19 de setembro de 2012

Gravidez não é doença. Ou é?

Durante minhas duas gravidezes, escutei com frequência a frase "Gravidez não é doença." O que eu sempre respondia era:
- Tem prevenção? Tem (camisinha, pílula, diafragma).
- Tem sintomas? Tem (enjôo, cansaço, hormônios alterados).
- Tem cura? Tem (cirurgia de parto normal ou cesárea).
- Então é doença sim!

(Como diz a Fernanda Jacques, é uma DST - doença sexualmente transmissível... )

Meio que um mantra atual, esta frase foi criada para poder contrabalancear a atitude anterior, de que mulher grávida não podia trabalhar, fazer sexo ou caminhar. Bemvinda, portanto. Mas hoje em dia, ninguém mais impede a grávida de trabalhar. Aliás, de trabalhar, de fazer compra de supermercado, de ficar em pé horas por dia, de carregar peso e dormir tarde, de se alimentar mal.

Tudo isso enfrentando diversas dificuldades para dormir bem, e ficando mais distraídas. Se sentem mal, seja por enjôo, seja por cansaço, seja pelo peso da barriga. E isso tudo é em uma gravidez normal, sem risco. Cheguei a bolar a piada abaixo:


Brincadeiras a parte, comentei com meu pai que é médico que gravidez devia, sim, ser tratada como doença, com direito à licença maternidade a partir do primeiro enjôo.

Tivemos uma conversa muito legal, onde ele me respondeu que essa não é a solução, que com isto entregamos a responsabilidade para um médico, que deverá assinar um atestado. Que estaremos colocando a mulher em uma posição de vulnerável, que não é boa para ninguém.

A questão maior não é a da gravidez, é a do trabalho. O homem, mesmo doente, também é compelido a trabalhar, para não perder a promoção, a comissão, às vezes o emprego. Em países onde os direitos trabalhistas avançaram mais, as pessoas têm direito à "dias doença", onde ela simplesmente fica em casa descansando, sem necessitar de atestado médico. Aqui, a pessoa vai trabalhar gripada, e contamina todo mundo em volta.

Ao mesmo tempo, nos países onde não há um incentivo brutal para as mulheres engravidarem, mas a competição do mercado é acirrada, as taxas de natalidade têm caído bruscamente. As mulheres sabem que a gravidez vai interferir com a carreira, e optam pela segunda.

Temos que começar a encarar a gravidez, não como doença, mas como um bem social. Estamos cultivando dentro de nós a próxima geração de cidadãos. Que, se bem nutridos e educados, serão a maior riqueza que pode existir. Da mesma forma, temos que encarar a criação dos filhos como profissão valorizada, que hoje é geralmente feita em meio período pela escola, e em meio período por mulheres capazes que desistem de suas carreiras ou pessoas com formação insuficiente (babás).

Precisamos de um novo modelo, onde a gravidez seja vista como um momento em que a mulher precisa de horários especiais, de tempo para descanso, e de menos carga de trabalho. E a mesma coisa para a primeira infância das crianças. Isto deveria constar no currículo e ser motivo de orgulho para todas as profissionais.

8 comentários:

  1. Olá, cheguei até aqui pelo link do Padecendo no Paraíso.
    Adorei seu texto, eu parei de trabalhar antes de engravidar, e estou até hoje cudando da minha filha de 2 anos. Grávidas e bebês deveriam ter um cuidado especila da sociedade com certeza.
    bjs

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    1. Obrigada, Andrea! Que bom que gostou do texto! Tem vários outros sobre maternidade, como http://se-eu-tivesse-tempo.blogspot.com.br/2012/07/sindrome-da-mae-trancada-em-casa.html, http://se-eu-tivesse-tempo.blogspot.com.br/2012/09/doenca-de-crianca-o-resumo.html e muitos outros. Bem vinda!

      Precisamos nos organizar para isto mesmo! Acho que o papel da família precisa voltar a ser de apoio, e recuperar as amizades com os vizinhos, para começar.

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  2. Concordo, gravidez é um bem social! :)
    Devíamos ter horários especiais e infra-estrutura especial (a minha cadeira do escritório tá me matando...). O cansaço é realmente intenso, especialmente se a mulher já tem filho(s).
    A carreira em si, às vezes, nem é o mais importante. Em geral, nós não podemos mesmo perder ou largar os empregos, que pagam o aluguel e a escola do mais velho e contamos com a renda da licença maternidade...

    (só uma dúvida, lá no começo, cirurgia de parto normal??? o que é isso??? kkkk)

    Beijos!
    Lulu

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    1. Nossa, o cansaço da segunda gravidez é o pior de todos... A questão econômica é um caso à parte mesmo. Eu tenho a sorte de não viver isso na pele, mas lembro da sua primeira gravidez, quando você era a principal fonte de renda da sua família, e foi pedreira! Parabéns, guerreira! :) Beijos! Ana

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    2. Parto normal tem anestesia? Tem corte? Tem recuperação? Então é cirurgia!! hahahah

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    3. Tá maluca?? Parto normal pode até ser feito em casa! (adicionando nitroglicerina à polêmica...). E PODE ter anestesia, mas não é necessário sempre... PODE precisar de corte, mas é a minoria... E a recuperação foi mais ou menos a mesma que eu precisei depois de correr no Fila Night Run (mas acho que depois do Fila Night Run eu fiquei mais dias com dor na perna...). ENTAO, não é cirurgia, cabeção!! :)

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    4. O problema é que se eu apago agora, estes comentarios ficam sem sentido... E eu gosto de comentarios!!! :)) entao fica a retratacao aqui: nao existe cirurgia de parto normal!!! :))

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  3. Ei Ana!!! Amei este blog... Sobre "Gravidez não é doença" tenho que comentar!! rsrs... Como sabe estou no oitavo mês de gravidez e digo: a gravidez não é doença mas para mim é um caminhão com percurso definido e prazo de 40 semanas, que pega algumas doenças pelo caminho... ora desembarca uma embarca outras e sempre trás muitos sintomas dentro. No geral, não houve um dia da minha segunda gravidez que eu fiquei com menos de 2 "doenças" e ainda assim cuidando da casa, do outro filho, do marido e trabalhando fora como arquiteta de obra, rodando entre 3 obras diferentes e o escritório. As "doenças" que tive (e ainda estou tendo) são: rinite gestacional (o tempo todo), anemia (o tempo todo), sinusite (5 vezes = 7 vezes tomando antibióticos), gripe (2 vezes), dor nas costas, dor nas pernas, dor na barriga, dor de ouvido, dor de garganta (2 vezes), enjoo, asia, cansaço, insônia, crise de choro (2 vezes), obesidade (pelo menos a sensação), pagofagia (é isto mesmo! significa mania de comer gelo)... E por último, a mais intrigante delas, a loucura, pois somente estando louca para passar tudo isto por opção e ainda assim estar feliz! :)

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