28 de agosto de 2012

Dez pelo preço de um


Parque Guell
Quando fiz 9 anos de casada, em Janeiro de 2011, meu marido nos levou para uma viagem (ma-ra-vi-lho-sa) por Barcelona. Nossa rotina era acordar às 10h, tomar café, e sair para ver Museus, aproveitando que, nesta época quase tudo em Barcelona fica aberto até as 21h. Chegávamos em casa à meia noite, e repetíamos. Andávamos muito, porque a cidade é bem plana, e linda!

Um lugar imperdível é o Parque Guell, feito pelo Gaudi, onde tomamos um café delicioso! Meu marido me fez andar até o topo do parque (que é alto para dedéu), e valeu a pena.


Nós (e o tubarão) no L'Aquarium
No dia da comemoração de 9 anos de casados mesmo, no dia 26 de Janeiro, ele reservou lugares para um restaurante maravilhoso, chamado Torre d'Alta Mar. Tínhamos passado um dia ótimo, andando pela Las Ramblas (uma rua cheia de comércio, flores, restaurantes), e ido ao L'Aquarium Barcelona.

Foi um dia meio cansativo, tínhamos andado muito, e eu não estava me sentindo muito bem. Como estávamos com fome, decidimos não voltar no hotel, ir direto para o restaurante. De tênis. E calça jeans. Sem nem tomar banho.

Restaurante Torre d'Alta Mar
(o restaurante fica no alto desta torre,
onde o bondinho está chegando...)
Ao chegarmos lá, às 7 da noite descobrimos que o restaurante estava fechado. Pior que isto: ao checar o menu na porta do elevador (que leva para o restaurante), descobrimos que este é cotado como um dos (pouquíssimos) restaurantes 4 estrelas Michelin, visitado por tipos como Jodie Foster, Ronaldinho e Jean Paul Gaultier...

Eu, mão de vaca oficial da família, fui direto na seção de preços do cardápio (sim, tem um cardápio do lado de fora, para espantar os desavisados, como nós). Fiz umas contas, e descobri que o valor total da refeição mais básica para nós dois iria sair em torno de R$2.500,00!!! Um jantar! UM jantar! UM JAN-TAR! Nem pensar.

Maridão ficou arrasado. Era nosso aniversário, a gente merecia, ia ser salgado, mas valia. Sabe de uma coisa, não valia não. Sei que ia ser romântico contar depois que jantamos com a Jodie Foster e o Ronaldinho, mas eu não ia relaxar (supondo que eles iam deixar a gente entrar no restaurante vestidos daquele jeito).

Nós no Plá
Combinei com ele então, uma das melhores idéias que já tive. Troquei o jantar de 2,5 mil por 10 jantares de 250. No ano que se iniciava, a gente iria sair uma vez por mês para um restaurante legal, aqui em BH mesmo. E, no dia em questão, iríamos em um mais barato.

E foi o que fizemos. No dia do aniversário fomos no Pla, um restaurante ma-ra-vi-lho-so, que custou um décimo do Torre, onde o Juliano comeu pela primeira (e talvez última) vez gelatina com foi gras, e amou!

No ano seguinte, foram muitas comemorações em restaurantes incríveis. Nós nos comprometemos a conhecer do bom e do melhor de BH, e acho que conseguimos.

Experimentamos e amamos:
1. Steak ao poive com risoto à parmegiana no "A Favorita"
2. Tornedor com manteiga aromática do "Dádiva"
3. O bife parrilheiro do "Parrilla del Pátio"
4. Cárdapio de degustação do "Verano"
5. No "Bangkok" foi Koong Hom Pha (Camarões envoltos em Massa Fina de Arroz com Molho Agridoce Picante)
6. Salada de camarão do "Olegário"
7. Escalope de Filet Mingon com spaghetti ao pesto da "Osteria Degli Angeli"
8. O nhoque de bacalhau do "D'Istinto"
9. Costelinha defumada com aipim no "Pinguim"
10. Escalope com risoto de tomate do "Paradiso"

Foi a melhor escolha que já fiz. Minha comemoração de 9 anos de casada alcançou os dez anos, mas esta é outra história...

PS: Recomendo que você experimente os que ainda não conhece.
PS2: Não se esqueça e me contar os seus favoritos que não entraram nesta lista na seção de comentários!

Recusa, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação*

Autor: Olivan Liger
Eu estava na frente do computador quando meu pai trouxe a notícia, iriam desligar as máquinas... senti-me impotente e odiei o mundo por tirar a única segurança que tinha: de que um dia casaria com ele.

As lágrimas desciam pelo meu rosto, sem controle, e, por dias, a única vontade que eu tinha era de morrer também. Não falava muito, certas dores são grandes demais para serem expressas com palavras. Achava que jamais amaria de novo, e que ele não tinha o direito de me deixar assim.

E foram muitos “se” que assombraram as minhas noites... se ele não tivesse saído sem capacete, se ele tivesse escapado de atropelar a mulher, se eu tivesse ligado para ele no dia, avisando do que poderia acontecer, se eu tivesse ido vê-lo quando soube do acidente... se ele não tivesse só 17 anos e fosse a paixão da minha vida.

Me senti obrigada a viver sozinha.

Eu já não tinha mais ninguém para quem ligar quando o dia dos namorados chegasse e eu não tivesse namorado. Não tinha mais ninguém para programar viagens que nunca aconteceriam. Não tinha mais respostas para as descobertas que eu fazia em meu corpo adolescente. Não seria “fofolete” nunca mais.

Tempos depois, escrevia cartas para ele, onde falava o que calei aos pais e conhecidos por muito tempo. Parecia que era mentira que ele tivesse morto, e, como ele nunca tinha respondido às cartas anteriores, convenci-me de que ele recebia as atuais. Falava e pensava nele como uma paixão platônica, e tentei reconstruir o amor que sentia por ele, acreditando que um dia estaríamos juntos. Ouvia "nossa música" o dia inteiro, chorando e escrevendo.


E passei a jogar a culpa de qualquer tristeza, de qualquer problema, naquela morte. Dava às dificuldades cotidianas o peso de uma tragédia irreparável, e conseguia nisto uma desculpa para sofrer imensamente e acreditar que era incompreendida. Isto foi amenizando a dor da perda, mas dando proporções absurdas para os tropeços da vida.


Dois anos depois do acidente, me apanhei culpando a morte trágica por uma nota ruim numa prova. Repentinamente, me achei ridícula. Olhei em volta e percebi amigos, colegas, um olhar interessado...

Abri os olhos pro mundo e pude, finalmente, sentir a falta dele. Percebi então que, sim, ele era bonito e inteligente, mas que também era convencido e arrogante, e não poucas vezes mentiu para que eu o amasse, sem nunca ter certeza se ele também queria um final feliz para nós dois.

A partir daí, senti a falta dele com restrições: tinha a foto dele na gaveta, mas não olhava, percebia que ele estava morto, e evitava ouvir a tal música, mas insistia para que todos que se aproximassem de mim soubessem o peso que carregava, o de perder um amor nos tempos áureos da puberdade. Queria que todos soubessem que estava vivendo, mas que deveria continuar pensando nele. Que aceitaria ser feliz, desde que ainda pensasse nele.

E, finalmente, um dia a dor passou. De vez em quando, ainda sou surpreendida por uma lembrança dele, uma palavra, uma piada. Mas não dói. Consegui reconstruir o amor, embora ainda fique assustada toda vez que meu marido demora para chegar em casa. Esta marca, de perder alguém que foi cedo, muito cedo, eu nunca apagarei. Mas a vida segue em frente, mostrando que a grande tristeza da morte é o tanto de vida que foi desperdiçada.

Viverei e aproveitarei a minha com todas as forças, por mim, por ele, e por todos aqueles que não podem mais**.

* Recusa, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação são, segundo uma médica americana, as cinco fases pela qual as pessoas passam quando descobrem-se a beira da morte.

** Ontem faleceu minha tia Thelma, esposa do meu tio Jano. Abraços carinhosos a todos que a conheceram e puderam desfrutar da sua alegre e prazeirosa companhia.

24 de agosto de 2012

Pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia

Olá, amigos.

A seguir vem um texto de ficção que eu escrevi há muito, muito tempo atrás. Ainda gosto dele, e queria compartilhar.


Biblioteca de Alexandria

Não é nada preocupante, ou mesmo perigoso. São apenas pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia.

Como naquela vez que chegou, pelo correio, um cartão da Biblioteca de Alexandria, num envelope pardo, sem remetente, com meu nome escrito à tinta preta, em caligrafia rebuscada e clássica. Nenhum bilhete, explicação, nada. Apenas o cartão, antigo, escrito em grego. Peguei um velho dicionário, e descobri algumas palavras. Não tive ânimo para procurar alguém para traduzir o resto, ou comprovar a autenticidade do documento. Guardei em uma gaveta, com o respectivo envelope, e lá ele ficou até eu me mudar.

Então, eu me deparei com ele de novo. O espírito da mudança me mandava jogar fora aquele pedaço inútil de papel, mas, como a mesa de ping-pong e meu primeiro chinelo, ele foi ficando. Cataloguei-o junto com tudo. Ele foi “Documentos Diversos”, “Bilhetes de Amigos”, “Pendente”, e, no dia em que o achei na pasta de “Contas Pagas”, determinei-me a encontrar o motivo da minha repentina associação à uma biblioteca transformada em ruínas há séculos.

A primeira idéia seria traduzir o resto do misterioso cartão. Como não conheço ninguém que saiba grego o suficiente para ler um cartão de Biblioteca, fui ao Museu da minha cidade. Não, ninguém sabia. Escrevi para o consulado e eles, muito gentis, disseram que eu deveria encaminhar o documento à eles e, em alguns meses, determinariam o texto e o período em que fôra escrito. A estas alturas, o papel já era para mim “valioso e importante”. Com esta justificativa, não mandei. Ele voltou para a gaveta, na pasta de “Encalhes”. Fingi que esqueci dele.

Um dia, minha vizinha me pediu para vê-lo. Não lembro se eu havia comentado com ela o motivo de minhas correspondências com a embaixada, ou se ela descobrira sozinha. Emprestei, já saturado do mistério, pensando seriamente em queimá-lo.

Não foi preciso, já que o cartão nunca voltou às minhas mãos. Se a vizinha enriqueceu com ele, ou se a filhinha dela transformou-o em papel picado, desconheço.

Mas isto, com certeza, não é nada preocupante, ou perigoso. São apenas pequenas coisas, que a gente gostaria de explicar um dia...

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E com você, já aconteceu alguma coisa difícil de explicar? Conte para a gente nos comentários!

23 de agosto de 2012

Post retirado do ar

Olá pessoal.

pessoas que me são muito queridas me pediram para retirar o post "A Maior História de Todos os Tempos" do ar. Pode ser que um dia eu volte com ele, se as pessoas que se sentiram magoadas com ele mudarem de idéia, mas o mais provável é que não.

Em momento nenhum minha idéia era magoar ninguém, pelo contrário. O objetivo deste blog é eu tentar descobrir quem sou, expor algumas idéias que rodam na minha cabeça, discutir com amigos assuntos interessantes.

Assim, retiro o post do ar, e deixo aqui apenas a figura do meu avô, que eu amei demais, como um pedido de desculpas.

Sálvio de Oliveira, meu avô
por Inimá de Paula



21 de agosto de 2012

Meu filho é um sucesso (GUEST POST)


Este é um post escrito por uma grande amiga, a meu convite; ela escreveu um texto ótimo sobre uma idéia incrível. Discutir este texto com ela foi uma experiência muito prazeirosa, uma oportunidade de "tocar piano à quatro mãos", adorei!

Com vocês,  Daniela Lacerda:

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Meu filho já é um sucesso!


Há alguns dias uma amiga querida me mandou um link para um artigo interessantíssimo chamado "Raising Successful Children" ("criando crianças de sucesso"). Num primeiro momento o artigo não me despertou muita curiosidade, pois o termo "successful" usado no título me remeteu a idéia de "sucesso" num contexto que me pareceu demasiado materialista. Ler um texto sobre como criar um "filho de sucesso" dentro das ideias pré-concebidas que o título despertou em mim não era algo que me interessava. Mas, sabendo que a querida amiga não tem um perfil materialista e que tudo o que ela me manda costuma ser interessante, fui ler o artigo. 

Logo no começo, me deparei com a expressão "children who do better academically, psychologically and socially" (crianças que se saem melhor acadêmica, psicológica e socialmente). Só então refleti sobre porque o título do artigo tinha me causado um certo desconforto. O que ficou ainda mais claro quando terminei de ler, gostei e decidi que valia a pena repassá-­lo para várias amigas, inclusive algumas que não lêem em inglês. Ao resolver fazer traduções livres de pequenos trechos, me deparei com a dúvida sobre como traduzir o título "Raising Successful Children" de uma maneira que elas se interessassem em lê-­lo e não tivessem, como eu tive, uma primeira impressão pouco precisa. 

Me parece que em português a palavra "sucesso" está muito ligada à sucesso profissional e/ou acadêmico acompanhado de reconhecimento social. Acabei optando por criar um título em português que englobasse a expressão citada acima: "Criando crianças de sucesso, emocional, social e acadêmico". O que me fez lembrar de uma coluna antiga do Gilberto Dimenstein na Rádio CBN em que ele dizia, contrariado, que ninguém diz que "fulano é um sucesso como filho", ao se referir a um filho atencioso, que tem tempo e disponibilidade para seus pais idosos. Assim como ninguém diz que "cicrana é um sucesso como ser humano" ao se referir, por exemplo, a uma das várias "madres Teresas de Calcutá" que existem no mundo. Eu sei que podemos fazer elogios diferentes a essas pessoas, sem usar a palavra sucesso, mas eu, assim como Dimenstein, adorariamos vê­-la sendo usada em contextos como esses. 

A palavra é forte, bonita e tem personalidade. Não seria ótimo se ela fosse usada sempre que alguém fosse muito bom em alguma coisa, não necessariamente o melhor, apenas muito bom, em qualquer coisa? Afinal, todos somos bons em alguma coisa, não somos? Alguns podem dizer que ser um filho "muito bom" para seus pais, ou ser um pai/mãe "muito bom" para seus filhos não é mais do que uma obrigação, mas não é isso que vemos na vida real. Ser um filho ou um pai ou uma mãe "de sucesso" não é fácil e, como tudo de valor nessa vida, exige uma certa dose de dedicação e esforço... algo que nem todo mundo esta disposto a oferecer. 

E criar filhos de "sucesso emocional, social e acadêmico", é algo com que todos os pais do mundo deveriam se preocupar fazendo o "dever de casa" de pensar, refletir, avaliar, estar Presente (com P maiúsculo pra indicar presença física e emocional), dar exemplo, mudar velhos hábitos, participar, cobrar, impor limites, dar amor de forma constante, clara e incondicional, dar suporte, cobrar as consequências, ensinar a ganhar, ensinar a perder. E isso tudo sem tirar do filho a autonomia de tentar, algumas vezes errando, algumas vezes acertando. (A propósito, é disso que o artigo do começo fala.) 

Aliás, na minha opinião, uma pai ou uma mãe "de sucesso" busca essas coisas o tempo todo, mas está ciente de que algumas, ou muitas vezes, ele próprio, mesmo sendo “um sucesso”, irá cometer erros, inevitáveis em qualquer empreendimento humano. E, com muita sabedoria e alguma sorte, esses erros não irão impedir que nossos filhos sejam pessoas "de sucesso". Eu, com certeza, vou adorar dizer por ai que "Meu filho é um sucesso como filho!" "Meu filho é um sucesso como amigo!" "Meu filho é um sucesso como marido!" "Meu filho é um sucesso como pai!". Mas por agora, já posso encher o peito e dizer "Meu filho já é um sucesso (como filho, entre outras coisas...)!". 

Por Daniela Lacerda
alguém que, se tivesse tempo, 
se meteria a besta no blog da Ana que, 
aliás, é um sucesso!

20 de agosto de 2012

Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais

No sábado, comemoramos o aniversário da minha mãe. O dia começou em um spa, fazendo massagem, comendo chocolate e bebendo champanhe às 11 da manhã. Vida difícil....

À noite, fomos no show da Maria Rita, em homenagem à Elis Regina, junto com meu pai.  Foi um momento emocionante, inesquecível.  Algumas músicas me tocaram profundamente, como "Se eu quiser falar com Deus", "Romaria" e "Como os nossos Pais". Cresci ouvindo Elis por parte de mãe e Pink Floyd por parte de pai, e tive a sorte de ir em dois shows (Maria Rita e Roger Waters) com meus pais, vendo que "nossos ídolos ainda são os mesmos". 

Thalma no show da Maria Rita.


Mas minha mãe fez muito mais do que simplesmente me mostrar coisas boas na vida. Ela é uma das melhores coisas que eu tenho na minha vida. Super talentosa, ela faz quadros que me tocam profundamente, como este que ela usou para a capa do convite de sua mais nova exposição (Estão todos convidados! Vai ser fantástica!).

Convite para a exposição, dia 3 de Setembro de 2012.
(Para conhecer mais do trabalho da Thalma, 
visite a página do Estudio Thalma)

Ouvi Maria Rita durante boa parte do show (chamado "Redescobrir"), contando a experiência de redescobrir quem era a pessoa Elis. Eu imagino que deve ser muito duro viver sem mãe, e agradeço a sorte de poder redescobrir minha mãe todo dia, em seu sorriso, em sua inteligência, em sua forma encantadora de ver a vida, em sua dedicação aos seus quadros com quase o mesmo fervor que dedica aos filhos e netos.

No seu aniversário, mãe, quero para você a felicidade que você sempre trouxe para todos nós, filhas, marido, genros e netos. E uma taça de champanhe, que ninguém é de ferro!

Te amo muito!


Eu, minhas irmãs Luiza e Maria Helena e
minha mãe Thalma. Feliz Aniversário!!!


17 de agosto de 2012

O segundo é sempre mais fácil (?)


Quando estava considerando ter outro filho, ouvia direto a frase "O segundo é bem mais fácil!" de quem já tem dois filhos. Quando nasceu minha segunda, passei a ouvir a mesma frase na forma de pergunta, "o segundo é mais fácil?" dos pais de filhos únicos.

Antes de nascer o segundo, o "clube dos pais de mais de um" quer te convencer que eles tomaram a decisão certa. Para quem está de fora, parece conversa de quem entrou em piscina gelada: "Entra, está ótima!" Aí você entra, a água gela sua alma, e o sujeito ri da sua cara.

E o vigésimo, como será?
Você lembra de como era um pesadelo acordar de madrugada, as viroses, os tombos, as fraldas, e pensa: "Como pode ser mais fácil?!?! Agora, além de tudo, tem outra criança para criar!"

Mas o tempo passa, seu primeiro filho pede irmão o tempo todo, você vê que deu conta razoavelmente, e, contra todas as suas razōes racionais, você quer mais um. E, pra sua surpresa, é mais fácil mesmo.

Pra começar, você já se acostumou com o fato de que dormir mais de 6 horas por noite é um luxo. A mudança inicial, a mais importante, de: seu umbigo ser a coisa mais importante do planeta;  para: você esquecer de lavar seu umbigo todo dia; já aconteceu. Você já vive por conta da sua família, "eu" virou "nós", "quero" virou "temos que". 

E foi difícil acostumar no começo, mas agora você TEM que comemorar dia dos pais, TEM que passear no final de semana, TEM que rir e se divertir com bolas e Barbies; e é uma delícia.

E cuidar de um filho o dia inteiro pode ser exaustivo, mas quando são dois, um complementa o outro. Isso vale para qualquer fase. O nome chique disto é "economia de escala", ou seja, quanto mais coisas iguais você faz, mais barato fica fazer cada uma. Enquanto Alice nada, dou banho de sol na Rosa. Alice olha a Rosa para eu ir no banheiro. Rosa distrai Alice para eu poder falar no telefone. Vejo Barbie enquanto amamento.

E aprendi que tempo para mim, o recurso mais escasso de todos, eu só vou ter se batalhar por ele; independe de quantos filhos são. Vou ter que marcar horário mesmo, me esforçar, mas agora que o complexo de culpa de deixar Alice com outra pessoa é menor, fica mais fácil deixar a Rosa também.

E o bom mesmo é que a gente esquece. Esquece como era difícil, mas esquece também o quanto é legal. Ver a Rosa descobrir suas mãozinhas, dar o primeiro sorriso, foi tão lindo hoje quanto foi ver a Alice fazer isto há seis anos atrás.

E é tudo muito diferente. As personalidades são completamente diferentes, e, se eu quero ser uma boa mãe, tenho que ser uma mãe diferente. Com Rosa sei que não vou ter o entusiasmo de ler todos os livros, testar todas as dicas, mas vou ter a experiência de saber qual choro é fome, e sei trocar fralda de olho fechado.

E a Rosa devia agradecer Alice por ter treinado a mãe dela. E Alice devia agradecer Rosa, por ter me feito uma mãe mais relaxada, pois nada é mais eficiente para curar stress do que saber que não vai dar tempo mesmo.

16 de agosto de 2012

Intercâmbio


Escrevi o texto abaixo em 1995, quando concorri à uma bolsa de intercâmbio na FIAT automóveis.


Intercâmbio

Mesmo partindo, vou levando na bagagem aqueles que amo e amei, na viagem sem volta que é a minha vida.

Junto às meias e camisetas, levo toda uma coleção de primeiros beijos. Não levo todos os suspiros e paixões porque a viagem não é tão longa, e pretendo viajar mais leve.  À bagagem de mão, acrescento a saudade de meus amigos próximos e de minha família, bem ao lado da dúvida se meu namoro vai sobreviver à distância. Pequenos pacotes para levar, grandes volumes para trazer de volta.

Trazer de volta... por mais longe que eu vá jamais sairei daqui. Levo, fisicamente, O Povo Brasileiro, livro de Darcy Ribeiro, mais como carteira de identidade do que como leitura de férias. A idéia de ser uma tupiniquin embarcando no turbilhão europeu ainda me assusta, então tenho no livro a âncora de minha miscigenação, o meu contato com o vernáculo pátrio, antes, o meu orgulho de ser uma brasileira cidadã do mundo.

Aí eu reabro a mala e começo a desfazê-la. Estou à mercê da vontade de outros, e eles me dizem que não vou mais. Por motivos que não me contam, não fui selecionada para a bolsa. Fico.

Tirar meu futuro de dentro da mala é doloroso. Tinha preparado cada cantinho, ajeitado cada detalhe, e parece que os objetos não vão caber de novo no armário. A importância de fatos já quase esquecidos  cai no chão e mistura-se com sonhos de última hora. Aproveito para jogar tudo no lixo. De repente, parece-me absurdo ter pensado em levá-los.

A incerteza do namoro sai da mala sozinha. Pula pelo quarto, não sossega, me acerta duas ou três vezes, até sentar-se na minha cabeça. E fica lá, incomodando.

Termino de guardar os medos e as esperanças na caixa de esqueletos atrás do armário e vou tomar banho e chorar.

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PS: para os curiosos, o namoro acabou mesmo, logo depois.

9 de agosto de 2012

Bipolar, eu?


Depois de ler meus posts neste blog (principalmente este post revoltado  [1], ou este post super feliz [2] e este post do dia dos pais ou  este post sobre padecer no paraíso[4]), já deve ter gente querendo me internar, crente de que eu sofro de transtorno bipolar (antigamente chamado de maníaco-depressivo, este transtorno faz com que a pessoa tenha fases alternadas de alegria extrema/ depressão profunda, excitação e empenho em projetos/ desânimo total).

A vida é boa... 
Afinal de contas, eu acho que meu marido faz parte das tarefas domésticas [3] ou não [1]? Que a maternidade é uma experiência ótima [2], ou uma carga pesada demais [4]? A resposta é que sim, e não.

Toda mulher tem dupla personalidade, e eu não sou diferente. Uma delas ama meu marido, a outra se irrita profundamente com as manias dele. Uma adora ser mãe tempo integral, a outra almeja grandes conquistas profissionais. Uma corta o cabelo curto, a outra arrepende. Uma adora beterraba, a outra odeia.

Afinal, é muito difícil decidir estes grandes temas de uma  vez por todas: sou feliz? O que eu quero da minha vida? Eu gosto de beterraba?

... ou não?
Algumas coisas pedem uma revisitação diária, e tem dias melhores que outros. No dia que perdi o emprego que sempre desejei (pela segunda vez), poque estava grávida (pela segunda vez), a idéia de ser mãe em tempo integral parecia a única solução; pior, parecia uma desistência de algo que eu jamais conseguiria de qualquer jeito, e, por isto, era dolorosa e me fazia infeliz. No dia que ganhei uma promoção, e minhas filhas adoraram a escola, e cheguei em casa para um jantar que meu marido tinha preparado, me senti poderosa e livre, capaz de qualquer coisa.

A vida, cheia de pequenas verdades, pode nos fazer bipolares. Alguns de nós reagem à média, vivem uma semi-felicidade (ou infelicidade), variando pouco no dia a dia, abalados apenas nas grandes tristezas ou alegrias. Outros, como eu, sobem e descem ao gosto do momento. Amando as pequenas conquistas, sofrendo horrores com as pequenas tragédias. Tentando ver um sentido maior no todo, mas sabendo que a graça de viver tem que ser conquistada diariamente.

Não dá para querer um lado só, a alegria sem medida ao dançar, sem o choro compulsivo ao quebrar o iPad. Mas eu não gostaria de ser diferente, pois é isto que me faz ser quem sou. 

Ou talvez, pensando bem, gostaria...

Dia dos pais


Está chegando o dia dos pais, e eu gostaria de fazer uma homenagem à dois deles: meu pai Luiz, e meu marido e pai das minhas filhas, Juliano. De formas distintas, estes homens incríveis desafiaram os papéis pré-concebidos que lhe foram impostos, e se tornaram entre outras coisas, pais maravilhosos.

Meu marido Juliano, meu pai Luiz,
e meu cunhado Jorge (que também é um ótimo pai!)


Começo com meu pai. Como pode ser visto aqui, meu pai rejeitou a idéia prevalente do seu tempo de que dinheiro era felicidade, e que o sucesso era medido pelo preço do carro que dirigia. Ao invés disto, resolveu lutar por causas nobres, como a igualdade de direitos, a distribuição de renda e o meio ambiente (em uma época em que falar disto era criminoso, não moda). Ensinou às três filhas mulheres que o lugar delas era na cozinha, nas grandes empresas, na medicina, na faculdade e onde mais elas quisessem. Nos esclareceu sobre sexo, deu conselhos sobre namoro, mostrou livros e filmes que fizeram nossa cabeça, nos ensinou muito. Como avô, reserva seus dias para estar conosco, ou como médico para seus pacientes, para quem também tem sido um pai. Acolhedor, atencioso, inteligente, é a ele que recorremos quando precisamos de conselhos, ajuda, carinho. Ainda hoje luta pelo que é certo, desde se engajar em campanhas para diminuir a estereotipização (tá certo isso?) das mulhereres até apoio aos portadores de neurofibromatose. Um exemplo, uma ótima companhia, um sujeito divertido, esse é meu pai.

Sob as bênçãos dele, me casei com Juliano, pai de nossas duas filhas, Alice e Rosa. Juliano é completamente diferente. Calado, meio tímido, também desafiou o que o futuro queria para ele. Vindo de uma família humilde e sem estudos, conquistou diploma, outra língua, clientes no brasil e no exterior, respeito e admiração de seus pares, uma vida cheia de confortos para nossa família. Mas ele se destaca por outro motivo: Juliano é um pai maravilhoso! Presente, carinhoso, seja brincando de pega, trocando fraldas ou acordando de noite, ele sente e  demonstra um amor que eu vejo muito raramente. A emancipação feminina trouxe a dupla, às vezes tripla, jornada de trabalho para as mulheres. Comigo  isto também aconteceu, mas eu e Juliano temos 2,5 jornada de trabalho, pois ele chega em casa e assume a casa e as crianças também. Apesar de todas as brincadeiras (sem graça) de amigos, ele troca todas as fraldas, faz mamadeira, põe para dormir, dá banho nas meninas, e acha bom! E eu acho bom também, pois estamos, no final do dia, exaustos juntos.

Neste dia dos Pais, eu queria que todos os pais do mundo fossem como estes dois. Tenho certeza de que teríamos um mundo muito, muito melhor.

2 de agosto de 2012

Aproveita, que essa é a melhor fase

Aproveita, que essa é a melhor fase. Escutei muito esta frase quando Alice, hoje com seis anos, era um bebezinho. Eu sorria, simpática, mas não compreendia. 

Aquela criatura que chorava por horas aparentemente sem motivo, fazia 50 cocôs por dia, acordava de 3 em 3 horas durante a noite, e nem sorria, era a melhor parte?!?! O que eu devia então esperar dos próximos anos? Infelicidade permanente?

Mas o tempo passou, e Alice cresceu inteligente, engraçada, linda. A cada nova fase, eu me maravilhava; as primeiras palavras (papá, mamã e picanha!); os primeiros passos, caindo de bunda; a aula de capoeira com apenas dois anos; correndo no parque chutando bola com o pai com três; me perguntando porque de tudo com quatro; achando que sabe tudo com cinco; e, agora, aos 6 anos, lendo tudo.

A cada aniversário, eu me perguntava: é agora que a fase boa acaba? E cada fase seguinte era mais linda do que a anterior. E continua sendo.

E então, nasceu a Rosa. Há 5 meses estou novamente lidando com cocô, acordar de madrugada, choro. Mas, desta vez eu entendo que preciso aproveitar esta fase,sim. Preciso aproveitar cada sorriso, cada mamada, cada dobrinha. Da mesma forma que aproveitei com a Alice, e continuo aproveitando cada vez que Alice lê "queijo coelho" (ao invés de coalho).

Aproveita, que essa fase, que começa no dia que você vira mãe e não termina nunca, é a melhor fase.

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...