Uma onda de troca-troca de domésticas está em curso em Belo Horizonte (é onde eu moro, se você também está vendo este fenômeno na sua cidade, nos conte nos comentários!).
Não identifiquei a causa ainda, mas tenho alguns suspeitos: a novela onde as Empreguetes pedem demissão em busca de vida melhor; a melhora de vida das classes C e D; o aumento do número de empregos devido ao crescimento econômico.
Não me entenda mal, acho isto tudo ótimo (tá, a novela nem tanto). Sempre acreditei que todos merecem uma vida digna, e me incomoda profundamente a herança escravocata que a doméstica carrega no nosso país.
E assim, a minha doméstica pediu demissão em troca de um emprego onde ia ganhar mais e trabalhar menos. Até aí, disse a ela, boa sorte, seja feliz, e tratei de arrumar outra dentro do aviso prévio dela. Tudo trivial, exceto... O que eu senti. E, conversando com amigas, vi que não era a única.
Passei pelas 5 fases do Luto: raiva, recusa, negociação, depressão e aceitação.
Na época que ela pediu demissão, minha bebê estava com coqueluche, minha mais velha com amigdalite, eu tinha um evento da empresa para 200 pessoas na semana seguinte, e eu também estava doente. Me senti com muita raiva, traída, abandonada.
Meus pensamentos eram: "Mas o que foi que eu fiz para merecer isto? Ela nem me deu chance de conversarmos para tentar resolver... Eu achei que estava tudo bem, eu gostava tanto dela!"
Sim, parece familiar, porque a verdade é que eu tinha tomado um fora da minha empregada. Depois de um ótimo relacionamento de 11 meses, ela me trocava por outra. No sábado em que ela foi fazer um teste no novo emprego, passei o dia ouvindo e cantando "She's not me" da Madonna, torcendo para não dar certo.
She's not me, (ela não sou eu)
She doesn't have my name, (ela não tem meu nome)
She doesn't have what I have, (ela não tem o que eu tenho)
It won't be the same. (não vai ser a mesma coisa)
-- She' not me , Madonna, disco Hard Candy
A fase seguinte, todos sabemos, é a da recusa. Comecei a achar que não tinha outro emprego, que ela só queria aumento. Entrei de sola na negociação: "E se a gente reduzisse seus horários? E se ela cozinhasse dia sim, dia não?"
Mas ela estava irredutível. Não era eu, era com ela. Ela precisava de espaço para saber o que queria fazer da vida. E ela se foi.
Passei para a depressão. Mesmo depois que a outra já estava aqui em casa, à noite eu reclamava, "quero ela de volta"... Tudo que a nova fazia, eu comparava com a antiga. Nada estava bom, não era "do jeito dela".
Mas o tempo é o melhor remédio. Mais algumas semanas e já estava me acostumando com a idéia de que viveria sem ela, bem. Comecei a reparar como a nova era atenciosa, cuidadosa. Como ficou do meu lado no momento que eu precisei. Mas não ia deixar acontecer de novo, me protegi, fiquei distante.
E então, recebi uma mensagem no celular. A ex, perguntando como eu estava, que gostava muito de nós, que sentia saudades. O que aquilo queria dizer?? Ela queria voltar? A nova patroa sabia que ela me mandava esta mensagem? Eu poderia confiar nela de novo?
Fiquei um final de semana cogitando opções, inclusive a louca possibilidade de ficar com as duas. Mas não tinha jeito, elas não iam se dar bem nunca! Eram muito difentes. E, entre as duas, para minha surpresa, eu preferia a nova. Sem querer, aos poucos, eu já gostava dela. Não tinha a experiência da antiga, mas era confiável, gostava de mim, e eu estava feliz com ela.
Na segunda, ela me ligou, dizendo que não tinha dado certo no novo emprego. Se eu sabia de alguém que precisava dela. Falei que, se soubesse, avisaria. Desejei de novo que fosse feliz, desta vez, sinceramente.
Tinha terminado, finalmente, nosso relacionamento.
Ana,
ResponderExcluira minha pior experiência foi a primeira vez. Para variar eu estava apaixonada. Ela era tão boa!!! Cozinhava tão bem! Coisa de profissional mesmo. Arrumava a mesa que era uma beleza. Tinha lá seus defeitos, mas quem não tem?! Bebia, mas era só não ter bebida em casa ou trancar, naquela época não havia as crianças. Até que mentiu, mentira grave e teve que ser mandada embora. Pelo Ronaldo porque eu estava sofrendo de paixão. E agora como iria viver sem ela?
Arrumei uma melhor que a outra. Pessoas certas nas horas certas. Moram no meu coração. Mantenho contato até hoje, até no Face. Sou grata a todas.
Aprendi que é um trabalho. E, que se uma vai embora pode vir uma melhor ainda.
E a vantagem é que no interior as coisas estão melhores que na capital.
Oi, Idene! Adorei seu comentario! Morri de rir com a "primeira vez". Eu também pedi para o Ju mandar a minha primeira empregada embora, tambem nao tive coragem sozinha! O Ju fala isso, que é uma relação de trabalho, que eu nao devia me envolver, mas é difícil demais, a pessoa tá na sua casa, cuidando das suas coisas, ajudando com seus filhos, não tem jeito de ser só uma relação profissional. Começa uma agência de exportação aí, inha filha, que você fica rica!! :)))
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ResponderExcluirA lição que tiro disso tudo é que, no fim, elas acabam nos ensinando a viver sem elas. No ínicio, dependendo menos, tendo-as por perto menos horas por dia, depois, menos dias por semana... até que a gente se livra das drog, oopps, das empregadas, secretárias, profissionais (?) enfim.
ResponderExcluirE nossas crianças? O pivô disso tudo? Aprendi que devemos ensiná-las a serem independentes (delas e de nós - aí o coração parte...), valorizar a inteligência emocional (que um professor disse que não existe, mas vá lá), a capacidade de se relacionarem (bem) em lugares e com pessoas distintas. E viva a heterogeneidade!!
Com bebês? Impossível ficar sem elas... Fazer o que? Sou dependente (das babás) e assumo!
Oi, Ruth. Concordo plenamente. Em países onde a pobreza não é tão grande, empregada não existe, como na Europa. Em compensação, as pessoas estão tendo cada vez menos filhos. O que a gente vai precisar fazer é mudar nossa sociedade, para que a estrutura ajude as pessoas a viver sem este serviço, com terceirização de lavar roupa, comida, de qualidade e barata. Por enquanto, continuo equilibrando trabalhar, cuidar da casa e das crianças, como eu sei que você também.
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