26 de dezembro de 2012

Assustando a Grávida


Existe um costume muito curioso que eu vivenciei durante minhas duas gestações : o costume de assustar a grávida com histórias horrorosas.
(Isso sim é assustador!)

Não interessa em que mês (ou semana, para as que já tiveram filhos) da gestação você está, o diálogo é mais ou menos assim:
Pessoa bem intencionada: - De quantos meses você está?
Grávida inocente: - Três..
Pessoa: - Três?!? Sério?? Minha (cunhada/vizinha/prima de segundo grau) perdeu o nenem quando estava com três meses! Foi de uma hora para a outra, o médico falou que estava tudo bem num dia, no dia seguinte ela acordou com dores, foi ver, tinha perdido.

Esse tipo de história aparece em quase toda conversa, em todos os meses. É um tormento.

A mais assustadora que eu ouvi foi a do marido que chega em casa e acha a mulher grávida de oito meses morta esvaída em sangue no chão da sala. Eu estava, claro, de oito meses quando ouvi.

E a grávida desavisada, coitada, tenta saber mais detalhes, evitar que aconteça com ela.  Na minha primeira gravidez, eu ficava apavorada, pensando: por que raios as pessoas fazem isso??? Na segunda, já bloqueava o assunto pensando "ok, é só mais uma história de assustar a grávida". 

Hoje, acho que entendo, e às vezes, até me pego apavorando grávidas sem querer. Por muito tempo, a nossa espécie viveu em grupos pequenos, de até 50 indivíduos. Nessa situação, era fundamental que todas as grávidas do bando fossem avisadas que a grávida que comeu aquela planta espinhuda perdeu o bebê. 

Mas, na nossa aldeia global de bilhões, agora ficamos sabendo não só da planta espinhuda, mas de absolutamente tudo que pode dar errado com todas as grávidas de todas as aldeias do mundo. É muito acidente, acaso e azar  para uma grávida só.

Por isso, da próxima vez que você for "avisar" uma grávida daquele caso horrível do nenê sem cérebro, ou que você grávida ouvir que o coração do bebê parou de bater um dia antes do parto, lembre-se que 90% de todas as gravidezes são tranquilas (97% das que passam de 12 semanas), sem problemas e nasce um bebezinho fofo no final, e que, muito provavelmente, esta é a história que importa nesta gravidez.

Eu não queria ser Feminista


Tenho acompanhado os posts excelentes de Escreva Lola, Escreva. Feminista brilhante, ela levanta questões fundamentais sobre a violência contra a mulher, direitos humanos, sexo, arte, maternidade e muito mais.

Minha Mente.
Meu Corpo.
Minha Escolha.
Depois de ler uma longa seqüência de posts, me peguei não querendo mais ser feminista, da mesma forma que eu não queria que houvesse pobreza no mundo, ou cadeia, ou guerra.

O fato de que precisamos de lutar para que mulheres não sejam surradas por seus companheiros, para que lésbicas não sofram estupro "corretivo", para que  grávidas em risco de vida possam abortar, para que mulheres e homens sejam igualmente respeitados em trabalhos iguais, tudo isso soa óbvio demais. Eu não queria viver em um mundo onde estes direitos ainda não são, nem de longe, garantidos.

Mas não posso me dar a esse luxo. Tenho que fazer cara feia quando ouço piada machista; tenho que votar em mulheres; tenho que evitar a tentação social de criticar outras mulheres pelo jeito que ela se veste, ou seu comportamento sexual; tenho que encorajar minhas filhas e alunas mulheres a se dedicarem à matemática e às profissões de prestígio, onde ganharão quase o mesmo que seus companheiros homens.

Tenho que fazer isto tudo por mim, por minhas irmãs, por minha mãe, por minhas filhas; e pelo meu pai, meu marido e meus cunhados e sobrinhos, que viverão em um mundo melhor, mais justo e mais feliz.

Feliz 2013, com a esperança de um mundo mais feminino.

29 de outubro de 2012

Sou mulher, mas sou limpinha

Li esta semana (super atrasada), que em Maio deste ano um passageiro se recusou a voar em um avião da TRIP alegando que não voaria com um piloto mulher.


"Feminismo é a idéia radical
que mulheres são gente"
Até aí, tem troglodita sobrando no mundo mesmo, não me espanta. O que me espantou foi o tom da reportagem "Preconceito em Confins", na revista Veja BH, que teoricamente estaria defendendo a pilota:

"Pilotar jatos não é nenhuma novidade para a mineira Betânia Porto, de 34 anos. Só na Trip Linhas Aéreas ela já trabalha há quase uma década. Em seu currículo, constam mais de 3 000 horas de voo. Sua experiência, porém, nem sequer foi considerada pelo engenheiro Jefferson Jaime Cassoli..."

Sei que a maioria das pessoas, ao ler esta reportagem, não vai se espantar. O preconceito da Veja, ao contrário do preconceito do engenheiro, não é óbvio. 

A revista defende a pilota e critica a atitude do passageiro não porque ela é mulher, mas porque ela é competente. Me lembra uma frase antiga (HORROROSA), que dizia: "Fulana é negra, mas é limpinha." Ou seja, o fato dela ser negra é "compensado" pelo fato de ser limpinha, gerando quase uma neutralidade. 

Ao ler a reportagem, vi isso: a pilota é mulher, mas é competente. O fato de ser mulher (grave defeito) é compensado pela competência (inesperada), que é inclusive atestada por um homem: 

“Ela foi a primeira mulher a quem instruí, é aficionada da aviação”, lembra o professor José Efigênio Dionísio da Silva, que deu aula a Betânia em 1995. 

O fato de ela ser competente não deveria em momento algum entrar em discussão. Se ela fosse absolutamente incompetente, ainda assim o passageiro estaria errado, pois ele não questionou a competência dela (sobre a qual ele não tinha informação nenhuma). Ele questionou o fato, imutável, dela ser mulher.


Uma bela discussão deste tipo de raciocínio está no filme "Little Woman", de 1994. No diálogo, um homem que defende o voto das mulheres diz que elas deveriam votar porque são boas, e escolherão bons candidatos. A personagem Jo March responde que: "I find it poor logic to say that because women are good, women should vote. Men do not vote because they are good; they vote because they are male, and women should vote, not because we are angels and men are animals, but because we are human beings and citizens of this country."
(É uma lógica pobre dizer que mulheres devem votar porque são boas. Homens não votam porque são bons; eles votam porque são homens, e mulheres devem votar, não porque são anjos e homens são animais, mas porque somos seres humanos e cidadãos deste país).


Do outro lado da moeda, temos que também fazer nosso mea culpa: quantas de nós confiam implicitamente em homens para: tomar conta das crianças, fazer compra de supermercado, lembrar de marcar dentista, escolher um apartamento, ser empregado doméstico, ou professor de escola infantil?

Como aprendi com um grande escritor, o Seldo, só teremos uma situação de igualdade em áreas segregadas, da engenharia à enfermagem, da pedagogia à computação, no dia que aprendermos a confiar (ou não) na capacidade do outro independente de gênero.

Até lá, muito troglodita vai poder pensar que pode estar meio certo.

26 de setembro de 2012

Deixar chorar ou não deixar, eis a questão.


Ontem à noite fiquei tentando fazer Rosa dormir por mais de duas horas.

Ninguém, ninguém MESMO quer ver isto...
...nem quem ferberiza!
(obs: esta nao é a Rosa...)
Ela normalmente dorme a meia noite, mas eu queria que ela dormisse mais cedo para que eu pudesse dormir mais cedo. Juliano (maridão) está viajando, o que me faz ter que levantar às 5:45 da madrugada para deixar minhas duas meninas (Alice 6 anos e Rosa 6 meses) na escola antes de ir dar aula.

Tentei todos os métodos. Dei mamadeira, peito, brinquei com ela até ela cansar, ninei no colo, deixei no berço enquanto conversava com ela, vimos televisão juntas, enfim, tudo. Só não tentei o método que acabou funcionando com Alice: deixar chorar, confortando de tempos em tempos, até ela dormir.  O que, no mundo das mamães, é conhecido como "ferberizar" por causa do nome do médico que popularizou este método: Ferber.

Toda vez que se fala no assunto, uma disputa acirrada entre as mães aparecem. Tem a turma que jura pela eficiência, que a criança desenvolve auto controle, que fica mais feliz (depois que funciona), e, tem a turma que diz que "jamais teria coragem de deixar o neném chorando sozinho, que é maldade". Tem um artigo que minha irmã acaba de me mandar, que discute justamente esta polaridade. Quase ninguém se classifica no meio termo. 

A frase do artigo que mais me impressionou foi: "Mas como, minha filha, estão dizendo que a Ciência agora mostra que devemos deixar as crianças chorando até que durmam sozinhas? Nós fizemos errado todo esse tempo?" (ela com os três filhos que teve e eu com os meus)

O grande medo é esse: de ser uma mãe que está fazendo tudo errado. Se você está fazendo de um jeito e sua amiga faz do jeito contrário, uma de vocês está errada. Como pode ser possível as duas estarem certas? E, então, cada uma se sente na obrigação de provar por A+B que a outra está errada, gerando este fosso entre as opiniões. Isso acontece com assuntos triviais como marca de fralda (Pampers ou Turma da Mônica é igual Atlético e Cruzeiro entre as mães) até coisas sérias como tempo de castigo, métodos para a criança comer ou o que fazer em caso de febre. Tempo de amamentação e tipo de parto (normal versus cesárea), então, é final de copa entre Brasil e Argentina.

Pois eu acho que tem jeito sim. A resposta está no fato de que são crianças e mães diferentes. O que funciona com uma, não funciona com outra. O que funciona com uma mãe pode ser insuportável para outra. Mas isto não significa que é "maldade",  ou "falta de amor". É só diferente. E diferente é bom.

Um amigo meu costumava dizer: "Mãe, mesmo quando está errada, ainda está 50% certa." Ele tem razão. Devemos aplicar isto para todas as mães, mesmo as que não concordam com a gente.

Voltando ao caso específico do deixar chorar, fiz com Alice. Ela tinha 8 meses, e chorava no nosso colo por duas horas. Era um inferno. Ela beliscava meu braço, se contorcia, se machucava e me machucava. Não aceitava chupeta, gritava sem parar. Acabava dormindo de cansaço, de tanto chorar. Decidimos, depois de tentar todas as outras alternativas, tentar o Ferber. Depois de uma semana (que não foi fácil), ela passou a dormir sozinha em 15 minutos. Sem o caos que era antes. Até hoje, seis anos depois, a rotina de sono dela é uma beleza. Ela dá boa noite acordada, sorrindo, e dorme sozinha. Não me arrependo, e sei que não faltou carinho nem amor no processo.

Mas Rosa tem outra personalidade. Apesar de não querer dormir, ela não passa este tempo sofrendo. Se estiver no colo, ou do meu lado (com o pé encostado em mim), ela não chora. Eu não vejo sofrimento e vontade de dormir sem conseguir (como via com Alice). Vejo uma criança que, simplesmente, não quer dormir naquele momento. Fico tentando outras coisas por mim. EU preciso dormir. Mas isto não significa que valha a pena fazê-la sofrer. Por isto eu dou peito, canto canções, passeio pela casa, troco a roupa (será que está com calor), troco a fralda (será que o xixi está incomodando), dou outro peito, troco a roupa de novo (agora ela está soluçando de frio), vejo televisão com ela deitada do meu lado, faço carinho nos pés, balanço ela no escuro caladinha, mais um peito (o terceiro), uma mamadeira (quem sabe o peito já não tem leite).

Por fim, depois de duas horas, desisti de fazer ela dormir às 11:56h, e deitei na minha cama com ela do lado. Ela então, fechou os olhos e dormiu.

** E você? Ferberizou? Nunca ferberizaria? Deixe sua opinião nos comentários!! **

25 de setembro de 2012

A falta da cara metade

Será que foi esse?
Conheci meu marido, Juliano, quando tínhamos 16 anos, no 3o ano do 2o grau.

Um dia, no meio de uma aula, cheguei para ele e disse:
- Estou querendo ir ao cinema ver "Traídos Pelo Desejo" (ele jura que foi "Indochina"). Quer ir comigo?

Ele, depois de alguns minutos pensando, disse, simplesmente:
- Sim.

Eu, começando o que seria uma longa vida de abusos, completei:
Ou esse?
- Mas eu tenho aula de inglês antes, então você vai ter que me esperar por duas horas na biblioteca do ICBEU.

E ele foi. E me esperou. E vimos o filme. E conversamos por horas, antes e depois, voltando para casa no mesmo ônibus. Viramos melhores amigos.

Nos anos seguintes, ele namorou duas de minhas melhores amigas. Eu namorei alguns de seus amigos (o número exato eu prefiro omitir...). Nestes anos, às vezes, cogitamos namorar. Mas nunca era o momento certo. Ou eu estava namorando, ou ele.

Finalmente, quando tinha 8 anos que nos conhecíamos a janela aconteceu. Namoramos, moramos juntos e casamos, em pouco mais de um ano. E estamos juntos há dez.

Tem horas que eu não sei mais como estar sem ele. Já vivi mais tempo depois que eu o conheci do que antes de conhecê-lo. Toda a minha vida adulta aconteceu com ele.

Então, quando acontece, como agora, de ele ter que viajar a trabalho, me sinto faltando algo. Passo todos os dias meio esperando ele chegar no final da tarde. Meio catalogando mentalmente o que quero contar para ele. Pela metade.

Não vou dizer que não temos nossos problemas. Já tivemos fases ruins, chegamos a ficar separados por seis meses. Tem horas que ele usar minha toalha (tem jeito de ser mais clichê??) me deixa furiosa. Mas a gente se conhece, nosso humor é o mesmo, a gente se completa. E eu sinto muito a falta dele.

Volta logo, Ju. Tô com saudade.

21 de setembro de 2012

Dar a Luz

Lustre do quarto de Alice
Quando eu estava grávida de minha filha mais velha, minha irmã Luiza me deu um lustre de sol maravilhoso, que eu coloquei no quarto de Alice com papel de parede de nuvens.

Hoje comprei um dimmer (controle da luz) para o quarto que Luiza está montando para esperar a chegada de seu segundo filho, o Antônio.

São pequenos presentes de luz, carinho e amor.
Iluminando a chegada da nova geração, os novos passos, as novas alegrias.
São fontes de clareza em noites cheias de preocupação.

Luiza, que significa lutadora, deveria significar também aquela que traz a luz.
Seja bem vindo, Antônio, em um mundo iluminado pelo amor que te cerca!



** E você, que presentes de amor recebeu na chegada dos seus filhos? Conte para a gente nos comentários!**

20 de setembro de 2012

É tarde demais para ser criança

Como diria Madonna:
"Time goes by so slowly..."
(o tempo passa tão devagar...)

Todo mundo diz é que "nunca é tarde para ser criança". Eu acho que é sim. Ser criança é muito bom, mas agora é a vez das minhas filhas terem este direito.

Eu quero ser adulta, e isso significa que eu não vou correr descalça na pracinha e nem me lambuzar de tinta, mas vou curtir meu sucesso profissional, a reforma do meu armário e os programas de adulto com meu marido. Ficar tentando recuperar a alegria da infância, na minha opinião, é meio bobagem. O prazer das grandes obras de arte, da boa comida, de belo aumento de salário na vida adulta é igual em intensidade a pintar com dedo, comer algodão doce ou andar de bicicleta na infância. Mas, na vida adulta, estas coisas ficam meio sem graça...

Outra coisa que eu não entendo é se agarrar ao sentimento da adolescência. Como se ser adolescente fosse a melhor coisa do mundo! Não sei quanto a vocês, mas minha adolescência foi um inferno! Meu corpo era todo estranho, eu achava que ninguém no mundo me entendia, tinha hora que eu me sentia uma criança idiota, outra eu sentia o peso da responsabilidade de adulto. Não podia sair até tarde, mas queria ter vida social ativa. Um sofrimento total.

Aí vem a fase de balada, nos 20 anos de idade. Muito álcool, ficar acordada até as altas horas da madrugada, beijar na boca e rezar para o menino ligar no dia seguinte. Fora as épocas de vacas magras, onde eu ficava, literalmente, meses sem beijar na boca. Namoros complicados, cheios de brigas e voltas, descobertas de sentimentos, frustração, ralação total na faculdade. Saudades deste tempo? Só dos amigos, que eram muitos e divertidos. Talvez também da quantidade de tempo que eu tinha, mas não sabia.

Hoje, beber demais está ficando chato. Parece que a cada vez que bebo o tempo e a intensidade do efeito do álcool diminuem, e o tempo e intensidade da ressaca aumentam. Já troquei bebidas ressaquentas (cerveja e vodka) por opções mais clementes e interessantes (vinho de boa qualidade), mas o dia seguinte acaba sendo sempre meio estranho, de mal humor, boca seca. Estou decidindo beber pouco. Uma taça de vinho e pronto. Curto o sabor, que eu gosto muito, mas ficar bêbada não faz mais sentido. E aí posso até beber com mais frequência, uma vez por semana, porque sei que vai ser só uma taça (aliás, no Verdemar vende meia garrafa e 1/4 de garrafa de vinhos bons, uma idéia super legal).

E outro direito que tenho me dado é o de selecionar amizades. Não tenho mais idade nem tempo útil para tentar ser amiga de todo mundo, então quero investir mais tempo nas que me dão prazer em estar junto, dar risadas e dividir problemas. Gente como eu, com interesses em comuns. A idéia de uma "melhor amiga" para tudo, ficou para trás. Hoje tenho minha melhor amiga para compras, minha melhor amiga para textos, minha melhor amiga para viagens, minha melhor amiga para o clube, minha melhor amiga para curtir as crianças. Cada uma delas tem um espaço especial na minha vida, e eu na delas, e é bom demais.

Estas mudanças, deixar de ser criança, viver experiências de adulto, me lembram o que meu marido me disse, quando eu perguntei para ele onde estavam os dois quilos a mais que ganhei depois da minha segunda gravidez. Ele disse que minha bunda estava maior (!!!), mas acrescentou:

"Mas isso não é necessariamente uma coisa ruim."

** E você, o que acha? É ou não tarde demais para ser criança? Deixe seu comentário abaixo! **

19 de setembro de 2012

Gravidez não é doença. Ou é?

Durante minhas duas gravidezes, escutei com frequência a frase "Gravidez não é doença." O que eu sempre respondia era:
- Tem prevenção? Tem (camisinha, pílula, diafragma).
- Tem sintomas? Tem (enjôo, cansaço, hormônios alterados).
- Tem cura? Tem (cirurgia de parto normal ou cesárea).
- Então é doença sim!

(Como diz a Fernanda Jacques, é uma DST - doença sexualmente transmissível... )

Meio que um mantra atual, esta frase foi criada para poder contrabalancear a atitude anterior, de que mulher grávida não podia trabalhar, fazer sexo ou caminhar. Bemvinda, portanto. Mas hoje em dia, ninguém mais impede a grávida de trabalhar. Aliás, de trabalhar, de fazer compra de supermercado, de ficar em pé horas por dia, de carregar peso e dormir tarde, de se alimentar mal.

Tudo isso enfrentando diversas dificuldades para dormir bem, e ficando mais distraídas. Se sentem mal, seja por enjôo, seja por cansaço, seja pelo peso da barriga. E isso tudo é em uma gravidez normal, sem risco. Cheguei a bolar a piada abaixo:


Brincadeiras a parte, comentei com meu pai que é médico que gravidez devia, sim, ser tratada como doença, com direito à licença maternidade a partir do primeiro enjôo.

Tivemos uma conversa muito legal, onde ele me respondeu que essa não é a solução, que com isto entregamos a responsabilidade para um médico, que deverá assinar um atestado. Que estaremos colocando a mulher em uma posição de vulnerável, que não é boa para ninguém.

A questão maior não é a da gravidez, é a do trabalho. O homem, mesmo doente, também é compelido a trabalhar, para não perder a promoção, a comissão, às vezes o emprego. Em países onde os direitos trabalhistas avançaram mais, as pessoas têm direito à "dias doença", onde ela simplesmente fica em casa descansando, sem necessitar de atestado médico. Aqui, a pessoa vai trabalhar gripada, e contamina todo mundo em volta.

Ao mesmo tempo, nos países onde não há um incentivo brutal para as mulheres engravidarem, mas a competição do mercado é acirrada, as taxas de natalidade têm caído bruscamente. As mulheres sabem que a gravidez vai interferir com a carreira, e optam pela segunda.

Temos que começar a encarar a gravidez, não como doença, mas como um bem social. Estamos cultivando dentro de nós a próxima geração de cidadãos. Que, se bem nutridos e educados, serão a maior riqueza que pode existir. Da mesma forma, temos que encarar a criação dos filhos como profissão valorizada, que hoje é geralmente feita em meio período pela escola, e em meio período por mulheres capazes que desistem de suas carreiras ou pessoas com formação insuficiente (babás).

Precisamos de um novo modelo, onde a gravidez seja vista como um momento em que a mulher precisa de horários especiais, de tempo para descanso, e de menos carga de trabalho. E a mesma coisa para a primeira infância das crianças. Isto deveria constar no currículo e ser motivo de orgulho para todas as profissionais.

17 de setembro de 2012

Preto no branco: vamos falar de sexo

Estou lendo "Cinquenta tons de Cinza", o primeiro livro da trilogia de E. L. James (os outros dois são "Cinquenta tons mais escuros" e "Cinquenta tons de liberdade"), que se tornou uma febre mundial, com mais de quarenta milhões de cópias vendidas, batendo sucessos como Harry Potter.

O público alvo, porém, é bem diferente de Harry Potter. Chamado de "pornô para mamães", aparentemente o livro explicita relações sexuais sadomasoquistas. Escrevo aparentemente porque não cheguei lá ainda, estou no começo do livro.

O que eu queria falar aqui é sobre o que já li (não se preocupe, não vou contar detalhes). Reclamam que o livro é mal escrito, e realmente não é nenhuma obra prima. Mas Christian Grey (gray = cinza), o personagem masculino principal, já vale o livro.

Eu também quero ser um galã!
Nas últimas décadas, os personagens masculinos da grande mídia perderam seu espaço de príncipe encantado que salva a mocinha (demonizado pelo movimento feminista) e vêm se tornando patetas cômicos e desajeitados, estilo Homer Simpson dos "Simpsons", Dino pai da "Família Dinossauro" ou Al Bundy do "Married With Children".

Mesmo nos desenhos animados, o Príncipe Valente se tornou o nojento Shrek ou um ladrão bandido (o príncipe de Enrolados, Aladin).

Christian Grey não. Ele é um novo modelo de homem. Ele é seguro, confiante, até arrogante. Mas, ao contrário do príncipe tradicional, é cheio de contradições. Quer ficar com a mocinha (Anastasia), mas sabe que seu desejo sexual não é casto e puro. Apenas um selinho na boca para acordar a princesa não será suficiente.

E isso, para mim, explica o sucesso que o livro tem feito com a minha faixa etária. As mulheres que lêem livros, pelo menos no Brasil, correspondem à mulheres de renda média para alta, que provavelmente tem uma carreira, que tem filhos, mas esta não é sua principal ocupação, e que tem um companheiro que divide as responsabilidades com ela. E, preto no branco, elas querem sexo. Mas com quem?

Sexo lacrado, Spa tantrico, jogo das
 fantasis proibidas e mais um monte de coisas
que você TEM que fazer...
O homem que salva a mocinha indefesa não cola mais; ninguém quer ser indefesa. O pateta atrapalhado também não é material para cama. Os homens, coitados, ficaram perdidos no meio do caminho. Deve abrir a porta para ela ou é machismo? Paga a conta toda ou oferece para dividir? Se ela ganha mais, quem paga o motel? E é no sexo que a coisa pega. Com tanta regra, e zona erógena, e técnicas de orgasmo, haja performance para ser mais ou menos. Basta pegar a capa de uma revista feminina qualquer para ver o quão intimidante anda fazer sexo hoje em dia.

Christian Grey não faz este estilo. Ele sabe do que gosta, e conta para Anastasia. Se ela topar, bem. Senão, amém. De uma forma estranha, isso é muito mais sexy do que a negociação "do que você gosta?" Como diria Santo Agostinho*: "As pessoas não sabem o que querem, se soubessem, seriam felizes para sempre." O processo de descoberta do que funciona para o casal é o que existe de mais sensual em uma relação.

Espero que estejamos vendo uma nova era chegando. Onde os homens recuperem sua auto-estima perdida com Homer e consigam expressar suas vontades novamente, sem precisar que as mulheres percam seu espaço, tão duramente conquistado, de dizer não. Mas, melhor ainda, que ambos possam dizer sim à estas novas possibilidades.

Como a antiga piada: O Masoquista e o Sádico se encontram:
- Masoquista: Me bate!
- Sádico: Não!

E você, já leu o livro? O que achou?

* Esta deve ser a primeira vez que Santo Agostinho é citado em um contexto de sexo sadomasoquista...

15 de setembro de 2012

Doença de Criança, o Resumo

Alice hoje amanheceu com febre. Toda vez que isto acontece, já me imagino no pediatra, ouvindo a lista dos "ites": "otite", "sinusite", "laringite", "rinite", "dermatite".

Sendo neta, filha, irmã e cunhada de médicos, eu acabo ouvindo eles conversando sobre os pacientes, e seus diagnósticos (sem identificar ninguém, lógico). E aprendendo um pouco.

As pessoas talvez não saibam, mas este final "ite" quer dizer "inflamação". Ou seja, uma sinusite é a inflamação do sinus, que é uma parte do nariz. Otite é a inflamação do ouvido, e por aí vai.

Da mesma forma, quando eu chego no médico e digo que minha filha está com dor de ouvido, e ele, depois de uma consulta (de 5 minutos em geral, 15 minutos se for a consulta mensal, 30 minutos se for amigo da família) "diagnostica" que ela está com "otite", eu tenho vontade de dizer: "Eu não te disse isso há 30 minutos atrás?"

Aí, quando eu pergunto o por quê da otite, a explicação é a dupla virose/infecção bacteriana, geralmente  acompanhadas de "que está rodando Belo Horizonte". Se passar rápido é uma virose, não tem o que fazer. Senão, é a outra, e tome antibiótico. Nos primeiros anos de Alice eu já queria comprar antibiótico no galão, porquê era TODO mês, quando não era duas vezes por mês.

A ideia de ter receita para comprar antibiótico é louvável, porque conheço muitas mães que se encheram desta peregrinação (conseguir horário com pediatra é um caso à parte) e davam antibiótico no primeiro sinal de febre.

Defendendo o outro lado, não é culpa dos médicos. Aliás, em termos de medicina, nunca estivemos tão bem. Vocês tem ideia de quanto o plano de vocês paga um médico por uma consulta de 30 minutos? Não deve dar 20 reais. E na maioria das vezes, é só uma virose que está rodando Belo Horizonte mesmo, e não tem o que fazer. Então, por que é tão difícil aceitar que não tem mais nada pra fazer?

Porque somos bombardeadas com a responsabilidade de sermos super-mães, e controlar tudo. Controlar cada grão de poeira que nossos filhos respiram. Porque menino ramelento era o comum na nossa infância, hoje é sinal de mãe desleixada. É questão de vida ou morte descobrir se foram os bichos de pelúcia, ou o tapete, ou a cortina que causou a dermatite atópica (dermatite = pele inflamada, atópica = sem causa, ou seja, pereba sem motivo). Porque criança doente interfere com a apresentação do balé, o treino da natação, o projeto da escola e as festinhas de aniversário que custam milhares de reais (literalmente). Deixar nossos filhos de molho o dia inteiro vendo NetFlix (como a minha está neste momento) dói no nosso coração. E o estímulo neurológico? E as mensagens impróprias? O que EU fiz de errado para ela estar doente.

Não fizemos nada de errado. Como diria Guimarães Rosa, "viver é muito perigoso". Nossos filhos vão ficar doentes, centenas de vezes até poderem medir e tomar o próprio Paracetamol. Não precisamos de médicos melhores. Precisamos de uma vida que permita que a doença exista, admitir que ninguém vai ser saudável o tempo todo, e que, às vezes, sentar do lado da sua filha doente e acariciar os cabelos dela é o melhor remédio.

13 de setembro de 2012

O cabelo das solteiras

Adivinha se eu sou casada e tenho filho?
Ontem fui à uma festa de comemoração de 10 anos do IBMEX, que é a empresa de Consultoria Empresarial Júnior do IBMEC, onde eu dou aula.

Na hora que fui convidada, não ouvi direito, e achei que era festa do IBMEC. Chamei meu marido, arrumei uma babá para ficar com minhas duas meninas, e fomos.

Ao chegar na festa, percebi que todo mundo era muito, muito mais novo do que a gente. Estavam na casa dos 20 anos, enquanto eu e meu marido temos 36. Há muito tempo eu não ia em festas ou lugares onde somos as pessoas mais velhas do lugar.

Quando fui ao banheiro, me olhei no espelho, ao lado de três moças lindas. Todas estávamos penteando os cabelos, e eu reparei como o cabelo delas era cheio, brilhoso, comprido.

Desde o fim da gravidez, tenho percebido que meu cabelo anda caindo em quantidades grandes. Já sabia que, durante a gravidez, o cabelo pára de cair (ou pelo menos cai muito menos), de forma que parece bem mais cheio. Ao final, todo o cabelo que não caiu nos meses anteriores cai quase simultaneamente. Este é o motivo do famoso "cabelo lindo de mulher grávida" e do desespero dos "cabelos caindo durante a amamentação".

Minha primeira reação foi: "estou ficando velha". Tá, é exagero achar que estou velha aos 36 anos, mas comparada com aquelas saias de um palmo, pernas enormes em saltos pontiagudos e pele perfeita, me senti uma senhora, com minha saia no joelho, saltinho médio e maquiagem para disfarçar olheiras. Como diz minha mãe, o comprimento da saia é inversamente proporcional ao tamanho do cabelo.

Juventude é muito bonito. Juventude saudável é o modelo de beleza que temos. E tenho certeza de que elas, ao se olharem no espelho e se compararem comigo pensavam o mesmo.

Mas aí veio a segunda reação. A conversa delas era sobre o vestibular. Tinham acabado de entrar na faculdade. Estavam na expectativa de começar uma vida, cheia de promessas. Promessa de uma profissão de que se orgulhassem. Promessa de uma vida a dois com alguém que amassem. Promessa de serem mães um dia. Promessa de um dia... serem eu.

Eu, casada, 2 filhas, na balada.
Saí do banheiro feliz. Feliz de ter vivido esta fase, onde meus cachos castanhos desciam pelos meus ombros em cascatas, e eu usava roupa com umbigo de fora (era a moda, fazer o quê...). De ter namorado muito, de ter dançado até às quatro da manhã, embalada por muito álcool. E de hoje ir para casa às 22:30, pois tenho que dar aula no dia seguinte. Uma aula que dou com prazer, pois amo meu trabalho. Voltar para casa abraçada no meu marido, sem ter que me preocupar se ele vai me ligar no dia seguinte. Chegar em casa e curtir minhas duas filhas, dormindo felizes.

Quanto ao cabelo das solteiras, elas precisam dele muito mais do que eu. O meu corpo é o espelho do que vivi. A cicatriz das minhas duas cesáreas, os quilos que ganhei depois de cada gravidez, meu cabelo fino e cortado na altura do ombro, são a história da minha vida.

Este é o corpo que eu preciso neste momento, para a vida que tenho. E isso é muito bom.

5 de setembro de 2012

Ai de mim





Se prioridade fosse singular
Se querer fosse o real poder
Se solução fosse só unidade
         e não conjunto sem melhor
Ai de mim


28 de agosto de 2012

Dez pelo preço de um


Parque Guell
Quando fiz 9 anos de casada, em Janeiro de 2011, meu marido nos levou para uma viagem (ma-ra-vi-lho-sa) por Barcelona. Nossa rotina era acordar às 10h, tomar café, e sair para ver Museus, aproveitando que, nesta época quase tudo em Barcelona fica aberto até as 21h. Chegávamos em casa à meia noite, e repetíamos. Andávamos muito, porque a cidade é bem plana, e linda!

Um lugar imperdível é o Parque Guell, feito pelo Gaudi, onde tomamos um café delicioso! Meu marido me fez andar até o topo do parque (que é alto para dedéu), e valeu a pena.


Nós (e o tubarão) no L'Aquarium
No dia da comemoração de 9 anos de casados mesmo, no dia 26 de Janeiro, ele reservou lugares para um restaurante maravilhoso, chamado Torre d'Alta Mar. Tínhamos passado um dia ótimo, andando pela Las Ramblas (uma rua cheia de comércio, flores, restaurantes), e ido ao L'Aquarium Barcelona.

Foi um dia meio cansativo, tínhamos andado muito, e eu não estava me sentindo muito bem. Como estávamos com fome, decidimos não voltar no hotel, ir direto para o restaurante. De tênis. E calça jeans. Sem nem tomar banho.

Restaurante Torre d'Alta Mar
(o restaurante fica no alto desta torre,
onde o bondinho está chegando...)
Ao chegarmos lá, às 7 da noite descobrimos que o restaurante estava fechado. Pior que isto: ao checar o menu na porta do elevador (que leva para o restaurante), descobrimos que este é cotado como um dos (pouquíssimos) restaurantes 4 estrelas Michelin, visitado por tipos como Jodie Foster, Ronaldinho e Jean Paul Gaultier...

Eu, mão de vaca oficial da família, fui direto na seção de preços do cardápio (sim, tem um cardápio do lado de fora, para espantar os desavisados, como nós). Fiz umas contas, e descobri que o valor total da refeição mais básica para nós dois iria sair em torno de R$2.500,00!!! Um jantar! UM jantar! UM JAN-TAR! Nem pensar.

Maridão ficou arrasado. Era nosso aniversário, a gente merecia, ia ser salgado, mas valia. Sabe de uma coisa, não valia não. Sei que ia ser romântico contar depois que jantamos com a Jodie Foster e o Ronaldinho, mas eu não ia relaxar (supondo que eles iam deixar a gente entrar no restaurante vestidos daquele jeito).

Nós no Plá
Combinei com ele então, uma das melhores idéias que já tive. Troquei o jantar de 2,5 mil por 10 jantares de 250. No ano que se iniciava, a gente iria sair uma vez por mês para um restaurante legal, aqui em BH mesmo. E, no dia em questão, iríamos em um mais barato.

E foi o que fizemos. No dia do aniversário fomos no Pla, um restaurante ma-ra-vi-lho-so, que custou um décimo do Torre, onde o Juliano comeu pela primeira (e talvez última) vez gelatina com foi gras, e amou!

No ano seguinte, foram muitas comemorações em restaurantes incríveis. Nós nos comprometemos a conhecer do bom e do melhor de BH, e acho que conseguimos.

Experimentamos e amamos:
1. Steak ao poive com risoto à parmegiana no "A Favorita"
2. Tornedor com manteiga aromática do "Dádiva"
3. O bife parrilheiro do "Parrilla del Pátio"
4. Cárdapio de degustação do "Verano"
5. No "Bangkok" foi Koong Hom Pha (Camarões envoltos em Massa Fina de Arroz com Molho Agridoce Picante)
6. Salada de camarão do "Olegário"
7. Escalope de Filet Mingon com spaghetti ao pesto da "Osteria Degli Angeli"
8. O nhoque de bacalhau do "D'Istinto"
9. Costelinha defumada com aipim no "Pinguim"
10. Escalope com risoto de tomate do "Paradiso"

Foi a melhor escolha que já fiz. Minha comemoração de 9 anos de casada alcançou os dez anos, mas esta é outra história...

PS: Recomendo que você experimente os que ainda não conhece.
PS2: Não se esqueça e me contar os seus favoritos que não entraram nesta lista na seção de comentários!

Recusa, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação*

Autor: Olivan Liger
Eu estava na frente do computador quando meu pai trouxe a notícia, iriam desligar as máquinas... senti-me impotente e odiei o mundo por tirar a única segurança que tinha: de que um dia casaria com ele.

As lágrimas desciam pelo meu rosto, sem controle, e, por dias, a única vontade que eu tinha era de morrer também. Não falava muito, certas dores são grandes demais para serem expressas com palavras. Achava que jamais amaria de novo, e que ele não tinha o direito de me deixar assim.

E foram muitos “se” que assombraram as minhas noites... se ele não tivesse saído sem capacete, se ele tivesse escapado de atropelar a mulher, se eu tivesse ligado para ele no dia, avisando do que poderia acontecer, se eu tivesse ido vê-lo quando soube do acidente... se ele não tivesse só 17 anos e fosse a paixão da minha vida.

Me senti obrigada a viver sozinha.

Eu já não tinha mais ninguém para quem ligar quando o dia dos namorados chegasse e eu não tivesse namorado. Não tinha mais ninguém para programar viagens que nunca aconteceriam. Não tinha mais respostas para as descobertas que eu fazia em meu corpo adolescente. Não seria “fofolete” nunca mais.

Tempos depois, escrevia cartas para ele, onde falava o que calei aos pais e conhecidos por muito tempo. Parecia que era mentira que ele tivesse morto, e, como ele nunca tinha respondido às cartas anteriores, convenci-me de que ele recebia as atuais. Falava e pensava nele como uma paixão platônica, e tentei reconstruir o amor que sentia por ele, acreditando que um dia estaríamos juntos. Ouvia "nossa música" o dia inteiro, chorando e escrevendo.


E passei a jogar a culpa de qualquer tristeza, de qualquer problema, naquela morte. Dava às dificuldades cotidianas o peso de uma tragédia irreparável, e conseguia nisto uma desculpa para sofrer imensamente e acreditar que era incompreendida. Isto foi amenizando a dor da perda, mas dando proporções absurdas para os tropeços da vida.


Dois anos depois do acidente, me apanhei culpando a morte trágica por uma nota ruim numa prova. Repentinamente, me achei ridícula. Olhei em volta e percebi amigos, colegas, um olhar interessado...

Abri os olhos pro mundo e pude, finalmente, sentir a falta dele. Percebi então que, sim, ele era bonito e inteligente, mas que também era convencido e arrogante, e não poucas vezes mentiu para que eu o amasse, sem nunca ter certeza se ele também queria um final feliz para nós dois.

A partir daí, senti a falta dele com restrições: tinha a foto dele na gaveta, mas não olhava, percebia que ele estava morto, e evitava ouvir a tal música, mas insistia para que todos que se aproximassem de mim soubessem o peso que carregava, o de perder um amor nos tempos áureos da puberdade. Queria que todos soubessem que estava vivendo, mas que deveria continuar pensando nele. Que aceitaria ser feliz, desde que ainda pensasse nele.

E, finalmente, um dia a dor passou. De vez em quando, ainda sou surpreendida por uma lembrança dele, uma palavra, uma piada. Mas não dói. Consegui reconstruir o amor, embora ainda fique assustada toda vez que meu marido demora para chegar em casa. Esta marca, de perder alguém que foi cedo, muito cedo, eu nunca apagarei. Mas a vida segue em frente, mostrando que a grande tristeza da morte é o tanto de vida que foi desperdiçada.

Viverei e aproveitarei a minha com todas as forças, por mim, por ele, e por todos aqueles que não podem mais**.

* Recusa, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação são, segundo uma médica americana, as cinco fases pela qual as pessoas passam quando descobrem-se a beira da morte.

** Ontem faleceu minha tia Thelma, esposa do meu tio Jano. Abraços carinhosos a todos que a conheceram e puderam desfrutar da sua alegre e prazeirosa companhia.

24 de agosto de 2012

Pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia

Olá, amigos.

A seguir vem um texto de ficção que eu escrevi há muito, muito tempo atrás. Ainda gosto dele, e queria compartilhar.


Biblioteca de Alexandria

Não é nada preocupante, ou mesmo perigoso. São apenas pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia.

Como naquela vez que chegou, pelo correio, um cartão da Biblioteca de Alexandria, num envelope pardo, sem remetente, com meu nome escrito à tinta preta, em caligrafia rebuscada e clássica. Nenhum bilhete, explicação, nada. Apenas o cartão, antigo, escrito em grego. Peguei um velho dicionário, e descobri algumas palavras. Não tive ânimo para procurar alguém para traduzir o resto, ou comprovar a autenticidade do documento. Guardei em uma gaveta, com o respectivo envelope, e lá ele ficou até eu me mudar.

Então, eu me deparei com ele de novo. O espírito da mudança me mandava jogar fora aquele pedaço inútil de papel, mas, como a mesa de ping-pong e meu primeiro chinelo, ele foi ficando. Cataloguei-o junto com tudo. Ele foi “Documentos Diversos”, “Bilhetes de Amigos”, “Pendente”, e, no dia em que o achei na pasta de “Contas Pagas”, determinei-me a encontrar o motivo da minha repentina associação à uma biblioteca transformada em ruínas há séculos.

A primeira idéia seria traduzir o resto do misterioso cartão. Como não conheço ninguém que saiba grego o suficiente para ler um cartão de Biblioteca, fui ao Museu da minha cidade. Não, ninguém sabia. Escrevi para o consulado e eles, muito gentis, disseram que eu deveria encaminhar o documento à eles e, em alguns meses, determinariam o texto e o período em que fôra escrito. A estas alturas, o papel já era para mim “valioso e importante”. Com esta justificativa, não mandei. Ele voltou para a gaveta, na pasta de “Encalhes”. Fingi que esqueci dele.

Um dia, minha vizinha me pediu para vê-lo. Não lembro se eu havia comentado com ela o motivo de minhas correspondências com a embaixada, ou se ela descobrira sozinha. Emprestei, já saturado do mistério, pensando seriamente em queimá-lo.

Não foi preciso, já que o cartão nunca voltou às minhas mãos. Se a vizinha enriqueceu com ele, ou se a filhinha dela transformou-o em papel picado, desconheço.

Mas isto, com certeza, não é nada preocupante, ou perigoso. São apenas pequenas coisas, que a gente gostaria de explicar um dia...

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E com você, já aconteceu alguma coisa difícil de explicar? Conte para a gente nos comentários!

23 de agosto de 2012

Post retirado do ar

Olá pessoal.

pessoas que me são muito queridas me pediram para retirar o post "A Maior História de Todos os Tempos" do ar. Pode ser que um dia eu volte com ele, se as pessoas que se sentiram magoadas com ele mudarem de idéia, mas o mais provável é que não.

Em momento nenhum minha idéia era magoar ninguém, pelo contrário. O objetivo deste blog é eu tentar descobrir quem sou, expor algumas idéias que rodam na minha cabeça, discutir com amigos assuntos interessantes.

Assim, retiro o post do ar, e deixo aqui apenas a figura do meu avô, que eu amei demais, como um pedido de desculpas.

Sálvio de Oliveira, meu avô
por Inimá de Paula



21 de agosto de 2012

Meu filho é um sucesso (GUEST POST)


Este é um post escrito por uma grande amiga, a meu convite; ela escreveu um texto ótimo sobre uma idéia incrível. Discutir este texto com ela foi uma experiência muito prazeirosa, uma oportunidade de "tocar piano à quatro mãos", adorei!

Com vocês,  Daniela Lacerda:

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Meu filho já é um sucesso!


Há alguns dias uma amiga querida me mandou um link para um artigo interessantíssimo chamado "Raising Successful Children" ("criando crianças de sucesso"). Num primeiro momento o artigo não me despertou muita curiosidade, pois o termo "successful" usado no título me remeteu a idéia de "sucesso" num contexto que me pareceu demasiado materialista. Ler um texto sobre como criar um "filho de sucesso" dentro das ideias pré-concebidas que o título despertou em mim não era algo que me interessava. Mas, sabendo que a querida amiga não tem um perfil materialista e que tudo o que ela me manda costuma ser interessante, fui ler o artigo. 

Logo no começo, me deparei com a expressão "children who do better academically, psychologically and socially" (crianças que se saem melhor acadêmica, psicológica e socialmente). Só então refleti sobre porque o título do artigo tinha me causado um certo desconforto. O que ficou ainda mais claro quando terminei de ler, gostei e decidi que valia a pena repassá-­lo para várias amigas, inclusive algumas que não lêem em inglês. Ao resolver fazer traduções livres de pequenos trechos, me deparei com a dúvida sobre como traduzir o título "Raising Successful Children" de uma maneira que elas se interessassem em lê-­lo e não tivessem, como eu tive, uma primeira impressão pouco precisa. 

Me parece que em português a palavra "sucesso" está muito ligada à sucesso profissional e/ou acadêmico acompanhado de reconhecimento social. Acabei optando por criar um título em português que englobasse a expressão citada acima: "Criando crianças de sucesso, emocional, social e acadêmico". O que me fez lembrar de uma coluna antiga do Gilberto Dimenstein na Rádio CBN em que ele dizia, contrariado, que ninguém diz que "fulano é um sucesso como filho", ao se referir a um filho atencioso, que tem tempo e disponibilidade para seus pais idosos. Assim como ninguém diz que "cicrana é um sucesso como ser humano" ao se referir, por exemplo, a uma das várias "madres Teresas de Calcutá" que existem no mundo. Eu sei que podemos fazer elogios diferentes a essas pessoas, sem usar a palavra sucesso, mas eu, assim como Dimenstein, adorariamos vê­-la sendo usada em contextos como esses. 

A palavra é forte, bonita e tem personalidade. Não seria ótimo se ela fosse usada sempre que alguém fosse muito bom em alguma coisa, não necessariamente o melhor, apenas muito bom, em qualquer coisa? Afinal, todos somos bons em alguma coisa, não somos? Alguns podem dizer que ser um filho "muito bom" para seus pais, ou ser um pai/mãe "muito bom" para seus filhos não é mais do que uma obrigação, mas não é isso que vemos na vida real. Ser um filho ou um pai ou uma mãe "de sucesso" não é fácil e, como tudo de valor nessa vida, exige uma certa dose de dedicação e esforço... algo que nem todo mundo esta disposto a oferecer. 

E criar filhos de "sucesso emocional, social e acadêmico", é algo com que todos os pais do mundo deveriam se preocupar fazendo o "dever de casa" de pensar, refletir, avaliar, estar Presente (com P maiúsculo pra indicar presença física e emocional), dar exemplo, mudar velhos hábitos, participar, cobrar, impor limites, dar amor de forma constante, clara e incondicional, dar suporte, cobrar as consequências, ensinar a ganhar, ensinar a perder. E isso tudo sem tirar do filho a autonomia de tentar, algumas vezes errando, algumas vezes acertando. (A propósito, é disso que o artigo do começo fala.) 

Aliás, na minha opinião, uma pai ou uma mãe "de sucesso" busca essas coisas o tempo todo, mas está ciente de que algumas, ou muitas vezes, ele próprio, mesmo sendo “um sucesso”, irá cometer erros, inevitáveis em qualquer empreendimento humano. E, com muita sabedoria e alguma sorte, esses erros não irão impedir que nossos filhos sejam pessoas "de sucesso". Eu, com certeza, vou adorar dizer por ai que "Meu filho é um sucesso como filho!" "Meu filho é um sucesso como amigo!" "Meu filho é um sucesso como marido!" "Meu filho é um sucesso como pai!". Mas por agora, já posso encher o peito e dizer "Meu filho já é um sucesso (como filho, entre outras coisas...)!". 

Por Daniela Lacerda
alguém que, se tivesse tempo, 
se meteria a besta no blog da Ana que, 
aliás, é um sucesso!

20 de agosto de 2012

Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais

No sábado, comemoramos o aniversário da minha mãe. O dia começou em um spa, fazendo massagem, comendo chocolate e bebendo champanhe às 11 da manhã. Vida difícil....

À noite, fomos no show da Maria Rita, em homenagem à Elis Regina, junto com meu pai.  Foi um momento emocionante, inesquecível.  Algumas músicas me tocaram profundamente, como "Se eu quiser falar com Deus", "Romaria" e "Como os nossos Pais". Cresci ouvindo Elis por parte de mãe e Pink Floyd por parte de pai, e tive a sorte de ir em dois shows (Maria Rita e Roger Waters) com meus pais, vendo que "nossos ídolos ainda são os mesmos". 

Thalma no show da Maria Rita.


Mas minha mãe fez muito mais do que simplesmente me mostrar coisas boas na vida. Ela é uma das melhores coisas que eu tenho na minha vida. Super talentosa, ela faz quadros que me tocam profundamente, como este que ela usou para a capa do convite de sua mais nova exposição (Estão todos convidados! Vai ser fantástica!).

Convite para a exposição, dia 3 de Setembro de 2012.
(Para conhecer mais do trabalho da Thalma, 
visite a página do Estudio Thalma)

Ouvi Maria Rita durante boa parte do show (chamado "Redescobrir"), contando a experiência de redescobrir quem era a pessoa Elis. Eu imagino que deve ser muito duro viver sem mãe, e agradeço a sorte de poder redescobrir minha mãe todo dia, em seu sorriso, em sua inteligência, em sua forma encantadora de ver a vida, em sua dedicação aos seus quadros com quase o mesmo fervor que dedica aos filhos e netos.

No seu aniversário, mãe, quero para você a felicidade que você sempre trouxe para todos nós, filhas, marido, genros e netos. E uma taça de champanhe, que ninguém é de ferro!

Te amo muito!


Eu, minhas irmãs Luiza e Maria Helena e
minha mãe Thalma. Feliz Aniversário!!!


17 de agosto de 2012

O segundo é sempre mais fácil (?)


Quando estava considerando ter outro filho, ouvia direto a frase "O segundo é bem mais fácil!" de quem já tem dois filhos. Quando nasceu minha segunda, passei a ouvir a mesma frase na forma de pergunta, "o segundo é mais fácil?" dos pais de filhos únicos.

Antes de nascer o segundo, o "clube dos pais de mais de um" quer te convencer que eles tomaram a decisão certa. Para quem está de fora, parece conversa de quem entrou em piscina gelada: "Entra, está ótima!" Aí você entra, a água gela sua alma, e o sujeito ri da sua cara.

E o vigésimo, como será?
Você lembra de como era um pesadelo acordar de madrugada, as viroses, os tombos, as fraldas, e pensa: "Como pode ser mais fácil?!?! Agora, além de tudo, tem outra criança para criar!"

Mas o tempo passa, seu primeiro filho pede irmão o tempo todo, você vê que deu conta razoavelmente, e, contra todas as suas razōes racionais, você quer mais um. E, pra sua surpresa, é mais fácil mesmo.

Pra começar, você já se acostumou com o fato de que dormir mais de 6 horas por noite é um luxo. A mudança inicial, a mais importante, de: seu umbigo ser a coisa mais importante do planeta;  para: você esquecer de lavar seu umbigo todo dia; já aconteceu. Você já vive por conta da sua família, "eu" virou "nós", "quero" virou "temos que". 

E foi difícil acostumar no começo, mas agora você TEM que comemorar dia dos pais, TEM que passear no final de semana, TEM que rir e se divertir com bolas e Barbies; e é uma delícia.

E cuidar de um filho o dia inteiro pode ser exaustivo, mas quando são dois, um complementa o outro. Isso vale para qualquer fase. O nome chique disto é "economia de escala", ou seja, quanto mais coisas iguais você faz, mais barato fica fazer cada uma. Enquanto Alice nada, dou banho de sol na Rosa. Alice olha a Rosa para eu ir no banheiro. Rosa distrai Alice para eu poder falar no telefone. Vejo Barbie enquanto amamento.

E aprendi que tempo para mim, o recurso mais escasso de todos, eu só vou ter se batalhar por ele; independe de quantos filhos são. Vou ter que marcar horário mesmo, me esforçar, mas agora que o complexo de culpa de deixar Alice com outra pessoa é menor, fica mais fácil deixar a Rosa também.

E o bom mesmo é que a gente esquece. Esquece como era difícil, mas esquece também o quanto é legal. Ver a Rosa descobrir suas mãozinhas, dar o primeiro sorriso, foi tão lindo hoje quanto foi ver a Alice fazer isto há seis anos atrás.

E é tudo muito diferente. As personalidades são completamente diferentes, e, se eu quero ser uma boa mãe, tenho que ser uma mãe diferente. Com Rosa sei que não vou ter o entusiasmo de ler todos os livros, testar todas as dicas, mas vou ter a experiência de saber qual choro é fome, e sei trocar fralda de olho fechado.

E a Rosa devia agradecer Alice por ter treinado a mãe dela. E Alice devia agradecer Rosa, por ter me feito uma mãe mais relaxada, pois nada é mais eficiente para curar stress do que saber que não vai dar tempo mesmo.

16 de agosto de 2012

Intercâmbio


Escrevi o texto abaixo em 1995, quando concorri à uma bolsa de intercâmbio na FIAT automóveis.


Intercâmbio

Mesmo partindo, vou levando na bagagem aqueles que amo e amei, na viagem sem volta que é a minha vida.

Junto às meias e camisetas, levo toda uma coleção de primeiros beijos. Não levo todos os suspiros e paixões porque a viagem não é tão longa, e pretendo viajar mais leve.  À bagagem de mão, acrescento a saudade de meus amigos próximos e de minha família, bem ao lado da dúvida se meu namoro vai sobreviver à distância. Pequenos pacotes para levar, grandes volumes para trazer de volta.

Trazer de volta... por mais longe que eu vá jamais sairei daqui. Levo, fisicamente, O Povo Brasileiro, livro de Darcy Ribeiro, mais como carteira de identidade do que como leitura de férias. A idéia de ser uma tupiniquin embarcando no turbilhão europeu ainda me assusta, então tenho no livro a âncora de minha miscigenação, o meu contato com o vernáculo pátrio, antes, o meu orgulho de ser uma brasileira cidadã do mundo.

Aí eu reabro a mala e começo a desfazê-la. Estou à mercê da vontade de outros, e eles me dizem que não vou mais. Por motivos que não me contam, não fui selecionada para a bolsa. Fico.

Tirar meu futuro de dentro da mala é doloroso. Tinha preparado cada cantinho, ajeitado cada detalhe, e parece que os objetos não vão caber de novo no armário. A importância de fatos já quase esquecidos  cai no chão e mistura-se com sonhos de última hora. Aproveito para jogar tudo no lixo. De repente, parece-me absurdo ter pensado em levá-los.

A incerteza do namoro sai da mala sozinha. Pula pelo quarto, não sossega, me acerta duas ou três vezes, até sentar-se na minha cabeça. E fica lá, incomodando.

Termino de guardar os medos e as esperanças na caixa de esqueletos atrás do armário e vou tomar banho e chorar.

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PS: para os curiosos, o namoro acabou mesmo, logo depois.

9 de agosto de 2012

Bipolar, eu?


Depois de ler meus posts neste blog (principalmente este post revoltado  [1], ou este post super feliz [2] e este post do dia dos pais ou  este post sobre padecer no paraíso[4]), já deve ter gente querendo me internar, crente de que eu sofro de transtorno bipolar (antigamente chamado de maníaco-depressivo, este transtorno faz com que a pessoa tenha fases alternadas de alegria extrema/ depressão profunda, excitação e empenho em projetos/ desânimo total).

A vida é boa... 
Afinal de contas, eu acho que meu marido faz parte das tarefas domésticas [3] ou não [1]? Que a maternidade é uma experiência ótima [2], ou uma carga pesada demais [4]? A resposta é que sim, e não.

Toda mulher tem dupla personalidade, e eu não sou diferente. Uma delas ama meu marido, a outra se irrita profundamente com as manias dele. Uma adora ser mãe tempo integral, a outra almeja grandes conquistas profissionais. Uma corta o cabelo curto, a outra arrepende. Uma adora beterraba, a outra odeia.

Afinal, é muito difícil decidir estes grandes temas de uma  vez por todas: sou feliz? O que eu quero da minha vida? Eu gosto de beterraba?

... ou não?
Algumas coisas pedem uma revisitação diária, e tem dias melhores que outros. No dia que perdi o emprego que sempre desejei (pela segunda vez), poque estava grávida (pela segunda vez), a idéia de ser mãe em tempo integral parecia a única solução; pior, parecia uma desistência de algo que eu jamais conseguiria de qualquer jeito, e, por isto, era dolorosa e me fazia infeliz. No dia que ganhei uma promoção, e minhas filhas adoraram a escola, e cheguei em casa para um jantar que meu marido tinha preparado, me senti poderosa e livre, capaz de qualquer coisa.

A vida, cheia de pequenas verdades, pode nos fazer bipolares. Alguns de nós reagem à média, vivem uma semi-felicidade (ou infelicidade), variando pouco no dia a dia, abalados apenas nas grandes tristezas ou alegrias. Outros, como eu, sobem e descem ao gosto do momento. Amando as pequenas conquistas, sofrendo horrores com as pequenas tragédias. Tentando ver um sentido maior no todo, mas sabendo que a graça de viver tem que ser conquistada diariamente.

Não dá para querer um lado só, a alegria sem medida ao dançar, sem o choro compulsivo ao quebrar o iPad. Mas eu não gostaria de ser diferente, pois é isto que me faz ser quem sou. 

Ou talvez, pensando bem, gostaria...

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...