A seguir vem um texto de ficção que eu escrevi há muito, muito tempo atrás. Ainda gosto dele, e queria compartilhar.
Não é nada preocupante, ou mesmo perigoso. São apenas
pequenas coisas que a gente gostaria de explicar um dia.
Como naquela vez que chegou, pelo correio, um cartão da
Biblioteca de Alexandria, num envelope pardo, sem remetente, com meu nome
escrito à tinta preta, em caligrafia rebuscada e clássica. Nenhum bilhete,
explicação, nada. Apenas o cartão, antigo, escrito em grego. Peguei um velho
dicionário, e descobri algumas palavras. Não tive ânimo para procurar alguém
para traduzir o resto, ou comprovar a autenticidade do documento. Guardei em
uma gaveta, com o respectivo envelope, e lá ele ficou até eu me mudar.
A primeira idéia seria traduzir o resto do misterioso
cartão. Como não conheço ninguém que saiba grego o suficiente para ler um
cartão de Biblioteca, fui ao Museu da minha cidade. Não, ninguém sabia. Escrevi
para o consulado e eles, muito gentis, disseram que eu deveria encaminhar o
documento à eles e, em alguns meses, determinariam o texto e o período em que
fôra escrito. A estas alturas, o papel já era para mim “valioso e importante”.
Com esta justificativa, não mandei. Ele voltou para a gaveta, na pasta de
“Encalhes”. Fingi que esqueci dele.
Um dia, minha vizinha me pediu para vê-lo. Não lembro se
eu havia comentado com ela o motivo de minhas correspondências com a embaixada,
ou se ela descobrira sozinha. Emprestei, já saturado do mistério, pensando
seriamente em queimá-lo.
Não foi preciso, já que o cartão nunca voltou às minhas
mãos. Se a vizinha enriqueceu com ele, ou se a filhinha dela transformou-o em
papel picado, desconheço.
Mas isto, com certeza, não é nada preocupante, ou
perigoso. São apenas pequenas coisas, que a gente gostaria de explicar um
dia...
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E com você, já aconteceu alguma coisa difícil de explicar? Conte para a gente nos comentários!
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