura Banco do Brasil de Belo Horizonte de 28 de Agosto até hoje.

Uma obra me tocou profundamente. A série de fotografias intitulada "Heartbeat" (2000 - 2001) de Nan Goldin (alguns momentos da série foram colocados em baixa qualidade no YouTube aqui e aqui mas tem amostras melhores aqui e aqui).

Composta de 254 slides que são projetadas na parede enquanto Bjork canta ao fundo “Prayer of the heart”, de Sir John Tavener, cada slide captura momentos íntimos da vida da autora e de seus amigos. Espontâneos, reais, vivências de amor, sexo e família. São imagens belíssimas. As cenas de sexo são apaixonadas, sem retoques, sem photoshop ou silicone. Pessoas reais sentindo prazer e felicidade reais.

"Heartbeat" Nan Goldin (200-2001)


Devido ao fato de mostrar sexo explícito em boa parte das fotos (inclusive homosexual), a mostra é proibida para menores de 18 anos. Por este motivo, eu e meu marido nos revezamos para observar parte das fotos enquanto o outro ficava com nossas filhas de 7 anos e 1 ano e meio do lado de fora.

Eu sei que serei muito criticada por esta opinião, mas mas eu realmente não concordo com esta lei. Por que minha filha de 7 anos não pode ver fotos de pessoas se amando? Não tem nenhuma lei que impeça ela de ver fotos de uma pessoa batendo em outra. A maioria dos filmes infantis inclui dezenas de cenas de violência, muitas vezes gratuita, agressão verbal constante, morte, assassinato e crueldade. Mas ver duas pessoas que se amam fazendo sexo? NÃAAAOOOO!!

Eu SEI que a lei está aí para proteger que crianças tenham acesso à sites e revistas de pornografia, onde a representação do sexo é em geral degradante para a mulher, a violência sexual está explícita ou implícita na maioria das cenas. Mas, se eu mostrar para minha filha uma foto de um casal nu, como várias desta exposição, eu vou para a cadeia. Eu também SEI que uma criança não deve ser exposta a imagens para as quais ela ainda não está preparada, e que poderia criar uma representação ainda mais absurda na cabeça dela. É parte de nosso papel como pais e mães julgar se ela seria capaz de entender e se faria bem a ela.

Estou lendo o livro "O Mito da Beleza" de Naomi Wolf, brilhante, que detalha como nossa sociedade consumista depende de sermos insatisfeitos com nossos corpos, com nossa vida sexual, com nossos parceiros, para continuar vendendo cremes, iogurte light e pornografia*. Minhas filhas estão expostas à dezenas de corpos "perfeitos" em propagandas ubíquas, mulheres construídas digitalmente para não terem rugas, nem poros, nem alegria. Ia ser bom se elas pudessem, pelo menos uma vez, ver corpos reais, com celulite e cicatrizes, sem silicone nem maquiagem, em pleno ato de entrega, amor, felicidade plena.

Mas não podem. Não poderão até terem 18 anos. E com as atuais taxas de bulimia aos 16, de anorexia aos 14, de regimes alimentares aos 12, de auto-imagem distorcida aos 10, talvez seja tarde demais.

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27 de agosto de 2013

4 mil visualizações.... e agora?

Estou encantada com a repercussão do último post "Relato de uma Cesarista Arrependida". Em dois dias, foram mais de 4 mil visualizações, uma coisa que jamais havia ocorrido no blog.

Agradeço a todos e todas que deixaram depoimentos, contaram suas histórias, discutiram o assunto mais profundamente, me ofereceram carinho, apoio, coragem. Foi emocionante, empoderador. Me sinto parte de um grande grupo que está se mobilizando para fazer as coisas de um jeito diferente.

Esta energia tão incrível merece ser utilizada! Então eu quero mais informações, outros caminhos, um "Beleza, vamos tentar tornar o parto normal a regra, não a exceção. O que faço agora?"

Bom, a primeira coisa que eu sei que adoraria seria se todo mundo assistisse ao filme. O link da página do Facebook do filme está aqui e os horários e cidades está aqui. Isto vai dar força para o movimento, esclarecer muita gente, ajudar outras pessoas a não fazerem as escolhas que eu fiz.

Outra excelente idéia é ler este post super detalhado sobre os efeitos das diferentes vias de parto da Dra. Luiza Rodrigues, minha maravilhosa irmã, a protagonista de dois partos normais incríveis, médica clínica que estuda Medicina Baseada em Evidências. Apesar de muitos esclarecimentos dela, eu fiz minhas cesáreas, provando que santo de casa não faz milagre mesmo. Precisei de ver o filme para poder entender e admirar as escolhas dela.

Uma das coisas que eu sei que me levou a repensar muitas das questões do filme foi me envolver com movimentos feministas representados no Brasil por grandes blogs como Feminismo Pra Que? , Escreva Lola EscrevaClara Averbuck , e alguns posts do Sakamoto. Abriram meus olhos para o que é o machismo, geralmente de uma maneira interessante, muitas vezes até divertida. Mais feminismo = mais poder para a mulher = menos abuso do nosso corpo e das nossas vontades.

Não sei qual seria o próximo passo. Só sei que fazemos todos (homens e mulheres) parte de um grande grupo de pessoas que pode e vai mudar o mundo. Estou aqui para me juntar com quem quiser dar palpite, divulgar, contar suas histórias, dar novas ideias.

Hoje eu sei que cada uma de nós é parte da solução. Como vamos construir um mundo onde nascer e viver vai ser melhor para todo mundo?

*** SUGESTÕES DOS COMENTÁRIOS ***
(O nome entre parêntesis é da pessoa que sugeriu. Quando não tem é porque o comentário foi Anônimo)

Políticas públicas:
- Ensino sobre o parto normal em escolas como parte da educação sexual (Lulu)

Sites sobre parto humanizado:
- http://vilamamifera.com/
- http://www.euqueropartonormal.com.br/eqpn/
- Grupo no Yahoo chamado partonosso

25 de agosto de 2013

Relato de uma Cesarista Arrependida (Comentários sobre o filme "O Renascimento do Parto")

Assisti ao filme "O Renascimento do Parto". Chorei durante grande parte do filme.

Chorei porque, ao final de cada nascimento por parto normal, eu via o rosto das mães transformando-se:

Sempre me disseram que era isto...


... e hoje aprendi que pode ser isto.

Chorei ao me lembrar que o final de cada uma das minhas duas cesáreas significava o começo de um longo prazo de dores muito fortes. Tenho um baixo limiar de dor, e minhas duas recuperações foram extremamente penosas. Ao final da primeira semana ainda precisava de ajuda para levantar da cama, não podia me abaixar, ajoelhar ou fazer força. Tossir foi doloroso na segunda vez até mais de um mês após a cirurgia.

Chorei ao perceber que parto é uma coisa simples, muito simples, na maior parte das vezes. E os meus tinham tudo para ser. Eu não tinha nenhum motivo concreto para fazer minha primeira cesárea, exceto as "indicações" de que com 40 semanas de gravidez eu ainda não tinha tido contrações, o neném não tinha encaixado e meu líquido começou a baixar. Mesmas "indicações" que minha irmã teria duas semanas antes de dar à luz ao meu sobrinho em um lindo parto normal.

Chorei ao perceber que não tinha nenhum motivo concreto para fazer minha segunda cesárea, seis anos depois da primeira, exceto as "indicações" de que o risco é ligeiramente aumentado e que, se da primeira vez não tive contrações, não teria desta também. Mesmas indicações de três das mães que compartilham seus relatos no filme, e que puderam vivenciar o parto normal na segunda, e na terceira vez, em que foram mães.

Chorei ao perceber que o que me empurrava para a cesárea era o medo, como o filme mostra muito bem, de que eu não seria capaz. Não seria capaz de aguentar a dor das contrações. Não seria capaz de trazer minhas filhas para este mundo de forma segura. Estar anestesiada e colocando a responsabilidade nas mãos dos médicos me fazia me sentir cuidada, protegida, como a incapaz que eu sentia que era.

Chorei por ver que isto me privou de um parto lindo. Privou a mim e às minhas filhas do benefício de uma mãe banhada pela ocitocina, hormônio que nos torna mais amorosas, felizes e pacientes. Me privou de curtir as primeiras semanas de vida das minhas bebês de forma plena, amamentando-as sem sentir dor, dando o primeiro banho junto com o meu marido, andando com elas pela casa ao invés de só carregá-las na cama.

Chorei porque minhas cesáreas, como milhares no Brasil e no mundo, foram desnecessárias. Porque eu tive medo de arriscar sentir uma dor aguda, e acabei sentindo uma dor crônica muito maior.

Choro agora escrevendo este texto, pois sei que esta será uma experiência que não terei, pois não terei mais filhos. Mas tenho duas filhas. E vou lutar, como puder, para que quando for a vez delas, elas possam fazer escolhas melhores e mais bonitas que a minha.

12 de agosto de 2013

Meu Malvado Favorito 2 e a Marcha das Vadias


Já postei no Facebook a revolta que eu fiquei com a cena da Shannon no Meu Malvado Favorito 2 (para detalhes, aqui tem um excelente post em inglês). Neste post, eu quero discutir o que eu e você e a Marcha das Vadias temos a ver com isso.
Shannon transportada pelo Gru e sua companheira...

8 de agosto de 2013

Eu (nao) quero uma casa no campo...

Esta semana bombou no Facebook uma mensagem que se resume em:
1. eu trabalhava demais
2. minha vida era horrível, eu não tinha tempo para nada, principalmente para meus fihos
3. eu descobri a vida no campo, meus filhos tem quintal e não ficam na internet o dia todo
4. hoje eu sou feliz e não volto nunca mais
5. quem não faz isto é porque ainda não achou o caminho da felicidade

Não sou contra este processo, alias, se isto é o que vai te fazer feliz, que bom! Boa sorte, e bora plantar pitanga!

O que eu tenho dificuldade de entender é a relação entre estas coisas. Sim, trabalhar como um condenado e não ter tempo para nada é horrível mesmo. Mas a culpa disto é do fato de que você trabalha demais, e não do fato de que você mora na cidade.

29 de julho de 2013

Filme "Turbo": uma agradável surpresa para as meninas.

De vez em quando comento filmes neste blog, como quando comentei heroínas em "Valente", "Ponyo", "Chihiro" e "Branca de Neve e o Caçador".

Hoje, depois de ver "Turbo" com minha filha Alice de 7 anos (a pedido dela pela segunda vez), venho com boas notícias!

Ao contrário de "Carros" que é indecentemente excludente de personagens femininas memoráveis (segundo Alice tem aquela azul e aquela verde...), "Turbo" vem com uma coleção memorável de belos personagens femininos.

Não, o protagonista não é uma mulher. Nem o cara mais importante, nem mesmo a namorada do personagem principal.

A única a aparecer no poster do filme (que só contem os caracóis) é a caracol cor-de-rosa (preguiiiiça) Burn, que fala de namorados o tempo todo. Acaba sumindo por falta de personalidade.
Única personagem feminina principal,
acaba sumindo por falta de personalidade.

24 de julho de 2013

Situações Limite

Seguindo na publicação dos meus contos (os anteriores estão aqui, aqui e aqui), o conto abaixo se chama "Situações Limite". É mais longo que os anteriores, e eu acho que é mais intenso.



Capítulo 5 - Situações Limite


Eram duas horas da manhã quando o telefone tocou.

Adiei o gesto de atendê-lo até o ponto em que minha paciência teria se esgotado e eu teria desistido. Não desistiram.


21 de julho de 2013

Sempre é cedo demais - Capítulo 4

Estou postando um livro de contos que escrevi. O começo está aqui, depois aqui. O texto abaixo é um dos textos mais antigos que escrevi. Não sei porque gosto dele até hoje. É uma daquelas coisas que eu gostaria de explicar...

Capítulo 4: Biblioteca de Alexandria (1993)


Não é nada preocupante, ou mesmo perigoso. São apenas pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia.

Como naquela vez que chegou, pelo correio, um cartão da Biblioteca de Alexandria, num envelope pardo, sem remetente, com meu nome escrito, à tinta preta, em caligrafia rebuscada e clássica.

20 de julho de 2013

Sempre é cedo demais - Capítulos 2 e 3

Estou postando um livro de contos que escrevi. O começo está aqui. Os dois textos abaixo foram escritos no ano em que morei em Londres. Morar ao lado de um cemitério (literalmente, dava para ver as lápides da janela do meu quarto) e ficar sem sol por seis meses afetaram minha alegria.



Capítulo 2: A Caminho do Cemitério
o caminho

Quem nunca teve que atravessar um cemitério diariamente talvez não entenda porque eu não olho para os lados quando faço o percurso.


Nos primeiros dias, você repara nas lápides, com uma curiosidade mórbida. Lê alguns nomes, acha uma bonita, a outra simples demais. Fica imaginando quem escolheu a lápide. Quem pôs as flores que estão murchando, quem cuida da restauração das que quebram.

19 de julho de 2013

Interlúdio

O grande prazer da minha vida é falar.

Falo demais, eu sei. Falo muito, eloquentemente, compulsivamente, velozmente.

Às vezes isto é bom. Às vezes não.

Hoje foi bom. Muito bom. Falar com pessoas amigas, inteligentes, alegres. Falar por prazer e comunhão.

Obrigada, Lígia.

Sempre é cedo demais : O livro que deu origem à série

Há muitos, muitos anos atrás...

... eu comecei a escrever um livro.

Ele mudou de forma, conteúdo e objetivo várias vezes. Foi uma coleção de contos, um romance compriiido, um monte de pequenas histórias. Em 2008, eu compilei tudo que ainda gostava em um grande PDF chamado "Sempre é cedo demais" (por causa de um poema no final do livro).

De uma certa forma, foi o caminho para chegar no meu blog, e me orgulho dele. Assim, decidi publicá-lo aqui, em partes, começando hoje. Com vocês, minha obra prima!


Sempre é cedo demais
Ana de Oliveira Rodrigues 
19 de julho de 2013


Agradecimentos
Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais. Sem crescer em uma mistura de compulsão, excesso de amor, inteligência absurda e temperamento explosivo, eu jamais seria o que sou, o que seria uma pena. Minhas irmãs não escaparam ao mesmo destino, e tornam minha família completa.

Em segundo lugar, agradeço ao meu marido, constante universal em um mundo de caos e improbabilidade. Simplesmente por ter me impedido de enlouquecer dezenas de vezes, você tornou este livro possível. Por dar razão à minha vida, você o tornou importante.

Agradeço aos muitos amigos que vieram, ficaram ou foram embora, em especial neste momento à Karina, que me mostra quem eu era, à Ruth, que me mostra quem eu posso ser, à Dani, que me mostra quem eu sou e à Lígia, que me mostra quem eu serei.

Por fim, agradeço às minhas filhas Alice e Rosa, que fazem com que tudo faça sentido. Que vocês possam aprender com os meus erros, para que os seus sejam mais divertidos.


Parte I
Contos, Histórias e Outras Verdades


Capítulo 1: A garota, a Moça e eu

A garota sobe na calçada. Ela tem vinte e cinco anos, e lê um livro. Ela está sempre lendo. A maior parte da vida dela é gasta lendo livros. Ela está lendo agora, e ela está andando. 

Na hora que eu a olho, ela está sorrindo. Alguém no livro fez algo simpático. A garota imagina que foi com ela, e fica feliz. A garota quer viver dentro dos livros que lê. Ela gosta dos livros com romance, mas não romance bobo. Ela gosta daqueles em que você sabe desde o começo quem vai ficar com quem, e os casais passam por dificuldades juntos, não aquela bobagem de tentar se encontrar por anos e no final casar e ser feliz para sempre. 

8 de julho de 2013

A escala Barbie-Marlboro

Eu tenho uma teoria maluca (na verdade, tenho várias, mas esta é uma das minhas preferidas).

Eu inventei uma escala, que batizei de escala Barbie-Marlboro para medir o quanto uma pessoa se enquadra  dentro dos padrões de feminilidade e masculinidade da nossa sociedade. Em uma ponta, temos a Barbie, na outra  o Homem de Marlboro.

Enquanto eu faço as unhas
toda semana...

... eu roo a unha do pé.






É divertido ficar pensando onde cada pessoa se enquadra nesta escala, mas é mais divertido ver como casais se encaixam. 

O Homem de Marlboro tende a se casar com a Barbie. Por outro lado, pessoas menos extremas na escala (como eu, que faço as unhas, mas sou engenheira eletricista) tendem a se casar com pessoas mais perto do centro da escala também (como meu marido, que gosta de uísque, mas troca fralda numa boa). Observação importante, eu acho um barato quando as pessoas saem destes padrões! Eu e meu marido estamos no centro justamente porque fazemos várias coisas que a sociedade considera "papel do outro".

Então, para sua diversão, segue a escala de pontos. Cada ponto F (femininos) cancela um ponto M (masculinos), te levando para o centro da escala. Se no final tiver 10 pontos F, você é uma Barbie Perfeita, 10 pontos M, você já pode cuspir no chão e fazer propaganda do Marlboro.

Se você...
  • ... tem mais de 10 pares de sapatos, some um F
  • ... não sabe a diferença entre celulite e estria, some um M
  • ... faz o "pézinho" na nuca, some um F (se não sabe o que é "pézinho na nuca", some 2 M)
  • ... tem uma parafusadeira elétrica, some um M
  • ... tem uma lixadeira elétrica ou uma serra elétrica (e sabe usar), some dois M
  • ... usa rímel, some um F para cada centímetro de rímel
  • ... leu Cinquenta Tons de Cinza, some um F para cada livro que você leu
  • ... acha que só existem quatro cores: Vermelho, Preto, Verde e Azul, some um M
  • ... sabe a diferença entre Pink, Rosa, Salmão e Bonina, some um F
  • ... vai no salão, some um F para cada vez por semana
  • ... toma cerveja, some um M para cada vez por semana
  • ... troca fraldas, some um F por cada filho (a)
  • ... troca lâmpadas e chuveiros, some um M
  • ... nunca viu novela na vida, some 2 M
  • ... faz testes de personalidade como este, some um F
Minha pontuação final foi de 1F, do meu marido 1M (quase zeramos no meio da escala). 

E você e seu parceiro, quantos marcaram? Mandem sugestões para completar a lista nos comentários!

*** ATUALIZAÇÃO ****

Sugestões de leitores:
  • ... tem nojo de piscina de bolinha de parque infantil, some 1 F

7 de julho de 2013

O corpo é da mulher...

Hoje o post é rapidinho. Só para expressar minha indignação com isto:

Meio cedo para impor papéis para a pobre ciancinha, não???
Sim, aparentemente agora existe algo como "fralda para meninas" (que são princesas, claro, e só podem se vestir de rosa, claro) e "fralda para meninos". Era a marca que eu comprava para minha filha, acabo de mudar para a Pampers em protesto.
Se você acha isto um exagero meu, sugiro:
- Ler o blog Feminismo pra que, no Carta Capital, que discute como as questões de gênero estão moldando o machismo e a violencia contra a mulher, de onde veio a foto abaixo, que mostra a Barbie, e como ela seria se tivesse proporções "reais":
Barbie "normal" e Barbie "normal mesmo"
- Ver Slim Hopes , um documentário brilhante sobre como a mídia impõe uma imagem perfeita (princesas) sobre o corpo feminino, alimentando a baixa autoestima e fazendo das mulheres as maiores compradoras em busca da beleza ideal e inalcançável;
- Seguir e apoiar o Miss Representation , uma organização não-governamental voltada para melhorar a auto estima de garotas do mundo inteiro, cujo lema é "Você só pode ser o que você pode ver", oferecendo alternativas para as garotas.

Rosa e seu capacete de Engenheira...
...e seu carrinho de mão.
No final das contas, boicotei a fralda sexista, porque minhas filhas são minhas princesas, mas também são minhas matemáticas, doutoras, pintoras e engenheiras.

**** Atualização *****
Várias pessoas no Facebook fizeram dois tipos de comentários, que eu gostaria de esclarecer aqui, por ter mais espaço:
1) Adoro e uso estas fraldas, elas são ótimas.
Sem problemas! Aliás, também adoro a qualidade das fraldas. Usei elas com minha filha mais velha (hoje com 7 anos) e usei até agora com a Rosa, que tem 1 ano e 4 meses. Em momento nenhum estou dizendo que a fralda é de má qualidade, ou que você que me lê não deveria usá-las. EU estou boicotando, porque acredito que, como consumidora, minha única força para combater o sexismo na indústria é não comprando produtos que eu acredito que são sexistas. Se você não se incomodou, não tem porque não comprar.

2) Não precisa levar isto tão a sério, é só uma fralda rosa.
Não é só uma fralda rosa. Não tenho nada contra rosa (aliás, minha filha se chama Rosa). Mas me incomoda o fato de que é só rosa.
Quando minha filha mais velha pediu um carrinho de controle remoto de Natal, o único cor-de-rosa era da Xuxa, e só tinha controle para frente e para trás!! Não virava de lado. Ofereci a ela qualquer um dos 40 outros, que, pelo mesmo preço, tinham luzes, andavavam para frente, para tras e para os lados, e faziam sons. Ela me disse que não queria, pois não era de menina, porque não era rosa. Combinei com ela de comprar um vermelho e colar adesivos neles. Mas, ao pintar todas as coisas de rosa, estamos mandando a mensagem para as meninas de que o que não é rosa, não é para elas.
Uma cor só é muito pouco... e para bebezinhos, é muito cedo.

Abraços, e continuemos com a discussão!

12 de junho de 2013

Dia da árvore, do índio, da mulher, e outras barbaridades escolares


Inteligência, liderança, competência, não, né?
Acompanhando o (excelente) blog da Clara Averbuck sobre o dia da mulher, me peguei pensando na barbaridade que é o jeito que as escolas celebram estas datas comemorativas. (Outro post maravilhoso sobre o dia da mulher é o do Sakamoto.)

Especificamente no caso do dia da mulher, recebi de presente dos meus empregadores em uma faculdade aqui de BH um curso de auto-maquiagem da Mary Kay. Eu (e algumas outras professoras) ficamos entre sem jeito e meio fulas, uma vez que a mensagem do presente era:
- mulher TEM que ficar bonita
- não interessa se você é professora com doutorado, você QUER é ficar bonita
- você não vale nada para nós (o curso da Mary Kay é gratuito para todo mundo que quiser, é só ligar e marcar)

Sinceramente, podiam ter me dado um vale de R$5,00 em compra na Livraria Leitura que eu ficava feliz... Valorizava quem eu sou (professora, intelectual, etc), era simpático porque me deixava escolher, e, bom, não me ofendia.

As comemorações do dia das mulheres costuma ser das mais equivocadas em geral. Afinal, quantas pessoas sabem que este dia foi escolhido porque um grupo de mulheres grevistas morreram quando tacaram fogo nelas? Aonde que isso combina com ganhar rosas vermelhas?? Mas acho que o dia da Mulher ainda perde disparado para as comemorações do Dia do Indio em escolas de 1o e 2o grau.

Que fofinha, ne?
Será que ela foi expulsa das terras dela?
 Fuçando na internet, descobri que o Dia do Índio, 19 de abril, é celebrado nas escolas em respeito à lei federal nº 11.645, que torna obrigatório o ensino da cultura negra e indígena nas escolas públicas. Criada em 20 de dezembro de 1996 pelo Lula e pelo Haddad, diz que:

“Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.”

De onde o pessoal entendeu que isto era a mesma coisa que pintar a cara com guache e fazer cocar de papel reciclado, eu não sei. Ah, peraí, já sei. No segundo parágrafo fica tudo explicado... "em especial nas áreas de educação artística e...". Isso mesmo, educação artística. Sobra para o professor de educação artística comemorar o dia do índio com as crianças. É verdade que tem a história dos índios e negros nos livros de História e Português, mas, no Dia do Índio, nunca vi ninguém chegar em casa contando uma lenda indígena, ou descobrindo que as ruas de Belo Horizonte (Guajajaras, Tupinambás, Tamóios, etc) são nomes de tribos. É só o cocar. E o guache. E, às vezes, um tambor e chocalho (oooo, humilhação!!!).

Devia ter uma lei para incentivar a consciência artística das crianças, mostrar arte de qualidade, ensinar técnicas variadas, mostrar as diversas correntes artísticas, do Renascentismo ao Modernismo, ao Cubismo e ao Abstrato. Mostrar o mundo enorme e vasto da arte, e da Literatura, e da História. Ficar ensinando nossas crianças a se pintarem de verde no dia da árvore, verde e amarelo no da pátria, de faixas coloridas no rosto no dia do Índio, de coelho na Páscoa é um desperdício... A lei devia pelo menos dar a idéia de mostrar pinturas rupestres, cestas e potes de cerâmica verdadeiros, (ainda que em foto ou filme).

Estas "comemorações" a toque de caixa, com pouca ou nenhuma verba, sem incentivo aos professores, só para governo ver, fazem um desserviço ao próprio tema. Banaliza. A repetição do cocar colorido, ou da rosa vermelha, tira a força da luta dos povos e mulheres que batalharam por seus direitos, e que deveriam ser lembrados neste dia. Me fale o nome de um único índio importante na história do Brasil. De uma feminista brasileira.

Até aprendermos a respeitar a luta do passado, era melhor mesmo a gente comemorar só o Dia da arvore, já que árvore não se ofende.

*****

PS.2: depois que publiquei o post, meu marido fez uma colocação muito boa: "No dia do índio as crianças pintam a cara, batem tambor, uma encenação infantilizadora. Queria ver a confusão que ia dar se alguém resolvesse pintar todas as crianças de negras no dia da Consciência Negra."
E eu imagino que esta diferença seja causada pela quase total ignorância que temos da verdadeira cultura indígena. A cultura negra está em todos nós. Mesmo que representada de maneira equivocada muitas vezes, os negros no Brasil são parte presente de todas as escolas, todas as famílias. Mas o índigena não. Não tem nem um indígena na escola para defender sua honra, sua dignidade, sua cultura.

23 de abril de 2013

Maternar X Trabalhar: Um pedido de Paz

Paz entre as mães...
Esta semana minha irmã me mostrou três posts que discutem a onda de colocar as fotos de filhos como sua foto no Facebook.

O primeiro critica esta atitude, dizendo, em resumo, que esta é a derrota do feminismo, já que as mulheres estariam se identificando apenas como mães, ignorando todas as conquistas do feminismo. Igualando estas mulheres a pessoas sem identidade, desprovidas de ambição.

Os outros dois, um meio piegas e o outro meio irritado, defendem a honra e direito de ser mãe, uma tarefa sublime e uma das maiores (se não a maior) conquista de uma mulher.

Eu fico triste com todos eles. Esta guerra entre Maternar x Trabalhar é um caso clássico de economia, como eu aprendi em um livro divertidíssimo sobre teorias econômicas aplicadas à criação de filhos ("Parentonomics" de Joshua Gans). A idéia básica é esta: toda vez que duas escolhas opostas apresentam muitas vantagens e desvantagens, com opções complexas e cheias de variação, fica muito difícil decidir qual é a melhor escolha. Neste cenário, ao tomar a decisão, você acaba tendo que radicalizar as vantagens da sua escolha, ou as desvantagens da outra, para justificar a sua decisão.

No caso específico do Maternar x Trabalhar, cada mãe (e cada pai) vai ter que equilibrar seus valores, suas condições financeiras, seus talentos e o que é melhor para ela e sua família, e duas famílias nunca serão iguais.

Ao decidir trabalhar fora, tenho mais dinheiro, uma carreira cheia de conquistas e desafios estimulantes, não dependo do meu companheiro economicamente. Eu decido que não tenho talento para criar filhos em tempo integral. A maioria das pessoas assume isto automaticamente de todo homem. Que ele vai ser melhor trabalhando fora de casa do que cuidando das crianças. Uma mulher querer ser assim é meio um insulto. Ela tem que ser sem coração, fria e calculista, para fazer esta escolha. Homens do mundo inteiro fazem esta escolha todos os dias, e não são julgados negativamente por isto.

Do outro lado da moeda, vem a escolha de ficar em casa. Ao decidir estar com seus filhos em tempo integral, estou escolhendo fazer parte de momentos importantes da vida deles. Mais do que criá-los, irei conhecê-los, saber o que meu filho faz, come e gosta. A minha missão e maior conquista passa a ser meus filhos, e aí faz todo o sentido usar as fotos deles como meu perfil, afinal, eles são parte importante de quem sou mesmo.

Os dois lados tem vantagens e desvantagens. Mas a pressão para não errarmos em nossas escolhas, especialmente as relacionadas aos filhos, é enorme. Então a gente radicaliza. A turma do Maternar exagera a alegria obtida com a criação dos filhos e a importância da mãe no futuro do ser humano. A turma do Trabalhar exagera no prazer obtido com a carreira e minimiza a importância do trabalho doméstico. Todo mundo sai perdendo.

Para quem se dedica aos filhos, qualquer problema com eles (genético, comportamental), se torna um reflexo de quem a mãe é. Por exemplo, na reunião com a coordenadora pedagógica da escola da minha filha, ela começou me elogiando pela filha inteligente e líder que eu tinha. Respondi que isso era mérito dela, não meu. Ela: "Mas sem a criação de vocês, ela não seria assim, com certeza." Deixei passar. Logo em seguida, ela me contou das atitudes autoritárias que minha filha estava tendo com os colegas. Ela não disse diretamente, mas eu sabia que ela também achava que isto também era minha responsabilidade. Como já discuti em outro post, já ouvi a frase: "Hitler teve mãe", querendo por a culpa do Holocausto na pobre da mãe do Hitler, ignorando a personalidade dele, o momento histórico, enfim, tudo.

Ironicamente, a pressão em cima de quem decide trabalhar fora é a mesma! Se seu filho está com qualquer problema, é porque você não está sendo presente o suficiente. Quando eu e meu marido viajamos por uma semana, ao voltarmos, minha filha estava com dermatite atópica (provavelmente por nadar em piscina com cloro). Ouvi da pediatra (!!!) que o corpo dela estava reagindo à nossa falta. Trocamos de pediatra, usamos creme hidratante, e, em dois dias, ela estava ótima.

Então, minha proposta é a seguinte:  trégua. Ninguém mais vai criticar a escolha alheia. Se as mães de horário integral querem respeito pelo trabalho doméstico, as que trabalham fora vão apoiar. Se as que trabalham fora precisam de creches mais bem estruturadas e não serem acusadas de serem menos mulheres por isso, as mães de horário integral vão apoiar. Se todo mundo quer uma maior participação dos companheiros em ambos os casos, as mães de horário integral abrem este espaço que não precisa ser só delas, e as que trabalham fora valorizam os homens e mulheres que desempenham estes papéis.

E nossos filhos vão ter problemas. Não vão ser perfeitos, nem excelentes em tudo, nem a melhor coisa do mundo. Serão seres humanos, com personalidade própria, com escolhas e erros, com acertos e talentos. Parte disto será nossa responsabilidade, parte será responsabilidade do mundo, do momento histórico, do sorteio genético e das condições em que eles nasceram. Aceitá-los, amá-los e fazer o melhor possível por eles e por nós, mães de todos os tipos e escolhas, tem que ser o objetivo global.

Assim, todo mundo sai ganhando.

10 de abril de 2013

A fórmula da Criatividade

O cérebro criativo é melhor?
A escola da minha filha mais velha (Alice, 6 anos) fez a reunião de início do ano.
Eu, que sempre fui contra decoreba na escola, aprendi nesta reunião por que decorar algo não é realmente produtivo.
A diretora acadêmica da escola, em um show de apresentação, mostrou que a memorização é a etapa menos complexa do processo de aprendizagem, que, se bem desenvolvido, pode evoluir nos cinco estágios a seguir:
1) Memorização (decorar);
2) Entendimento (compreender);
3) Aplicação (utilizar o que foi compreendido em uma situação prática);
4) Análise crítica (avaliar, criticar, observar falhas e vantagens); e
5) Criatividade (melhorar, modificar, aplicar em áreas correlatas).

Achei fantástica esta descrição, pois hoje em dia, criatividade é superestimada. Parece que a criatividade por si só é considerada o traço de personalidade mais importante que alguém pode ter. Mais do que, por exemplo, a persistência, dedicação, ou paciência (considerados "chatos" ou "muito trabalhosos").

Os cinco estágios descritos mostram claramente que a criatividade é sim, o melhor que se espera em um processo de aprendizagem, mas que, para chegar lá, é necessário o esforço e dedicação dos outros quatro.

Ao dar aulas na faculdade, vejo meus alunos enfrentando este dilema diariamente. A geração voltada para o "eu" (em inglês, I, como em iPhone, iPod, iPad), para o resultado instantâneo (Instagram, Facebook, mensagens de texto), que tem sérias dificuldades em cumprir as fases do entendimento e da análise crítica. Idealmente, para estes alunos, a ordem seria: memorização -> aplicação -> criatividade.

Mas a criatividade não chega, pois as etapas evitadas fazem falta. Exemplos na mídia de garotos de 17 anos vendendo programas por milhões ou de como nem Mark Zuckerberg, nem BIll Gates ou Steve Jobs terminaram a faculdade tornam o conceito de trabalho árduo e recompensador muito distante.

O que os jornalistas não mencionam nestas histórias é que todas estas pessoas trabalharam MUITO durante MUITOS anos para desenvolver as habilidades formais que as permitiram chegar onde chegaram, como mostra o excelente livro "Fora de série - Outliers". Tenho certeza de que na hora de escolher um médico ou advogado, qualquer um de nós prefere alguém que se dedicou por anos a adquirir conhecimento formal do que alguém sem formação e "criativo".

Então porque o mito do trabalho criativo rápido, fácil e lucrativo é muito mais divulgado? Porque estamos em um mundo onde o sucesso pessoal é visto como reflexo de quem você é, independente do ambiente, de onde você começou, das oportunidades que teve. Se o Bill Gates pode, você também pode, é a mensagem. Mas não através do trabalho duro, e sim através de alguma característica pessoal (gênio, brilhante, criativo, iluminado). Acreditar que o sucesso depende da faculdade que você cursa, ou da qualidade da sua escola de primeiro grau, ou até mesmo da cor da sua pele, faria com que tivéssemos que exigir condições iguais para todos. Do jeito que está, é cada um por si, pois a POSSIBILIDADE de sucesso existe para todos (mesmo que PROBABILIDADE seja mínima). É o sonho de ganhar na loteria, com uma capa moderna.

Voltando à criatividade, ainda há a confusão entre:
1) a criatividade produtiva (aquela que resulta em produtos, vendas, melhorias tecnológicas) e  artística (que resulta em quebra de paradigmas, desafio das normas vigentes); e
2) a criatividade "porra louca" (uso de substâncias ilegais, quebra de leis, não enquadramento "no sistema").

Miró no começo (+-1920)
Miró (1968)
A criatividade que vem do processo bem desenvolvido de aprendizagem é a produtiva e artística. Quem já teve a chance de ver trabalhos iniciais de grandes artistas, como Miró, percebe que ele começou no "básico" e foram muitos, muitos trabalhos, antes de atingir o "avançado". Picasso, Monet, Van Gogh e todos os grandes artistas pintaram muita porcaria antes de serem capazes de ser realmente inovadores. Conhecer o clássico é a única forma de criar o moderno.

Mas a criatividade "porra louca", essa é fácil. E é a criatividade defendida pelos adolescentes, e, às vezes, propagandeada como a próxima onda de trabalhos. No Google, dizem, você pode jogar videogame no trabalho, cortar seu cabelo ou até lavar sua roupa. A idéia é que para fazer grandes produtos, é preciso ser criativo, e ser criativo é ficar à toa, brincando. Não me espanta que meus alunos de programação não queiram estudar. O que a maioria das pessoas não percebe é que estas pessoas fariam todas estas coisas em casa, após o horário de trabalho. Agora, as empresas fornecem todos estes serviços para que elas não saiam do escritório. Estas maravilhas para quem trabalha na Google não é para fazer os funcionários felizes, ociosos e criativos; é para que eles possam trabalhar mais, sem interrupção. E todos que estão lá, são extremanente competentes, com uma excelente formação profissional.

O que me lembra uma história famosa (não sei se verdadeira),  sobre o cara que inventou a super-aspirina (e ganhou um Nobel por isto). Dizem que ele rabiscou a fórmula da super aspirina quando estava tomando cerveja em um boteco. Perguntaram a ele se isso era verdade. Ele disse que sim. Perguntaram para ele como se fazia este tipo de descoberta no boteco. Ele respondeu: primeiro você faz seu curso superior na melhor universidade do mundo na área de bioquímica. Depois você faz seu mestrado em bioquímica nesta universidade, tendo um prêmio Nobel como orientador. Depois você faz seu doutorado na mesma universidade, tendo outros dois prêmio Nobel como orientador e co-orientador. Aí, você senta no boteco, pede a cerveja, e inventa a super-aspirina.

Precisamos de criatividade sim. Mas, para atingí-la, a fórmula é dedicação, paciência e trabalho árduo.

22 de janeiro de 2013

MacLanche Infeliz

Quem é o responsável por fazer esta placa?
Faço parte de um grupo de discussão na lista da Liga Humanista Secular , onde um dos tópicos da semana foi se o Governador Geraldo Alkmin deveria sancionar uma lei que se propõe a combater a obesidade infantil através de:
- proibir a venda de alimentos com brinde ou brinquedos; e
- proibir a publicidade de alimentos não saudáveis em rádios e TVs das 6h às 21h, e também em qualquer horário dentro de escolas públicas e privadas.

Como em toda discussão na internet, logo surgiram dois grupos opostos. Um achando que o estado não tem o direito de interferir no direito do cidadão de comer porcaria, que o dever de cuidar disto é dos pais. O outro lado acha que o estado tem sim que proteger as crianças, inclusive dos pais, se necessário.

Segue uma parte dos comentários:
Leandro:
"Que tal uma lei obrigando que as crianças façam no mínimo 2 horas de atividade física por dia, já que o sedentarismo é uma dos aliados da má alimentação no caso da obesidade? Mais até. Que tal uma lei que obrigue os pais a instalarem nos video-games, celulares e computadores um sensor que permita ao governo controlar quanto tempo seu filho utiliza estes aparelhos, já que eles, aliados à má alimentação e ao sedentarismo, são as principais causas da epidemia de obesidade infantil? Posso estender esta lista até... Já que os pais não conseguem cuidar dos próprios filhos, que deixemos que o Estado o faça!" 


Eli:
"Fácil dizer quando não é você tentando educar uma criança enquanto a TV deseduca."


Leandro:
"Em geral existe um botão bem interessante no controle remoto das televisões parecido com este: http://en.wikipedia.org/wiki/File:IEC5009_Standby_Symbol.svg
E é muito útil.
Existe também uma palavra bastante interessante que algumas vezes os pais devem dizer aos filhos: "não". Geralmente ela vem em maiúsculo, tipo "NÃO". Funcionou comigo. Geralmente era seguido com "pode", como em "não pode" ou, mais frequentemente com "tenho dinheiro pra comprar isso", como em "não tenho dinheiro pra comprar isso".
Outras vezes pode ser substituído por "nem", tipo em "nem inventa".
E meu vício em chocolate não está nenhum pouco relacionado à este trauma.
Não me leve a mal, estou sendo visivelmente irônico. De forma séria, acho horrível estas iniciativas de colocar na mão do Estado o que é função dos responsáveis pelas crianças.
E sim, já assisti a boa parte dos documentários sobre consumismo infantil. Mas creio que não seja 10% dos disponíveis, por isso não me importo com a indicação de outros." 


Alexandre:
"Leandro, pelo amor de deus... Comparar essa lei com uma tentativa do Estado educar as crianças no lugar dos pais é completamente ridículo.
Pais e mães estão em desvantagem permanente frente a publicidade. E publicidade NÃO se resume a TV, a publicidade é onipresente. Não é tão simples quanto "desligar a TV". E mesmo "desligar a TV" não é tão simples quanto parece - às vezes a meia hora em que o filho assiste a um programa de TV são os únicos 30 minutos que os pais têm de sossego no dia inteiro.
Esse negócio de colocar brinquedos em lanches atrai crianças como mel atrai abelhas, e isso atrapalha, e muito, pais que tentam alimentar seus filhos de maneira saudável enquanto o filho pede McLanche Feliz incessantemente.
Não sei por que tanto medo de regulamentar esse tipo de coisa. Propagandas de cigarro, por exemplo, são limitadíssimas por regulamentação, mesmo para adultos. Por que seria pior regulamentar outros tipos de publicidade e jogadas de marketing igualmente nocivos?"


Leandro :
"Até hoje não sei se concordo com a proibição das propagandas de cigarro na televisão, nem daquelas nos maços. Não fumo, não bebo, mas não vejo com bons olhos alguém querendo decidir por mim o que posso ou não assistir ou consumir, quando isto afeta única e exclusivamente a minha vida e meu corpo.
A culpa da obesidade das crianças é única e exclusivamente culpa dos pais. Pais que quase sempre têm uma alimentação tão horrível quanto seus filhos. Ah, legal! Vamos então proibir a veiculação de propagandas sobre alimentos que fazem mal à saúde dos adultos também! Já viu pais que possuem bons hábitos alimentares (ou ao menos hábitos não tão ruins) e ensinam tais hábitos às crianças terem filhos obesos? Provavelmente há, mas creio que tais casos sejam exceção.
Se seu filho pede incessantemente um MacLanche Feliz, diga não. Ele vai chorar, espernear, mas isto tudo é chantagem emocional. Ele sobreviverá até os 18 ao menos.
E, analisando o fato de que a TV está influenciando tanto na saúde das crianças me leva a pensar uma coisa: pra isso acontecer, a televisão deve exercer um papel mais ativo do que qualquer outra coisa na vida delas. E, olhando para o mundo real, quantos são os pais que simplesmente "largam" os filhos na frente da televisão, para que eles não encham o saco ou porque os pais têm algo mais importante a ser feito (trabalhar). Quantos destes pais incentivam os filhos a outros tipos de atividades? Pedalar na rua (não pode, é perigoso, tem carro, tem traficante, tem...), ler livros ou mesmo atividades criativas, tais como desenhar, atividades manuais, etc? Não dá, já que os próprios pais provavelmente não tem tais hábitos. E, já que não conseguem educar os próprios filhos, deixam que a escola ou outro agente externo o faça."


Bom, aí eu decidi entrar na discussão:
"Sou mãe de duas meninas, 6 anos e 10 meses.
Nenhuma das duas toma refrigerante, come MacDonalds ou porcaria doce durante a semana.
Sabem por quê? Porque eu meu marido decidimos que eu trabalharia só meio horário, para que eu pudesse estar com elas.
Mas sabe quantas mães PODEM fazer isto? Pouquíssimas. E sabe o que isso fez com minha carreira (até então super bem encaminhada): estagnação, retrocesso.
Entao vamos parar de culpar pais em geral. A esmagadora maioria dos pais quer o melhor para seus filhos, e estão tentando com todas as forças, o melhor que conseguem.
Leis permitem que essas pessoas tenham referências. Pessoas com pouca formação acham que dar MacDonalds para o filho é "dar para o filho um luxo que eu nunca tive", e não uma escolha errada. Veja a questão de bater nas crianças: eu abomino a idéia de bater nas minhas filhas, mas tenho amigas que realmente acham que ao dar a "palmada educativa" estão fazendo o melhor para o futuro dos filhos, os ajudando a crescer e desenvolver. Mas a lei veio, e elas tiveram que se perguntar, será que eu estou certa??
A televisão educa seus filhos porque pai e mãe estao trabalhando para pagar o inglês e a natação, para que os filhos tenham chance de "ser alguém". Fora a escola e a saúde, que deviam ser direito de todos e obrigação do estado e que consome boa parte do salário dos pais.
Então, empatia é bom, e todo mundo gosta, e respostas simples que culpam o caráter dos envolvidos (pais relaxados e incompetentes) ao invés da estrutura total (falta de valorização do trabalho doméstico de quem cuida das crianças; falta de estrutura de creches, escola e saúde para quem precisa trabalhar; falta de informação e cultura das populações carentes, pressão da indústria de alimentos, entre outras) são mais fáceis de engolir, e de esbravejar, mas são geralmente incompletas." 
 


Com isto, a discussão se encerrou, o que eu achei uma pena, pois acho que este assunto rende muito mais idéias. Mais no campo da proposta (tá, o problema é o ambiente, como mudá-lo, então), do que no da culpa (pais, estado, MacDonalds?).
  
Dias depois, assisti o excelente documentário "Muito Além do Peso" (disponível na íntegra gratuitamente), que discute várias destas questões de maneira mais detalhada e com mais informações.

Por fim, meu marido trouxe uma idéia que eu acho ainda mais pertinente do que todas as discussões anteriores: "As crianças não são propriedade dos pais, são cidadãs brasileiras. Por isso, o estado tem a OBRIGAÇÃO de fazer leis para protegê-las, independentemente do quão bom é o trabalho dos pais."

E você, o que acha deste assunto? Deixe sua opinião nos comentários!

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...