17 de agosto de 2012

O segundo é sempre mais fácil (?)


Quando estava considerando ter outro filho, ouvia direto a frase "O segundo é bem mais fácil!" de quem já tem dois filhos. Quando nasceu minha segunda, passei a ouvir a mesma frase na forma de pergunta, "o segundo é mais fácil?" dos pais de filhos únicos.

Antes de nascer o segundo, o "clube dos pais de mais de um" quer te convencer que eles tomaram a decisão certa. Para quem está de fora, parece conversa de quem entrou em piscina gelada: "Entra, está ótima!" Aí você entra, a água gela sua alma, e o sujeito ri da sua cara.

E o vigésimo, como será?
Você lembra de como era um pesadelo acordar de madrugada, as viroses, os tombos, as fraldas, e pensa: "Como pode ser mais fácil?!?! Agora, além de tudo, tem outra criança para criar!"

Mas o tempo passa, seu primeiro filho pede irmão o tempo todo, você vê que deu conta razoavelmente, e, contra todas as suas razōes racionais, você quer mais um. E, pra sua surpresa, é mais fácil mesmo.

Pra começar, você já se acostumou com o fato de que dormir mais de 6 horas por noite é um luxo. A mudança inicial, a mais importante, de: seu umbigo ser a coisa mais importante do planeta;  para: você esquecer de lavar seu umbigo todo dia; já aconteceu. Você já vive por conta da sua família, "eu" virou "nós", "quero" virou "temos que". 

E foi difícil acostumar no começo, mas agora você TEM que comemorar dia dos pais, TEM que passear no final de semana, TEM que rir e se divertir com bolas e Barbies; e é uma delícia.

E cuidar de um filho o dia inteiro pode ser exaustivo, mas quando são dois, um complementa o outro. Isso vale para qualquer fase. O nome chique disto é "economia de escala", ou seja, quanto mais coisas iguais você faz, mais barato fica fazer cada uma. Enquanto Alice nada, dou banho de sol na Rosa. Alice olha a Rosa para eu ir no banheiro. Rosa distrai Alice para eu poder falar no telefone. Vejo Barbie enquanto amamento.

E aprendi que tempo para mim, o recurso mais escasso de todos, eu só vou ter se batalhar por ele; independe de quantos filhos são. Vou ter que marcar horário mesmo, me esforçar, mas agora que o complexo de culpa de deixar Alice com outra pessoa é menor, fica mais fácil deixar a Rosa também.

E o bom mesmo é que a gente esquece. Esquece como era difícil, mas esquece também o quanto é legal. Ver a Rosa descobrir suas mãozinhas, dar o primeiro sorriso, foi tão lindo hoje quanto foi ver a Alice fazer isto há seis anos atrás.

E é tudo muito diferente. As personalidades são completamente diferentes, e, se eu quero ser uma boa mãe, tenho que ser uma mãe diferente. Com Rosa sei que não vou ter o entusiasmo de ler todos os livros, testar todas as dicas, mas vou ter a experiência de saber qual choro é fome, e sei trocar fralda de olho fechado.

E a Rosa devia agradecer Alice por ter treinado a mãe dela. E Alice devia agradecer Rosa, por ter me feito uma mãe mais relaxada, pois nada é mais eficiente para curar stress do que saber que não vai dar tempo mesmo.

9 comentários:

  1. O conceito de "economia de escala" me lembrou uma prima do meu marido que dizia: "ter dois filhos da mais trabalho que um, mas nao e' o dobro do trabalho nao!" Lembro que quando o #2 comecou a sentar no chao e brincar (fase que esta quase chegando pra voce) eu dizia que com o #1 tinha que ficar inventando brincadeiras de bebe, enquanto o #2 se distrai so de ver o #1 brincar. E e' verdade! Isso pode ajudar naquelas fases em que ficam meio enjoados para comer: o #1 pode ser uma grande distracao. Mas... agora estou numa fase engracada: o #1 teve um upgrade de ciume ja que o #2 esta cheio de gracinhas novas e, por outro lado, ate o #2 ja esta aprendendo a ter ciumes e assim que o #1 sobe no meu colo ele vem feito um curisco ocupar o lugar dele... A noite, sozinha com os dois, depois de ter passado o dia fora, tem horas que a gente nao tem tempo de tomar um copo d'agua. E aquela musica do Erasmo fica pipocando na minha cabeca: "...o outro ja reclama sua mao, e o outro quer o amor que ela tiver, 'quatro' homens dependentes e carentes, da forca da mulher (no meu caso 2 ou 3, se o marido entra na jogada)". E com a baba? Como ficam dois? Melhor do que com a mae, segundo depoimento da propria, afinal, todo mundo sabe que filho perto de mae e' outra historia... Beijos!

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    1. O ciúme da Alice começou a aparecer agora. Ela quer colo, abraça a gente, um grude total. Com a empregada eu não tive muita experiência ainda, porque eu estava em casa de licença até recentemente. E agora coloquei as duas na escolinha/berçário. Assim elas não disputam atenção! :) Mas ficar totalmente sozinha com as duas tem hora que é pedreira mesmo. Mas muito menos do que eu esperava...

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  2. Nossa fiquei até emocionada!!!! É tudo isso mesmo!!! Com o segundo é verdadeiramente mais fácil, porque a gente tá mais relaxada!!! A gente curte mais!!! Lindo!!!

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  3. Eu nunca imaginei ter um segundo filho, talvez pelo fato de ser filha única e não saber o que é ter um irmão..mas será que seria bom para minha pequena Luiza? O que me preocupa é o mundo em que vivemos e como é difícil sustentarmos uma criança nos dias de hoje com uma educação boa e oportunidades...penso...será que terei condições para isso?? Quando seria a melhor hora?? Lendo o seu texto, dá ate vontade de ter outro( e olha que minha filha tem 1 ano e 2 meses)...

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    1. Fiquei emocionada com seu comentário Alda! Eu também achava que a Alice ia ser filha única. Mas, com o tempo, o fato do amor de irmão ser uma experiência tão legal acabou me fazendo mudar de idéia. Hoje sei que fiz a coisa certa! Boa sorte na sua decisão!

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  4. Oi,
    Ainda nao te conheço, mas adorei o que voce escreveu. Também sou mãe de duas meninas e é EXATAMENTE assim.
    Parabéns pela leveza com que voce escreve, descrevendo fatos cotidianos de forma extremamente interessante.
    abs,
    Andreia Moraes

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    1. Oi, Andreia! Que bom que você gostou do post! Obrigada pelos elogios, volte sempre, tem post novo umas três vezes por semana!
      Abraços,
      Ana

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