17 de setembro de 2012

Preto no branco: vamos falar de sexo

Estou lendo "Cinquenta tons de Cinza", o primeiro livro da trilogia de E. L. James (os outros dois são "Cinquenta tons mais escuros" e "Cinquenta tons de liberdade"), que se tornou uma febre mundial, com mais de quarenta milhões de cópias vendidas, batendo sucessos como Harry Potter.

O público alvo, porém, é bem diferente de Harry Potter. Chamado de "pornô para mamães", aparentemente o livro explicita relações sexuais sadomasoquistas. Escrevo aparentemente porque não cheguei lá ainda, estou no começo do livro.

O que eu queria falar aqui é sobre o que já li (não se preocupe, não vou contar detalhes). Reclamam que o livro é mal escrito, e realmente não é nenhuma obra prima. Mas Christian Grey (gray = cinza), o personagem masculino principal, já vale o livro.

Eu também quero ser um galã!
Nas últimas décadas, os personagens masculinos da grande mídia perderam seu espaço de príncipe encantado que salva a mocinha (demonizado pelo movimento feminista) e vêm se tornando patetas cômicos e desajeitados, estilo Homer Simpson dos "Simpsons", Dino pai da "Família Dinossauro" ou Al Bundy do "Married With Children".

Mesmo nos desenhos animados, o Príncipe Valente se tornou o nojento Shrek ou um ladrão bandido (o príncipe de Enrolados, Aladin).

Christian Grey não. Ele é um novo modelo de homem. Ele é seguro, confiante, até arrogante. Mas, ao contrário do príncipe tradicional, é cheio de contradições. Quer ficar com a mocinha (Anastasia), mas sabe que seu desejo sexual não é casto e puro. Apenas um selinho na boca para acordar a princesa não será suficiente.

E isso, para mim, explica o sucesso que o livro tem feito com a minha faixa etária. As mulheres que lêem livros, pelo menos no Brasil, correspondem à mulheres de renda média para alta, que provavelmente tem uma carreira, que tem filhos, mas esta não é sua principal ocupação, e que tem um companheiro que divide as responsabilidades com ela. E, preto no branco, elas querem sexo. Mas com quem?

Sexo lacrado, Spa tantrico, jogo das
 fantasis proibidas e mais um monte de coisas
que você TEM que fazer...
O homem que salva a mocinha indefesa não cola mais; ninguém quer ser indefesa. O pateta atrapalhado também não é material para cama. Os homens, coitados, ficaram perdidos no meio do caminho. Deve abrir a porta para ela ou é machismo? Paga a conta toda ou oferece para dividir? Se ela ganha mais, quem paga o motel? E é no sexo que a coisa pega. Com tanta regra, e zona erógena, e técnicas de orgasmo, haja performance para ser mais ou menos. Basta pegar a capa de uma revista feminina qualquer para ver o quão intimidante anda fazer sexo hoje em dia.

Christian Grey não faz este estilo. Ele sabe do que gosta, e conta para Anastasia. Se ela topar, bem. Senão, amém. De uma forma estranha, isso é muito mais sexy do que a negociação "do que você gosta?" Como diria Santo Agostinho*: "As pessoas não sabem o que querem, se soubessem, seriam felizes para sempre." O processo de descoberta do que funciona para o casal é o que existe de mais sensual em uma relação.

Espero que estejamos vendo uma nova era chegando. Onde os homens recuperem sua auto-estima perdida com Homer e consigam expressar suas vontades novamente, sem precisar que as mulheres percam seu espaço, tão duramente conquistado, de dizer não. Mas, melhor ainda, que ambos possam dizer sim à estas novas possibilidades.

Como a antiga piada: O Masoquista e o Sádico se encontram:
- Masoquista: Me bate!
- Sádico: Não!

E você, já leu o livro? O que achou?

* Esta deve ser a primeira vez que Santo Agostinho é citado em um contexto de sexo sadomasoquista...

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