15 de setembro de 2012

Doença de Criança, o Resumo

Alice hoje amanheceu com febre. Toda vez que isto acontece, já me imagino no pediatra, ouvindo a lista dos "ites": "otite", "sinusite", "laringite", "rinite", "dermatite".

Sendo neta, filha, irmã e cunhada de médicos, eu acabo ouvindo eles conversando sobre os pacientes, e seus diagnósticos (sem identificar ninguém, lógico). E aprendendo um pouco.

As pessoas talvez não saibam, mas este final "ite" quer dizer "inflamação". Ou seja, uma sinusite é a inflamação do sinus, que é uma parte do nariz. Otite é a inflamação do ouvido, e por aí vai.

Da mesma forma, quando eu chego no médico e digo que minha filha está com dor de ouvido, e ele, depois de uma consulta (de 5 minutos em geral, 15 minutos se for a consulta mensal, 30 minutos se for amigo da família) "diagnostica" que ela está com "otite", eu tenho vontade de dizer: "Eu não te disse isso há 30 minutos atrás?"

Aí, quando eu pergunto o por quê da otite, a explicação é a dupla virose/infecção bacteriana, geralmente  acompanhadas de "que está rodando Belo Horizonte". Se passar rápido é uma virose, não tem o que fazer. Senão, é a outra, e tome antibiótico. Nos primeiros anos de Alice eu já queria comprar antibiótico no galão, porquê era TODO mês, quando não era duas vezes por mês.

A ideia de ter receita para comprar antibiótico é louvável, porque conheço muitas mães que se encheram desta peregrinação (conseguir horário com pediatra é um caso à parte) e davam antibiótico no primeiro sinal de febre.

Defendendo o outro lado, não é culpa dos médicos. Aliás, em termos de medicina, nunca estivemos tão bem. Vocês tem ideia de quanto o plano de vocês paga um médico por uma consulta de 30 minutos? Não deve dar 20 reais. E na maioria das vezes, é só uma virose que está rodando Belo Horizonte mesmo, e não tem o que fazer. Então, por que é tão difícil aceitar que não tem mais nada pra fazer?

Porque somos bombardeadas com a responsabilidade de sermos super-mães, e controlar tudo. Controlar cada grão de poeira que nossos filhos respiram. Porque menino ramelento era o comum na nossa infância, hoje é sinal de mãe desleixada. É questão de vida ou morte descobrir se foram os bichos de pelúcia, ou o tapete, ou a cortina que causou a dermatite atópica (dermatite = pele inflamada, atópica = sem causa, ou seja, pereba sem motivo). Porque criança doente interfere com a apresentação do balé, o treino da natação, o projeto da escola e as festinhas de aniversário que custam milhares de reais (literalmente). Deixar nossos filhos de molho o dia inteiro vendo NetFlix (como a minha está neste momento) dói no nosso coração. E o estímulo neurológico? E as mensagens impróprias? O que EU fiz de errado para ela estar doente.

Não fizemos nada de errado. Como diria Guimarães Rosa, "viver é muito perigoso". Nossos filhos vão ficar doentes, centenas de vezes até poderem medir e tomar o próprio Paracetamol. Não precisamos de médicos melhores. Precisamos de uma vida que permita que a doença exista, admitir que ninguém vai ser saudável o tempo todo, e que, às vezes, sentar do lado da sua filha doente e acariciar os cabelos dela é o melhor remédio.

3 comentários:

  1. Muitas vezes é o melhor remédio mesmo!!! :)

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  2. Ana, acho que descobri onde achei teu blog, deve ter sido do grupo Padecendo no Paraíso, pois tb moro em BH.
    Escrevi um post ontem sobre a Alice (tenho uma Alice tb) ter ficado doente no final de semana, passa lá:
    http://mamaevintequatrohoras.blogspot.com.br/2012/09/sendo-mae-e-aprendendo.html

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