26 de dezembro de 2012

Assustando a Grávida


Existe um costume muito curioso que eu vivenciei durante minhas duas gestações : o costume de assustar a grávida com histórias horrorosas.
(Isso sim é assustador!)

Não interessa em que mês (ou semana, para as que já tiveram filhos) da gestação você está, o diálogo é mais ou menos assim:
Pessoa bem intencionada: - De quantos meses você está?
Grávida inocente: - Três..
Pessoa: - Três?!? Sério?? Minha (cunhada/vizinha/prima de segundo grau) perdeu o nenem quando estava com três meses! Foi de uma hora para a outra, o médico falou que estava tudo bem num dia, no dia seguinte ela acordou com dores, foi ver, tinha perdido.

Esse tipo de história aparece em quase toda conversa, em todos os meses. É um tormento.

A mais assustadora que eu ouvi foi a do marido que chega em casa e acha a mulher grávida de oito meses morta esvaída em sangue no chão da sala. Eu estava, claro, de oito meses quando ouvi.

E a grávida desavisada, coitada, tenta saber mais detalhes, evitar que aconteça com ela.  Na minha primeira gravidez, eu ficava apavorada, pensando: por que raios as pessoas fazem isso??? Na segunda, já bloqueava o assunto pensando "ok, é só mais uma história de assustar a grávida". 

Hoje, acho que entendo, e às vezes, até me pego apavorando grávidas sem querer. Por muito tempo, a nossa espécie viveu em grupos pequenos, de até 50 indivíduos. Nessa situação, era fundamental que todas as grávidas do bando fossem avisadas que a grávida que comeu aquela planta espinhuda perdeu o bebê. 

Mas, na nossa aldeia global de bilhões, agora ficamos sabendo não só da planta espinhuda, mas de absolutamente tudo que pode dar errado com todas as grávidas de todas as aldeias do mundo. É muito acidente, acaso e azar  para uma grávida só.

Por isso, da próxima vez que você for "avisar" uma grávida daquele caso horrível do nenê sem cérebro, ou que você grávida ouvir que o coração do bebê parou de bater um dia antes do parto, lembre-se que 90% de todas as gravidezes são tranquilas (97% das que passam de 12 semanas), sem problemas e nasce um bebezinho fofo no final, e que, muito provavelmente, esta é a história que importa nesta gravidez.

Eu não queria ser Feminista


Tenho acompanhado os posts excelentes de Escreva Lola, Escreva. Feminista brilhante, ela levanta questões fundamentais sobre a violência contra a mulher, direitos humanos, sexo, arte, maternidade e muito mais.

Minha Mente.
Meu Corpo.
Minha Escolha.
Depois de ler uma longa seqüência de posts, me peguei não querendo mais ser feminista, da mesma forma que eu não queria que houvesse pobreza no mundo, ou cadeia, ou guerra.

O fato de que precisamos de lutar para que mulheres não sejam surradas por seus companheiros, para que lésbicas não sofram estupro "corretivo", para que  grávidas em risco de vida possam abortar, para que mulheres e homens sejam igualmente respeitados em trabalhos iguais, tudo isso soa óbvio demais. Eu não queria viver em um mundo onde estes direitos ainda não são, nem de longe, garantidos.

Mas não posso me dar a esse luxo. Tenho que fazer cara feia quando ouço piada machista; tenho que votar em mulheres; tenho que evitar a tentação social de criticar outras mulheres pelo jeito que ela se veste, ou seu comportamento sexual; tenho que encorajar minhas filhas e alunas mulheres a se dedicarem à matemática e às profissões de prestígio, onde ganharão quase o mesmo que seus companheiros homens.

Tenho que fazer isto tudo por mim, por minhas irmãs, por minha mãe, por minhas filhas; e pelo meu pai, meu marido e meus cunhados e sobrinhos, que viverão em um mundo melhor, mais justo e mais feliz.

Feliz 2013, com a esperança de um mundo mais feminino.

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...