22 de novembro de 2013

A realidade, a adversidade e a calamidade

Estava vendo um filme infantil (Ponyo) com minhas filhas, e pensando em calamidades.

No filme, uma enorme tsunami atinge uma cidade, que fica submersa. As pessoas no filme se comportam com calma, gentileza, coragem. Os protagonistas, crianças de 5 anos de idade, lidam com a situação como se fosse apenas uma aventura. Em momento nenhum se apavoram, ou tem medo da tragédia, o que confere ao filme uma aura de fantasia e lirismo.

Mas, e na realidade? No Brasil somos pouco acostumados à tragédia natural de grandes proporções. As poucas que presenciamos (enxurradas, desabamentos) são restritas geralmente à população de baixa renda, relegada à terrenos perigosos em tempos de chuva normal. Mas a classe média está em geral protegida de inundações, chuvas intensas e ventanias.

Este sentimento de segurança climática vem, na minha geração, associado à um sentimento de segurança política. Não temos guerra civil, ditadura, bombardeios.

A segurança também se estende à nossa saúde. Somos bem tratados por médicos competentes, pagando convênios seguros e tendo acesso à remédios de última geração. Doenças sérias acontecem, mas a expectativa de vida é altíssima, os tratamentos eficientes, a mortalidade muito baixa.

Por tudo isto, as pequenas adversidades da vida se tornam grandes catástrofes, como mostra o site Classe Média Sofre. Cada pequena dificuldade é uma luta tremenda, cada arranhão no joelho uma doença mortal.

Recebi de um aluno um pedido de ajuda por e-mail, onde ele dizia estar encontrando “enormes dificuldades” para fazer um trabalho proposto, e me enviava o que já tinha feito. Ao abrir o arquivo, me surpreendi em notar que ele não tinha feito nada do trabalho. Nem o pedaço que era igual a um exercício que resolvi em sala. A tal “enorme dificuldade” era na verdade a primeira dúvida que ele teve. Desistiu e pediu arrego.

Nem de longe quero sugerir que preferiria que tivéssemos mais catástrofes. Mas deveríamos, de alguma forma, perceber como nossas vidas são protegidas do ruim, para que pudéssemos apreciar o bom. Imaginar que a casa pegou fogo e perdemos todos os nossos bens materiais pode parecer mau agouro ou pessimismo, mas também pode dar uma dimensão do quanto estas coisas são pequenas quando comparadas à trágica notícia desta semana da menina de 2 anos que morreu porque o pai a esqueceu dentro do carro.

Cada dor é diferente, e não dá para comparar, mas temos parâmetros universais gerais, sim. Morte, doença crônica e calamidades naturais deveriam estar muito, muito acima de perder a empregada, trânsito ruim e unha quebrada. As pequenas adversidades do dia a dia, acumuladas, não são uma grande tragédia.

Duvida? Pergunte se eu gostaria de não ter que lidar com a birra diária da minha filha de dois anos. Claro. Mas não se o custo fosse ela não ter sobrevivido à coqueluche que teve aos três meses.

E o efeito positivo desta visão pessimista é que ter esta noção pode nos tornar seres humanos muito, muito melhores. Em épocas de catástrofes, somos solidários, atenciosos, paramos de perseguir o dinheiro como se fosse o que mais importasse, somos o melhor que podemos. É claro que sempre tem uns malas para saquear e tentar se aproveitar, mas, no geral, as pessoas olham suas prioridades com uma urgência que oferece foco e clareza.


O motivo deste efeito eu aprendi vendo uma palestra excelente no TED sobre o paradoxo da escolha. Não ter escolha é não ter liberdade. Ter algumas escolhas é ter mais liberdade. Mas ter escolhas demais não é libertador. É paralisante. Quando a tragédia atinge, suas escolhas se restringem. Não são zero, mas são muito menores. Você pode escolher ajudar aos outros e a sim mesmo, ou desistir. E, em geral, as pessoas se ajudam, reconstroem, se unem.

Temos escolhas demais no mundo ocidental de classe média. Um futuro incerto, cheio de opções com pequenas diferenças, para as quais damos importância demais. Imagine-se daqui a 30 anos. O que você gostaria de estar fazendo? Pare tudo que está fazendo agora, e concentre-se neste objetivo. É o único que importa.







7 de novembro de 2013

Escolhas da vida

Shampoo que combate a caspa causada pelo stress.

Desodorante 24 horas para a correria do dia a dia.

Sabonete íntimo que elimina os odores da lingerie sexy.

Corretivo para disfarçar olheiras.

Base para parecer mais nova.

Refri diet para manter o peso ideal.

Roupa da moda para mostrar que venceu na vida.

Salto alto para dizer o quanto é poderosa.

Base reparadora para unhas fragilizadas por esmalte.

Amônia para alisar os cabelos.


Eu escolhi os produtos certos

...ou a vida errada?

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...