17 de julho de 2012

Síndrome da Mãe Trancada em Casa

Muito pouco divulgada, mas conhecida de toda mãe, a "Síndrome da Mãe Trancada em Casa" (SMTC) caracteriza-se pela vontade irresistível de contar sua vida inteira para o primeiro adulto que você encontra.

Síndrome da Mãe Trancada em Casa (SMTC)


Ficar trancada em casa com um bebê, na rotina fralda-mamadeira-arrumação-banho-repete enlouquece qualquer criatura, por mais sã que ela fosse inicialmente. A oportunidade de ter uma conversa "de verdade" é rara, então, quando aparece, a vítima da SMTC dispara.

Já encontrei muitas mães (já fui e sou uma delas) com SMTC. Quando minha filha Rosa teve Coqueluche, tive um caso gravíssimo de SMTC, pois ela não podia sair de casa, e só mamava no peito. Minhas crises incluíram contar todos os detalhes da doença dela para a moça do caixa de supermercado; quantas horas ela dormiu sem tossir para a atendente na farmácia; discutir em detalhes o ganho de peso dela com o síndico no elevador. Qualquer adulto que passasse a menos de 5 metros de mim tinha que receber um relatório completo de quantas vezes ela mamou, fez cocô ou quantas horas dormiu.

Mas nunca tinha visto um homem com SMTC (SPTC?); até recentemente. Estava indo na Baby (loja de roupa de?...) à pé, levando minha filha Rosa (3 meses) no canguru, quando um completo estranho me abordou, dizendo: "Tenho um canguru igual à este para o minha filho." Eu sorri, e disse: "É mesmo?". Foi a abertura que ele precisava para deslanchar.

Ele também estava indo para a loja, e fomos caminhando juntos. Em dois, repito, DOIS quarteirões, fiquei sabendo que: ele é restaurador de obras de arte, a mulher dele é professora; o filhinho deles tem 2 meses; ele estava indo comprar lençóis para o berço porque o menino fazia muito xixi à noite; o mercado de restauração é muito melhor em São Paulo do que aqui, porque, embora em Minas existam muitas obras, o dinheiro para investir é bem menor; ele que fica com o bebê em casa porque trabalha por empreitada, enquanto a mulher tem horários mais rígidos. E mais uns duzentos detalhes da vida dele e do bebê.

Durante o tempo em que ele falava, sem parar, eu me solidarizava com o que ele sentia. É muito difícil dedicar-se a uma criatura sem dividir. É muito difícil, para quem se acostumou a ter conversas com retorno, passar o dia inteiro praticamente calado, ou falando: "Cadê o bebê? Olha o dedinho... Vamos trocar a fralda?". O cérebro parece que entra em abstinência, você fica seco por uma conversa madura, ou, que, pelo menos, não seja dita em vozinha fina.

Então, em nome de todos os afligidos, peço desculpas aos civis (principalmente os sem filhos), e peço sua simpatia e ajuda. Quando encontrar alguma pessoa com SMTC, sorria, escute o que ela diz (pode demorar um pouco), fale da última fofoca, e lhe dê um abraço. Esta pessoa está muito, muito solitária, e você pode fazer a diferença.

E você, já teve seu momento SMTC? Conte para nós nos comentários!

PS: Se você quiser saber quando eu posto um novo texto, inscreva-se no site, colocando seu e-mail na caixinha ao lado e clicando em "Submit". :)

10 comentários:

  1. Comovente e bem humorado. Por isso inventaram as praças públicas, talvez?

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    1. Hoje que eu vi seu comentario!!! :)) As praças públicas e os blogs!!! ;))

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  2. Oi Ana! Estou aqui morrendo de rir e me identificando totalmente com o seu texto. Contratei uma babá a alguns dias, já que volto a trabalhar daqui um mês e ela já sabe de 90% da minha vida. Falo na cabeça dela o dia inteiro! Depois que ela chegou, me sinto bem mais "normal", não só porque agora posso me dedicar a outros afazeres pessoais que não seja cuidar do Henrique e das coisas dele, mas principalmente porque tenho alguém que entende o que eu estou falando, com quem conversar durante o dia. Parabéns pelo texto e que ele seja bem divulgado pra mais pessoas nos entendam e sejam compreensivas conosco. Um abraço

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    1. Oi, Cynthia! Hoje q vi seu comentário, me desculpe!! O motivo é o famoso "não tive tempo de olhar, estava cuidando das crianças"!!! Pois é, babá ajuda mesmo a aliviar esta pressao! Despois de um tempo, conhecer outras mães na mesma situaçao tambem ajuda! Bem vinda ao blog!

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  3. Excelente texto! Saudades de você, sô! :)

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    1. Ai, ai... Se eu tivesse tempo, marcava um jantar para nossas familias encontrarem ... :))

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  4. Nunca tinha reparado nisso, mas agora vou ficar atenta, bom para exercitar a caridade....rsrs

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  5. Então... Eu tenho a síndrome da pessoa que mudou de cidade e ficou trancada em casa. haha

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    1. O pior é a bipolaridade: apesar de estar de saco cheio de ficar em casa, dá uma preguiiiiça de sair de casa tb... hehehehe

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