26 de julho de 2012

Hitler também tinha mãe

Ser uma boa mãe é muito difícil atualmente.

Não quero dizer que antigamente era mais fácil (basta lembrar que não existiam fraldas descartáveis), mas atualmente é muito tenso, dada a quantidade de regras, riscos, teorias. Acaba se tornando impossível para qualquer mortal seguir todas as recomendações.

Participei de um encontro de mães, onde a palestrante disse com todas as letras: "Nossa responsabilidade é muito grande; se vocês pensarem bem, Hitler também teve mãe." Fiquei chocada, imaginando se ela achava que a mãe do Hitler, coitada, era a única culpada pelas atrocidades do filho. Desprezando o momento histórico, a personalidade do próprio, os fatores culturais.

Tem horas que a gente se sente bem assim: ou fazemos tudo absolutamente certo, ou as consequências serão terríveis. O bebê tem que dormir de barriga para cima, ou irá morrer de síndrome da morte súbita do infante. A cadeirinha do carro tem que ser a aprovada pelo Inmetro, com protetor lateral para a cabeça, mais a almofadinha de pescoço, mais o espelhinho para não tirarmos o olho do bebê. A mamadeira com sistema anti-refluxo deve ser dada inclinada, para não dar cólicas no bebê, nem ele vomitar, pois pode aspirar e ter pneumonia. As roupinhas não podem ter laço maior do que 10cm, nem botões nas costas, nem elástico de nenhum tipo, devem ser de algodão para não atacar a dermatite atópica. Os brinquedos não devem ter peças pequenas, ou partes soltas, nem o antigo apito existe mais, por causa do risco da criança sufocar.

Tintas, parquinhos, brinquedos, tudo deve ser atóxico, lavado com sabonete anti-bactéria e desinfetado com álcool gel. E a gente não relaxa. A qualquer momento, o erro fatal pode transformar aquele bebezinho fofo em... bom, vocês sabem quem.

Vocês sabem quem...

Eu não estou dizendo que a gente não devia prestar atenção à segurança de nossas crianças. Cadeirinhas de carro salvam milhares de vidas no mundo inteiro. Vacinas e redes nas janelas são fundamentais para evitar catástrofes com nossas crianças.

Mas ser uma boa mãe não devia ser julgado pelo fato de que sua casa está coberta de protetores de quina de mesa, e que seu filho usa joelheiras para engatinhar. Pequenos e médios acidentes vão acontecer, e as histórias deles farão parte de quem seu filho será.

Aprender a pular do sofá para o chão vai ser fundamental para criar nele a auto-estima para um dia subir o Pico da Bandeira. Brincar na areia da pracinha (mesmo com os cocôs de cachorro e xixi de gato de rua) vai ajudar o sistema imunológico dele a desenvolver defesas. Deixar seu filho na casa de outra pessoa sem a lista de coisas que ele come pode fazer com que ele experimente novidades. Aliás, deixar seu filho na casa de outra pessoa; coisa cada vez mais difícil de acontecer, por causa de todas as restrições que achamos que nossos filhos precisam para estarem seguros.

Viver, como diria Guimarães Rosa, é muito perigoso. Mas é o único jeito de viver de verdade. Vamos ser mais mãe e menos polícia, dar mais carinho e ouvir menos conselhos, ler menos revistas sobre Pais & Filhos, e mais histórias em quadrinhos.

Não existe regra para ser feliz.

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