20 de fevereiro de 2015

50 tons de cinza: os livros, o filme, e como tudo isso tem a ver com a propaganda da Dior

Como já publiquei aqui,  eu li 50 tons de Cinza. Acabei lendo os três livros, e agora vi o primeiro filme. Mudei muito de idéia desde que escrevi aquele primeiro post. 

O livro (e o filme) é muito machista, a personagem principal é uma tonta, o poder do dinheiro como arma de sedução/convencimento é muito claro. Assim como o livro é mal escrito, o filme é mal filmado (tem uma cena em que ela chora, e a chuva escorre na janela junto, beeeemmmm piegas).

Mas eu não conseguia parar de ler, tanto que acabei lendo os três. E achei excitante sim (só o livro. O filme é uma grande bobagem [detalhes abaixo]). Pelo menos para mim, o livro trouxe:
  • A oportunidade diária de pensar em sexo, o que é muito, muito, muito, muito difícil quando se tem duas filhas, casa e trabalho enchendo o saco o tempo todo.
  • A descrição literal de cenas de sexo explícito, o que é raro na nossa cultura, onde as opções são romances água com açúcar e pornografia. Concordo que as cenas do livro são quase como pornografia, mas, acreditem ou não, Anastacia sempre sente muito prazer nas transas com o Gray. Sempre achei que nos romances faltava pimenta, e na pornografia sobrava sofrimento da mulher.
  • Sobre o sado-masoquismo mostrado no livro (e muito mais diluído no filme) eu só fui entender por que me dava tesão quando li outro livro: “O Mito da Beleza”. 
A submissão feminina é um fetiche que está em toda a nossa sociedade. Basta ver qualquer revista de moda, propaganda de qualquer coisa, para ver como o “sexy” geralmente é uma mulher sendo agarrada meio a força, ou assustada, ou violentada.

Como exemplo, colei abaixo uma pesquisa randômica que fiz. Entrei no Google, digitei "Dior", fui nas imagens. Faça o mesmo para marcas famosas de roupa, perfumes, e vai se espantar com o resultado.

Pesquisa randômica 1

Pesquisa randômica 2

Pesquisa randômica 3


Não achamos isto sexy porque É sexy. Achamos sexy porque desde pequenas somos ENSINADAS de que isto é o sexy. Onde estão as imagens de pessoas que se amam fazendo sexo de forma consensual, com prazer mútuo? Em lugar nenhum (como já constatei aqui). 

Então, depois de ler o “O Mito da Beleza”, confesso que perdeu a graça. Quando entendi que o sentimento de tesão que eu sentia não era meu, era imposto pela propaganda, a ilusão se desfez, e a idéia de que isso era sexy desapareceu.

Para quem não leu os livros,  ainda acho que vale a pena ler pelo menos o primeiro livro (e é pena mesmo, porque é dureza). Nem que seja para entender como a mulher é representada, o fenômeno de popularidade que foi e testar as próprias reações (vendo como, mesmo sem querer, somos influenciadas pelo que a mídia nos mostra diariamente). 

Sobre os filmes? Vi o primeiro, sozinha, por absoluta falta do que fazer (estava em um shopping esperando meu marido, em uma cidade estrangeira). Nem a parte do sexo quente (no caso, morno) salva, na minha opinião. Os dois atores são fracos. Um bom texto na mão deles já seria difícil decolar, este texto linear, fraco e sem grandes falas, fica monótono. Segue ao livro à risca, e não toma nenhuma liberdade artística de tentar salvar o que é, no fundo, uma história sobre o poder do dinheiro.

Dinheiro, que, como disse uma grande amiga, não vou continuar a dar para financiar este tipo de produção. Por isto, não devo ver os outros dois. Mas fico feliz que a polêmica em torno dele permita que possamos discutir mais abertamente feminismo, propaganda, violência e sexo.

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