27 de agosto de 2014

Sem cafeína - Dias Um e Dois

Resolvi cortar a cafeína da minha vida... tem 48 horas que eu não tomo meus cinco a seis espressos diários.

Até antes de ontem, minha rotina começava com dois expressos, logo que eu levanto, para acordar. Lá pelas 10:00h, mais um, porque a manhã está começando a ficar entediante. Depois do almoço, mais um, para substituir a sobremesa. Os dois últimos eu tinha que espremer entre o almoço e as três da tarde, senão já sabia: insônia.

O caminho da perdição.
1) Zanzibar
Mas não era assim. Até eu fazer 30 anos, era raro eu tomar café. Teve uma época que gostava muito de Coca Light (aproximadamente 35mg de cafeína por copo x 4 = 140mg/dia), mas não chegava nem perto dos níveis de cafeína que tomo hoje (aproximadamente 60mg de cafeína cada x 5 = 300mg/dia). Então eu casei com um homem que adora café.

2) Espresso Roma com moedor
Fomos comprando primeiro a Zanzibar, depois a cafeteira espresso Roma com moedor de grãos, depois uma cafeteira maluca que nunca conseguimos tomar café sem pó misturado, voltamos para a Roma.

3) Café francês (french press).
Nunca deu certo...
Então eu fiquei grávida. A coisa que eu mais sentia falta era o café. Eu sei que no Brasil é pouco comum as mulheres pararem de beber café quando ficam grávidas, mas internacionalmente isto é um consenso. Isso acontece porque aqui a gente bebe bem menos café durante o dia, e porque a consciência da alimentação saudável é muito pouco difundida. O recomendado é, como quase tudo, moderação. Mas eu não conseguiria moderar. Passar de seis para dois por dia era pedir para tomar os seis. Abstinência era menos doloroso.

Durante as duas gravidezes, fiquei sem café. Comia chocolate como uma doida (tem um pouco de cafeína, e teobromina, que engana). Só de sentir o cheiro do café no hálito do meu marido, eu salivava.

No dia que parei de amamentar, tomei dois espressos seguidos. Por fim, sucumbimos ao poder do demônio, e compramos uma Nespresso.  E mais uma para o escritório. E uma para a casa da minha irmã. E uma para a casa dos meus pais. E eu já não tomava café na rua, voltava correndo para casa para tomar meu espresso favorito. Meus espressos. Eu estava livre novamente.
4) Nespresso. O começo do fim.
Mas, será?

Nunca tive tanto sono como depois que tive minhas filhas. Ok, eu tive duas filhas (noites em claro, fraldas, cuidado constante). Mas eu acordava cansada. Irritada a maior parte do tempo. Com uma sensação permanente de que o perigo estava do meu lado, que eu estava atrasada, que estava esquecendo algo (geralmente estava). Para relaxar, eu tomava mais um café.

Depois de alguns anos neste esquema, comecei a ficar deprimida. Durante o dia aquela excitação nervosa, inquieta, preocupada. Cerca de 8 horas depois do último café, às 11 da noite, eu ficava triste, sem ânimo, chorando à toa. Alguns episódios de depressão moderada, sem vontade de fazer nada, só chorar até dormir. Cansaço, eu pensava. Problemas na vida, no amor, no trabalho, eu desconsiderava.

Então um dia me deu um estalo: será que tem ligação entre cafeína e depressão? Comecei a pesquisar. Tem referência para os dois lados: tem gente que jura que cafeína melhora a disposição e evita depressão e risco de suicídio em mulheres. Por outro lado, tem gente que já até escreveu livro sobre como cafeína provoca depressão ("Caffeine Blues"). Que a cafeína tem efeitos sobre nosso cérebro é inegável, senão ninguém tomava café "para acordar". Outro consenso é que existem diferentes graus de sensibilidade à cafeína, controlados geneticamente. Tem gente que pode tomar uma garrafa e ir dormir, tem gente que fica acordado a noite inteira com um cafezinho.

Não quero levantar teorias aqui sobre como a malvada indústria nos engana e nos vicia. Mas, no meu caso, que sou super sensível à cafeína, a imensa quantidade de café que eu tomava com certeza estava alterando meu estado mental. Como e quanto é que eu quero descobrir. Por isto, este experimento.

No primeiro dia, foi surreal. Dormi bem cedo no dia anterior, às 21h (já sem café desde as 15h). Sonhei muito, algo que não acontecia há muito tempo. Acordei às 6 da manha, e levei as meninas na escola. Voltei para casa... e dormi. Profundamente. Sonhando muito novamente. Até as 11 da manhã!!! Acordei, obviamente, bem descansada. Esperava dor de cabeça, mal humor, nada apareceu. Passei o dia com uma sensação estranha, de que as horas estavam looooongaaaaaassss. Sem aquela correria interna, uma pressa sem motivo, uma irritação permanente.

Como eu queria ver o debate dos candidatos à presidente na TV, fui dormir mega tarde (1 da manhã). Ter dormido até as 11 ajudou também. Novamente, acordei às 6, escola das meninas, e fui trabalhar. Pensei: Sem café, dormindo só 5 horas?  Agora eu vou ficar morta.

Impressionantemente, que nada. Trabalhei por quase 10 horas seguidas, fazendo relatórios, pegando as meninas na escola, cuidando delas porque a empregada foi embora mais cedo sem me avisar, resolvendo um monte de coisas. E são apenas 10 da noite, e eu não estou exausta. Para ser sincera, nem cansada.

Por isto, resolvi ficar sem cafeína por um ano e acompanhar esta experiência no blog. Sei que o café não é o único causador de stress na minha vida (quem dera!). Mas ele, para mim, pelo jeito não ajuda. Se mais alguém quiser tentar comigo, me manda os relatos, que eu vou publicar também.

E agora, eu vou dormir um sono tranquilo. Boa noite.

PS 1: Se você acha que eu estou exagerando, e não precisava cortar o café, faça um exercício mental. Troque as palavras "café" e "espresso" no texto por "cachaça", ou "cocaína", e me diga se eu não tenho um problema.

PS2: Chequei muito menos meu celular hoje também... sei porque a bateria durou o dia inteiro, o que nunca acontece... interessante efeito colateral.

PS3: Normalmente, sinto muitas dores no corpo. Vou checar se elas melhoram também. Hoje está em um nível bem razoável. Presente, mas fraca.

Um comentário:

  1. Ana, como sempre você arrasa! Ótimo texto! Nunca fui e nem sou bebedora de café mas concordo com suas colocações. Boa sorte com sua experiência, espero que sua vida melhore sem esse hábito. Bjs e boa semana!

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