22 de janeiro de 2013

MacLanche Infeliz

Quem é o responsável por fazer esta placa?
Faço parte de um grupo de discussão na lista da Liga Humanista Secular , onde um dos tópicos da semana foi se o Governador Geraldo Alkmin deveria sancionar uma lei que se propõe a combater a obesidade infantil através de:
- proibir a venda de alimentos com brinde ou brinquedos; e
- proibir a publicidade de alimentos não saudáveis em rádios e TVs das 6h às 21h, e também em qualquer horário dentro de escolas públicas e privadas.

Como em toda discussão na internet, logo surgiram dois grupos opostos. Um achando que o estado não tem o direito de interferir no direito do cidadão de comer porcaria, que o dever de cuidar disto é dos pais. O outro lado acha que o estado tem sim que proteger as crianças, inclusive dos pais, se necessário.

Segue uma parte dos comentários:
Leandro:
"Que tal uma lei obrigando que as crianças façam no mínimo 2 horas de atividade física por dia, já que o sedentarismo é uma dos aliados da má alimentação no caso da obesidade? Mais até. Que tal uma lei que obrigue os pais a instalarem nos video-games, celulares e computadores um sensor que permita ao governo controlar quanto tempo seu filho utiliza estes aparelhos, já que eles, aliados à má alimentação e ao sedentarismo, são as principais causas da epidemia de obesidade infantil? Posso estender esta lista até... Já que os pais não conseguem cuidar dos próprios filhos, que deixemos que o Estado o faça!" 


Eli:
"Fácil dizer quando não é você tentando educar uma criança enquanto a TV deseduca."


Leandro:
"Em geral existe um botão bem interessante no controle remoto das televisões parecido com este: http://en.wikipedia.org/wiki/File:IEC5009_Standby_Symbol.svg
E é muito útil.
Existe também uma palavra bastante interessante que algumas vezes os pais devem dizer aos filhos: "não". Geralmente ela vem em maiúsculo, tipo "NÃO". Funcionou comigo. Geralmente era seguido com "pode", como em "não pode" ou, mais frequentemente com "tenho dinheiro pra comprar isso", como em "não tenho dinheiro pra comprar isso".
Outras vezes pode ser substituído por "nem", tipo em "nem inventa".
E meu vício em chocolate não está nenhum pouco relacionado à este trauma.
Não me leve a mal, estou sendo visivelmente irônico. De forma séria, acho horrível estas iniciativas de colocar na mão do Estado o que é função dos responsáveis pelas crianças.
E sim, já assisti a boa parte dos documentários sobre consumismo infantil. Mas creio que não seja 10% dos disponíveis, por isso não me importo com a indicação de outros." 


Alexandre:
"Leandro, pelo amor de deus... Comparar essa lei com uma tentativa do Estado educar as crianças no lugar dos pais é completamente ridículo.
Pais e mães estão em desvantagem permanente frente a publicidade. E publicidade NÃO se resume a TV, a publicidade é onipresente. Não é tão simples quanto "desligar a TV". E mesmo "desligar a TV" não é tão simples quanto parece - às vezes a meia hora em que o filho assiste a um programa de TV são os únicos 30 minutos que os pais têm de sossego no dia inteiro.
Esse negócio de colocar brinquedos em lanches atrai crianças como mel atrai abelhas, e isso atrapalha, e muito, pais que tentam alimentar seus filhos de maneira saudável enquanto o filho pede McLanche Feliz incessantemente.
Não sei por que tanto medo de regulamentar esse tipo de coisa. Propagandas de cigarro, por exemplo, são limitadíssimas por regulamentação, mesmo para adultos. Por que seria pior regulamentar outros tipos de publicidade e jogadas de marketing igualmente nocivos?"


Leandro :
"Até hoje não sei se concordo com a proibição das propagandas de cigarro na televisão, nem daquelas nos maços. Não fumo, não bebo, mas não vejo com bons olhos alguém querendo decidir por mim o que posso ou não assistir ou consumir, quando isto afeta única e exclusivamente a minha vida e meu corpo.
A culpa da obesidade das crianças é única e exclusivamente culpa dos pais. Pais que quase sempre têm uma alimentação tão horrível quanto seus filhos. Ah, legal! Vamos então proibir a veiculação de propagandas sobre alimentos que fazem mal à saúde dos adultos também! Já viu pais que possuem bons hábitos alimentares (ou ao menos hábitos não tão ruins) e ensinam tais hábitos às crianças terem filhos obesos? Provavelmente há, mas creio que tais casos sejam exceção.
Se seu filho pede incessantemente um MacLanche Feliz, diga não. Ele vai chorar, espernear, mas isto tudo é chantagem emocional. Ele sobreviverá até os 18 ao menos.
E, analisando o fato de que a TV está influenciando tanto na saúde das crianças me leva a pensar uma coisa: pra isso acontecer, a televisão deve exercer um papel mais ativo do que qualquer outra coisa na vida delas. E, olhando para o mundo real, quantos são os pais que simplesmente "largam" os filhos na frente da televisão, para que eles não encham o saco ou porque os pais têm algo mais importante a ser feito (trabalhar). Quantos destes pais incentivam os filhos a outros tipos de atividades? Pedalar na rua (não pode, é perigoso, tem carro, tem traficante, tem...), ler livros ou mesmo atividades criativas, tais como desenhar, atividades manuais, etc? Não dá, já que os próprios pais provavelmente não tem tais hábitos. E, já que não conseguem educar os próprios filhos, deixam que a escola ou outro agente externo o faça."


Bom, aí eu decidi entrar na discussão:
"Sou mãe de duas meninas, 6 anos e 10 meses.
Nenhuma das duas toma refrigerante, come MacDonalds ou porcaria doce durante a semana.
Sabem por quê? Porque eu meu marido decidimos que eu trabalharia só meio horário, para que eu pudesse estar com elas.
Mas sabe quantas mães PODEM fazer isto? Pouquíssimas. E sabe o que isso fez com minha carreira (até então super bem encaminhada): estagnação, retrocesso.
Entao vamos parar de culpar pais em geral. A esmagadora maioria dos pais quer o melhor para seus filhos, e estão tentando com todas as forças, o melhor que conseguem.
Leis permitem que essas pessoas tenham referências. Pessoas com pouca formação acham que dar MacDonalds para o filho é "dar para o filho um luxo que eu nunca tive", e não uma escolha errada. Veja a questão de bater nas crianças: eu abomino a idéia de bater nas minhas filhas, mas tenho amigas que realmente acham que ao dar a "palmada educativa" estão fazendo o melhor para o futuro dos filhos, os ajudando a crescer e desenvolver. Mas a lei veio, e elas tiveram que se perguntar, será que eu estou certa??
A televisão educa seus filhos porque pai e mãe estao trabalhando para pagar o inglês e a natação, para que os filhos tenham chance de "ser alguém". Fora a escola e a saúde, que deviam ser direito de todos e obrigação do estado e que consome boa parte do salário dos pais.
Então, empatia é bom, e todo mundo gosta, e respostas simples que culpam o caráter dos envolvidos (pais relaxados e incompetentes) ao invés da estrutura total (falta de valorização do trabalho doméstico de quem cuida das crianças; falta de estrutura de creches, escola e saúde para quem precisa trabalhar; falta de informação e cultura das populações carentes, pressão da indústria de alimentos, entre outras) são mais fáceis de engolir, e de esbravejar, mas são geralmente incompletas." 
 


Com isto, a discussão se encerrou, o que eu achei uma pena, pois acho que este assunto rende muito mais idéias. Mais no campo da proposta (tá, o problema é o ambiente, como mudá-lo, então), do que no da culpa (pais, estado, MacDonalds?).
  
Dias depois, assisti o excelente documentário "Muito Além do Peso" (disponível na íntegra gratuitamente), que discute várias destas questões de maneira mais detalhada e com mais informações.

Por fim, meu marido trouxe uma idéia que eu acho ainda mais pertinente do que todas as discussões anteriores: "As crianças não são propriedade dos pais, são cidadãs brasileiras. Por isso, o estado tem a OBRIGAÇÃO de fazer leis para protegê-las, independentemente do quão bom é o trabalho dos pais."

E você, o que acha deste assunto? Deixe sua opinião nos comentários!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Última Guerra

 O último mês viu o nascimento do ChatGPT . Pela primeira vez, um programa de computador é capaz de responder à perguntas como um ser humano...